AULA DE FILOSOFIA 2º ANO - E.M. - RESUMÃO
Filosofia Contemporânea:
Fenomenologia, Existencialismo
O mundo em que vivemos,
das telecomunicações, da internet, dos programas espaciais, da física quântica,
ou da medicina de alta tecnologia parece não ter lugar para a filosofia. Onde
está a filosofia? O filósofo Bertrand Russel pensou nessa questão:
A filosofia, como todos
os outros estudos, visa em primeiro lugar ao conhecimento. O conhecimento a que
ela aspira é o tipo de conhecimento que dá unidade e sistematiza o corpo das
ciências, e que resulta de um exame crítico dos fundamentos de nossas
convicções, preconceitos e crenças.
Bertrand Russell, Os
problemas da filosofia
Isso mesmo. Essa é uma
das definições de filosofia: ela é uma disciplina que estuda os fundamentos de
nossas convicções. No entanto, enquanto as ciências estabelecem um corpo sólido
de conhecimentos e verdades a partir do qual passam a se desenvolver, a
filosofia não alcança os mesmos resultados. Ela não dá respostas definitivas a
nenhuma questão. E agora? O próprio Bertrand Russel matou a charada:
Isto se deve em parte
ao fato de que, assim que o conhecimento definitivo a respeito de qualquer
assunto torna-se possível, esse assunto deixa de ser chamado de filosofia, e
torna-se uma ciência independente. O estudo total dos céus, que agora pertence
à astronomia, foi um dia incluído na filosofia; a grande obra de Newton
chamava-se ‘princípios matemáticos de filosofia natural’. Do mesmo modo, o
estudo da mente humana, que fazia parte da filosofia, agora foi separado da
filosofia e tornou-se a ciência da psicologia. Assim, em grande medida, a
incerteza da filosofia é mais aparente que real: as questões que são capazes de
ter respostas definitivas são abrigadas nas ciências, enquanto aquelas para as
quais, até o presente, não podem ser dadas respostas definitivas, continuam a
formar o resíduo que é chamado de filosofia.
Estamos mergulhados num
mundo que não cessa de colocar novas questões para a filosofia. Por isso mesmo,
não é fácil reconhecer o que é a filosofia contemporânea. Estamos perto demais.
Percebemos a filosofia do passado com mais clareza e mais coesão do que
percebemos a filosofia que se faz hoje.
Mas vamos lá! Chamamos
de filosofia contemporânea aquela que teve início no século 19, atravessou o
século 20 e chegou até os dias de hoje.
A filosofia
contemporânea fundamenta-se em alguns conceitos que foram elaborados no século
19. Um desses conceitos é o conceito de história, que foi formulado pelo
filósofo G.W.F. Hegel. A filosofia de Hegel relaciona-se com as ideias de
totalidade e de processo. Passamos a entender o homem como um ser histórico,
assim como a sociedade.
Uma das consequências
dessa percepção é a ideia de progresso. O filósofo Auguste Comte foi um dos
principais teóricos a pensar essa questão. Tanto a razão quanto o saber
científico caminham na direção do desenvolvimento do homem (o lema da bandeira
brasileira, ordem e progresso, é inspirado nas ideias de Comte).
As utopias políticas
elaboradas no século 19, como o anarquismo, o socialismo e o comunismo, também
devem muito à ideia de desenvolvimento e progresso, como caminho para uma
sociedade justa e feliz.
Progresso descontínuo
A ideia de que a história
fosse um movimento contínuo e progressivo em direção ao aperfeiçoamento sofreu
duras restrições durante o século 20.
No século 20, porém,
formou-se a noção de que o progresso é descontínuo, isto é, não se faz por
etapas sucessivas. Desse modo, a história universal não é um conjunto de várias
civilizações em etapas diferentes de desenvolvimento. Cada sociedade tem sua
própria história. Cada cultura tem seus próprios valores.
Essa visão de mundo
possibilitou o desenvolvimento de várias ciências como a etnologia, a antropologia
e as ciências sociais.
Ciência e técnica
A confiança no saber
científico foi outra das atitudes filosóficas que se desenvolveram no século
19. Essa atitude implica que a natureza pode ser controlada pela ciência e pela
técnica. Mas não apenas isso, o desenvolvimento da ciência e da técnica passa a
ser capaz de levar ao progresso vários aspectos da vida humana. Surgiram
disciplinas como a psicologia, a sociologia e a pedagogia.
No século 20, a
filosofia passou a colocar em cheque o alcance desses conhecimentos. Essas
ciências podem não conseguir abranger a totalidade dos fenômenos que estudam. E
também muitas vezes não conseguem fundamentar e validar suas próprias
descobertas.
O triunfo da razão
A ideia de que a razão,
ciência e o conhecimento são capazes de dar conta de todos os aspectos da vida
humana também foi pensada criticamente por dois grandes filósofos: Karl Marx e
Sigmund Freud.
No campo político, Marx
tornou relativa a ideia de uma razão livre e autônoma ao formular a noção de
ideologia - o poder social e invisível que nos faz pensar como pensamos e agir
como agimos.
No campo da psique,
Freud abalou o edifício das ciências psicológicas ao descobrir a noção de
inconsciente - como poder que atua sem o controle da consciência.
Teoria crítica
A ideia de progresso
humano como percurso racional sofreu um duro golpe com a ascensão dos regimes
totalitários, como o nazismo, o fascismo e o stalinismo. O desencanto tomou o
lugar da confiança que existia anteriormente na ideia de uma razão triunfante.
Para fazer face a essa
realidade, um grupo de intelectuais alemães elaborou uma teoria que ficou
conhecida como teoria crítica. Um dos principais filósofos desse grupo é Max
Horkheimer. Ele pensou que as transformações na sociedade, na política e na
cultura só podem se processar se tiverem como fim a emancipação do homem e não
o domínio técnico e científico sobre a natureza e a sociedade.
Esse pensamento
distingue a razão instrumental da razão crítica. O que seria a razão
instrumental? Aquela que transforma as ciências e as técnicas num meio de
intimidação do homem, e não de libertação. E a razão crítica? É a que estuda os
limites e os riscos da aplicação da razão instrumental.
Existencialismo
O filósofo Jean-Paul
Sartre também pensou as questões do homem frente à liberdade e ao seu
compromisso com a história. Utilizando também as contribuições do marxismo e da
psicanálise, o filósofo elaborou um pensamento sistemático que põe em relevo a
noção de existência em lugar da essência.
Fenomenologia
O estudo da linguagem
científica, dos fundamentos e dos métodos das ciências tornou-se um foco de
atenção importante para a filosofia contemporânea. O filósofo Edmund Husserl
propôs à filosofia a tarefa de estudar as possibilidades e os limites do
próprio conhecimento. Husserl desenvolveu uma teoria chamada fenomenologia.
Filosofia analítica
As formas e os modos de
funcionamento da linguagem foram estudados pelo filósofo Ludwig Wittgenstein. A
filosofia analítica é uma disciplina que se vale da análise lógica como método
e entende a linguagem como objeto da filosofia. Bertrand Russel e Quine também
estudaram os problemas lógicos das ciências, a partir da linguagem científica.
Embora tenha se
desdobrado em disciplinas especializadas, a filosofia ainda é - como sempre foi
- uma atitude filosófica.
Assim que começamos a
filosofar achamos que mesmo as coisas mais cotidianas levam a problemas para os
quais só podem ser dadas respostas muito incompletas. A filosofia, embora
incapaz de nos dizer com certeza quais são as respostas verdadeiras às dúvidas
que ela suscita, está apta a sugerir muitas possibilidades que ampliam nossos
pensamentos e os libertam da tirania do hábito. Assim, embora diminuindo nosso sentimento
de certeza a respeito do que as coisas são, ela aumenta enormemente nosso
conhecimento em direção ao que as coisas podem ser.
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