Aula de Filosofia 2º Ano - Ensino Médio Manhã, Tarde e Noite.
ORGULHO E VAIDADE
Entre os defeitos ou vícios, o que mais comumente se
manifesta entre os humanos, são o orgulho e a vaidade. Busquemos conhecê-los,
tão profundamente quanto possível, sem mascarar os impulsos dentro de nós
mesmos. A tolerância começa de nós para nós mesmos. O nosso processo interior é
lento e não podemos nos maldizer ou martirizar pelos defeitos que ainda temos.
Procuramos aqui trazer as manifestações impulsivas que nos dominam de certo
modo e que desejamos controlar.
ORGULHO
"O orgulho é a fonte de todas as fraquezas, por que é a
fonte de todos os vícios".
Santo
Agostinho
As principais reações e características do tipo
predominantemente orgulhoso são:
a) Amor-próprio
muito acentuado: contraria-se por pequenos motivos;
b) Reage
explosivamente a quaisquer observações ou críticas de outrem em relação ao seu
comportamento;
c) Necessita ser o
centro de atenções e fazer prevalecer sempre as suas próprias idéias;
d) Não aceita a
possibilidade de seus erros, mantendo-se num estado de consciência fechado ao
diálogo construtivo;
e) Menospreza as
idéias do próximo;
f) Ao ser
elogiado por qualquer motivo, enche-se de uma satisfação presunçosa, como que
se reafirmado na sua importância à sua posição social e ao prestígio pessoal;
g) Preocupa-se
muito com sua aparência exterior, seus
gestos são estuados, dá demasiada importância à sua posição social e ao
prestígio pessoal;
h) Acha que todos
os seus circundantes (familiares e amigos) devem girar em torno de si;
i) Não admite se
humilhar diante de ninguém, achando essa atitude um traço de fraqueza e falta
de personalidade;
j) Usa de ironia
e do deboche para com o próximo nas ocasiões de contendas.
Compreendemos que o orgulho vive numa atmosfera ilusória de
destaque social ou intelectual, criando assim, barreiras muito densas para
penetrar na realidade do seu próprio interior. Na maioria dos casos, o orgulho
é um mecanismo de defesa para encobrir algum aspecto não aceito de ordem
familiar, limitações da sua formação escolar educacional, ou mesmo o resultado
do seu próprio posicionamento diante da sociedade da imagem que escolheu para
si mesmo, do papel que deseja desempenhar na vida de “status”.É preferível nos
olharmos de frente, corajosamente e lutarmos por nossa melhora, não naquilo que
a sociedade estabeleceu dentro dos limites transitórios dos bens materiais, mas
nas aquisições interiores: os tesouros eternos que a “traça não come nem a
ferrugem corroi”.
VAIDADE
"A bajulação é a moeda falsa que só circula por causa
da vaidade humana."
François de La Rochefoucauld
A vaidade é decorrente do orgulho e dela anda próxima.
Destacamos adiante as suas facetas mais comuns:
a)
Apresentação pessoal exuberante (no vestir, nos
adornos usados, nos gestos afetados, no falar demasiado);
b)
Esforço em realçar dotes físicos, culturais ou
sociais com notória antipatia provocada aos demais;
c)
Intolerância para com aqueles cuja condição
intelectual ou social é mais humilde, não evitando referências desairosas.
d)
Aspiração
a cargos ou posições de destaque que acentuem as referências respeitosas ou
elogiosas à sua pessoa;
e)
Não reconhecimento de sua própria culpabilidade
nas situações de descontentamento diante de infortúnios por que passa;
f)
Obstrução mental na capacidade de se
autoanalisar, não aceitando suas possíveis falhas ou erros, culpando vagamente
a sorte, a infelicidade imerecida, o azar.
A vaidade, sorrateiramente, está quase sempre presente
dentro de nós. É muito sutil a manifestação da vaidade no nosso íntimo e não
são pequenos os esforços que devemos desenvolver na vigilância, para não sermos
vítimas deste defeito.
O vaidoso é, muitas vezes sem perceber e vive desempenhando
um personagem que escolheu. No seu íntimo é diferente daquele que aparenta e, de
alguma forma, essa dualidade lhe causa conflitos, pois sofre com tudo isso,
sente necessidade de encontrar-se a si, embora às vezes sem saber como.
Vamos terminar com um texto de Fernando Pessoa:
O Orgulho e a Vaidade
O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio
mérito, a vaidade, a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso
próprio mérito para com os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso,
pode ser ambas as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser também — pois tal é a
natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil a primeira vista,
compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os
outros, sem a consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse
racional, não haveria explicação alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma
vida exterior e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na evolução
da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser
exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a
vaidade em ação.
Fernando Pessoa, in "Da Literatura Européia"
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