A autora de origem judia,
perseguida pelo regime de Adolf Hitler, construiu uma obra fundamental para a
compreensão da política e da condição humana.
Hannah Arendt não gostava muito de ser tratada como
filósofa, preferindo a denominação de cientista política. Da mesma forma,
costumava referir-se a seus textos como "de teoria" ou simplesmente
"escritos", não lhe satisfazendo igualmente a classificação de
"filosofia política". Em virtude de suas abalizadas análises políticas,
ela recebeu importantes distinções como o Prêmio Lessing de 1959 e o Sonning de
1975, este concedido pela Universidade de Copenhague, uma tradicional
instituição de ensino dinamarquesa fundada em 1479. Arendt foi agraciada em
reconhecimento ao seu mérito em favor do desenvolvimento da cultura europeia.
Entre os ganhadores do Prêmio Sonning, concedido a cada dois anos, figuram os
nomes da filósofa húngara Ágnes Heller, do filósofo e sociólogo alemão Jürgen
Habermas, do cineasta sueco Ingmar Bergman, do dramaturgo italiano Dario Fo e da
filósofa, teórica do feminismo e escritora francesa Simone de Beauvoir.
O pluralismo político era um dos conceitos básicos
pregados por Hannah Arendt, na vigência do qual a igualdade política e a
liberdade se manifestariam naturalmente entre as pessoas, com tolerância e
respeito às diferenças, numa perspectiva de inclusão. Agentes com disposição e
capacidade específica devem ter atuação prática em leis, convênios e acordos de
natureza política. Em consequência desse tipo de ideia, ela privilegiava a
democracia direta ou um sistema de conselhos em detrimento de formas de democracia
representativa, em relação às quais adotava uma postura claramente crítica.
Algumas Ideias de Hannah Arendt (trechos
selecionados)
"A esperança que inspirou Marx e os melhores
homens dos diversos movimentos operários - a esperança de que o tempo livre
eventualmente emancipará os homens da necessidade (...) - repousa sobre a
ilusão de uma filosofia mecanicista que assume que a força despendida no
trabalho, como qualquer outra, nunca se perde, de modo que, se ela não for
gasta e exaurida no trabalho duro de ganhar a vida, ela automaticamente
alimentará outras e 'mais elevadas ' atividades. O modelo que guiou a esperança
de Marx quanto a isso foi sem dúvida a Atenas de Péricles, a qual, no futuro,
com a ajuda do enorme aumento da produtividade do trabalho humano, não mais
precisaria de escravos para se sustentar e, assim, poderia tornar-se real idade
para todos. Cem anos depois de Marx, sabemos da falácia do seu raciocínio; o
tempo livre do animal laborans (animal trabalhador) nunca é gasto em nada a não
ser no consumo e, quanto mais tempo ele adquire, mais gananciosos e vorazes se
tornam seus apetites."
Apesar de, ao longo de sua vida, ter sido avessa ao
rótulo de "filósofa", Arendt segue sendo estudada como filósofa
influente, em decorrência também de suas discussões críticas de pensadores
clássicos da Filosofia, tais como Platão, Aristóteles, Sócrates e Santo
Agostinho, sem falar em importantes representantes da filosofia moderna, como
Immanuel Kant, a Martin Heidegger, Nicolau
Maquiavel, Charles de Montesquieu e Karl Jaspers. Foi precisamente devido a sua
independência de pensamento, seus estudos no campo da filosofia existencial,
sua abrangente teoria sobre o surgimento do totalitarismo e sua decidida
atuação em favor da liberdade no âmbito da discussão política, que Arendt
assegurou a posição central que ocupa nos debates contemporâneos.
Quem foi Hannah Arendt
Nascida em Hannover, na Alemanha, em 14 de outubro
de 1906, de origem judaica, foi batizada como Johanna Arendt. Tendo perdido o
pai com sete anos incompletos, mostrou-se precoce ao tentar consolar sua mãe,
Martha Arendt: "Pense - isso acontece com muitas mulheres", teria
dito a menina, para espanto da viúva. Recebeu da mãe, que tinha simpatia por
ideias da social-democracia, uma educação marcadamente liberal. Ainda na
adolescência, teve contato com a obra de Kant. Aos dezessete anos, abandonou a
escola por questões disciplinares. Transferiu-se para Berlim, onde estudou
teologia e a filosofia do dinamarquês Soren Kierkegaard. Em 1924, passou a
frequentar a universidade de Marburg. Ali permaneceu um ano, durante o qual
assistiu aulas de Filosofia com Martin Heidegger - com quem manteve, em
seguida, um relacionamento amoroso complicado - e Nicolai Hartmann; teologia
protestante com Rudolf Bultmann; e grego. Arendt formou-se em Filosofia em
Heidelberg.
Em 1929, época da recessão mundial provocada pela
quebra da Bolsa de Nova York, Arendt mudou se para Berlim, com uma bolsa de
estudos. Com a ascensão do nazismo ao poder, em 1933, ela foi para a capital
francesa, onde conheceu grandes intelectuais, a exemplo do filósofo e escritor
Walter Benjamin. Na ocasião, trabalhou como secretária da baronesa Rotschild,
de uma tradicional família de banqueiros.
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o
governo da França cooperou com os invasores alemães, a judia Hannah foi mandada
a um campo de concentração, como "estrangeira suspeita". Todavia,
conseguiu fugir para Nova York, aonde chegou em 1941.
Exilada e apátrida (perdeu a nacionalidade alemã),
permaneceu dez anos sem direitos políticos, obtendo a cidadania estadunidense
em 1951. Nos Estados Unidos, Hannah trabalhou em várias organizações judaicas e
editoras, como a Schoken Books, tendo escrito também para o periódico Weekly
Aufba. Naquele país, ela desenvolveu efetivamente sua carreira acadêmica,
contratada em 1963 pela Universidade de Chicago. No ano seguinte, entraria para
a American Academy of Arts and Letters. Em Chicago, Arendt foi professora até
1967, quando se transferiu para Nova York, dando aulas na New School of Social
Research. Faleceu em 4 de dezembro de 1975.
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