Aula de Filosofia 2° Ano 2° Trimestre - Idealismo Alemão e Dialética
MORALIDADE E ETICIDADE (ÉTICA DE KANT E HEGEL)
Desde a antiguidade a Ética e moral são assuntos que estão presentes nas discussões de grandes filósofos. Esse é um assunto bastante comentado no âmbito da filosofia e bastante popular também entre os menos doutos, pois trata de questões que estão presentes no dia a dia das pessoas. Todo indivíduo que vive em sociedade lida com questões referentes a Ética, ela é algo que está intrinsecamente ligada a vida dos sujeitos conscientes. Grandes pensadores, não só da antiguidade, mas da história da Filosofia como um todo, se tornaram conhecidos por se debruçarem sobre a Ética nas suas obras, a exemplo de Aristóteles, Nietzsche, Jeremy Bentham, Kant, Hegel, entre outros.
Já no período conhecido como modernidade, mais precisamente nos sécs. XVIII – XIV, Kant (filósofo alemão, 1724 – 1804) desenvolveu várias discussões acerca da Ética, as quais podemos ter acesso em algumas de suas obras como a Crítica da razão prática. Do mesmo modo, Hegel (também filósofo alemão, 1770 -1831) desenvolve uma vasta reflexão acerca deste tema. Ambos viveram praticamente no mesmo período histórico – apesar de Hegel ter nascido posteriormente – mas a postura de cada um destes filósofos frente a este tema é bem diversa. Mais que isso, ambas são quase que opostas, é possível perceber isso através da crítica que Hegel faz ao tratamento que Kant dá a Ética.
Kant é responsável por formular uma Ética ou uma moral baseada no dever. Kant historicamente é conhecido por ser um sujeito que primava sobretudo pela razão em suas obras e acaba que o tratamento que ele dá a Ética também tendo esta característica. Kant coloca a razão como o elemento que deve reger toda ação humana. Ele elabora um conceito chave, o imperativo categórico, que é o reflexo desta razão absoluta, o princípio que todo indivíduo deve seguir como base para as suas ações. Este tal imperativo categórico preconiza que os indivíduos devem tomar suas atitudes de uma maneira que o princípio da sua ação possa ser tomado como um princípio de ação universal, ou seja, que aquilo que o indivíduo faça seja algo que possa necessariamente servir para todas as pessoas no mundo. E mais, que essa atitude seja também necessariamente considerada boa em qualquer contexto histórico, em qualquer tempo.
Hegel, por sua vez, é defensor de uma ética, também de cunho racional (o que já era de se esperar de um filósofo), mas de princípios diferentes da Ética defendida por Kant. A Ética de Hegel pode ser chamada de uma Ética contextualista, pois preconiza que o critério para avaliar uma ação como eticamente correta está no contexto da situação que o indivíduo está agindo, ou seja, é preciso avaliar outros elementos que estão dentro da situação e não somente a intenção do sujeito, como defende Kant. Além disso, na Ética de Hegel é importante verificar as consequências de tal ação para julgá-la, diferentemente da Ética de Kant que, estando somente no âmbito da intenção já se poderia julgar a ação do indivíduo.
As críticas de Hegel a Ética kantiana são inúmeras, a exemplo de algumas que já foram supracitadas. Enumerando estas críticas de Hegel a Ética kantiana teremos:
1 – Hegel afirma que considerar a intenção do indivíduo para um julgamento de ético não é suficiente. Se o indivíduo agir sempre de acordo com uma boa intenção, ainda assim pode haver más consequências e estas também devem ser consideradas para este julgamento ético. Uma boa intenção e más consequências torna a situação de modo geral eticamente incorreta;
2 – Da mesma maneira, determinar regras universais (imperativo categórico) para reger as ações dos indivíduos traz este mesmo problema. Imagine o caso do princípio universal de não poder matar; se eu sigo este princípio de maneira absoluta, no caso de alguém tentar me matar eu não vou poder revidar, mesmo portando uma arma e a minha vida estando em risco. Ou seja, eu não poderia me defender diante de um perigo eminente de morte para mim. Esta questão recai mais uma vez na problemática das consequências, estas devem ser consideradas. Neste quesito Hegel defende que existe um direito a vida e que eu poderia sim me defender. Deste modo, mesmo que eu mate a outra pessoa a minha atitude estaria justificada, pois no contexto da situação eu decidi agir em prol do meu direito a vida, um direito a defesa para garantir a minha sobrevivência.
No sentido destas primeiras considerações, Hegel defende uma Ética mais de caráter subjetivo, mais de caráter contextual, voltada para o indivíduo dentro de uma determinada situação e não de um indivíduo em um mundo como se fosse algo homogêneo.
3 – Hegel determina que é preciso considerar também a heterogeneidade do mundo e do tempo. Ou seja, é preciso que se leve em consideração que há lugares e lugares no mundo, lugares constituídos de uma determinada cultura, o que envolve hábitos e crenças. Do mesmo modo, o tempo leva estes costumes e crenças a mudarem, então a Ética não pode ser estática diante de um mundo que muda na medida do tempo. Há costumes atuais que são considerados corretos e que podem ter sido considerados incorretos, então como estabelecer o que é correto considerando toda a extensão do tempo? Hegel aponta uma solução para este problema: As ações em sua totalidade devem ser avaliadas de um ponto de vista que considere o local e o tempo em que elas são praticadas.
4 – Hegel também critica Kant no que di respeito a postura de Kant com a sua Ética frente ao estado. Para Hegel, Kant não considera a existência do estado em sua Ética, e este seria o seu maior erro. A partir desta problemática nós chegaremos ao principal ponto desta crítica.
Para Hegel a Ética envolve a relação dos indivíduos com o estado. Ela apresenta dois caráteres, o primeiro é subjetivo e diz respeito a Ética pessoal manifestada através de cada indivíduo e a segunda é objetiva e diz respeito a Ética do Estado, que diz respeito às normas do Estado, leis e costumes. Pode-se comparar a primeira como algo mais voltado para o indivíduo e a segunda mais voltada para o social, o conjunto dos indivíduos. A soma de “a+b”, ou seja, a Ética objetiva mais a subjetiva formam a totalidade do Ética. Hegel dá uma importância muito grande a esta parte objetiva, pois ela é responsável por moldar a natureza do homem, proporcionando uma espécie de segunda natureza que ao homem necessária para que ele tenha uma boa vivência em sociedade. Isto é as leis e normas da sociedade cumprem um papel de preparar os indivíduos para a vida em sociedade. O termo “preparar” não seria exatamente o mais adequado, mas é quase que o efeito que se tem. Este processo de preparação se dá da seguinte maneira, as leis e normas funcionam como um meio de barrar as inclinações pessoais provindas da natureza primeira dos indivíduos. Nesta primeira natureza os indivíduos se comportam puramente por instintos, bem como quando nascem. Através do freio destes instintos o indivíduo irá adquirir uma segunda natureza que é mais voltada para o social, para o bem comum. Agindo de acordo com o que é determinado pelo estado (instituições sociais) o indivíduo é considerado ético.
O principal ponto desta crítica a Kant é que, segundo Hegel, Kant fica somente no âmbito da subjetividade pessoal e não considera a subjetividade social. Com isso, Kant leva a sua Ética a inúmeros problemas, os quais já foram citados acima. Hegel pressupõe que considerando a Ética do ponto de vista histórico e contextual estes problemas podem ser resolvidos, tornando assim a Ética possível. Hegel usa termos específicos nesta sua crítica, diz que Kant fica somente no âmbito da moralidade, do dever, da vontade subjetiva e que o mais viável é determinar que os indivíduos ajam de acordo com a eticidade, ou seja, fazer realizar o bem de acordo com a sua realidade histórica e de acordo com o que determina as instituições sociais.
Hegel - A Dialética
GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL - A dialética para Hegel é o procedimento superior do pensamento é, ao mesmo tempo, repetimo-la, "a marcha e o ritmo das próprias coisas". Vejamos, por exemplo, como o conceito fundamental de ser se enriquece dialeticamente. Como é que o ser, essa noção simultaneamente a mais abstrata e a mais real, a mais vazia e a mais compreensiva (essa noção em que o velho Parmênides se fechava: o ser é, nada mais podemos dizer), transforma-se em outra coisa? É em virtude da contradição que esse conceito envolve. O conceito de ser é o mais geral, mas também o mais pobre. Ser, sem qualquer qualidade ou determinação - é, em última análise, não ser absolutamente nada, é não ser! O ser, puro e simples, equivale ao não-ser (eis a antítese). É fácil ver que essa contradição se resolve no vir-a-ser (posto que vir-a-ser é não mais ser o que se era). Os dois contrários que engendram o devir (síntese), aí se reencontram fundidos, reconciliados.
Vejamos um exemplo muito célebre da dialética hegeliana que será um dos pontos de partida da reflexão de Karl Marx. Trata-se de um episódio dialético tirado da Fenomenologia do Espírito, o do senhor e o escravo. Dois homens lutam entre si. Um deles é pleno de coragem. Aceita arriscar sua vida no combate, mostrando assim que é um homem livre, superior à sua vida. O outro, que não ousa arriscar a vida, é vencido. O vencedor não mata o prisioneiro, ao contrário, conserva-o cuidadosamente como testemunha e espelho de sua vitória. Tal é o escravo, o "servus", aquele que, ao pé da letra, foi conservado.
a) O senhor obriga o escravo, ao passo que ele próprio goza os prazeres da vida. O senhor não cultiva seu jardim, não faz cozer seus alimentos, não acende seu fogo: ele tem o escravo para isso. O senhor não conhece mais os rigores do mundo material, uma vez que interpôs um escravo entre ele e o mundo. O senhor, porque lê o reconhecimento de sua superioridade no olhar submisso de seu escravo, é livre, ao passo que este último se vê despojado dos frutos de seu trabalho, numa situação de submissão absoluta.
b) Entretanto, essa situação vai se transformar dialeticamente porque a posição do senhor abriga uma contradição interna: o senhor só o é em função da existência do escravo, que condiciona a sua. O senhor só o é porque é reconhecido como tal pela consciência do escravo e também porque vive do trabalho desse escravo. Nesse sentido, ele é uma espécie de escravo de seu escravo.
c) De fato, o escravo, que era mais ainda o escravo da vida do que o escravo de seu senhor (foi por medo de morrer que se submeteu), vai encontrar uma nova forma de liberdade. Colocado numa situação infeliz em que só conhece provações, aprende a se afastar de todos os eventos exteriores, a libertar-se de tudo o que o oprime, desenvolvendo uma consciência pessoal. Mas, sobretudo, o escravo incessantemente ocupado com o trabalho, aprende a vencer a natureza ao utilizar as leis da matéria e recupera uma certa forma de liberdade (o domínio da natureza) por intermédio de seu trabalho. Por uma conversão dialética exemplar, o trabalho servil devolve-lhe a liberdade. Desse modo, o escravo, transformado pelas provações e pelo próprio trabalho, ensina a seu senhor a verdadeira liberdade que é o domínio de si mesmo. Assim, a liberdade estóica se apresenta a Hegel como a reconciliação entre o domínio e a servidão.
Hegel parte, fundamentalmente, da síntese a priori de Kant, em que o espírito é constituído substancialmente como sendo o construtor da realidade e toda a sua atividade é reduzida ao âmbito da experiência, porquanto é da íntima natureza da síntese a priori não poder, de modo nenhum, transcender a experiência, de sorte que Hegel se achava fatalmente impelido a um monismo imanentista, que devia necessariamente tornar-se panlogista, dialético. Assim, deviam se achar na realidade única da experiência as características divinas do antigo Deus transcendente, destruído por Kant. Hegel devia, portanto, chegar ao panteísmo imanentista, que Schopenhauer, o grande crítico do idealismo racionalista e otimista, declarará nada mais ser que ateísmo imanentista.
No entanto, para poder elevar a realidade da experiência à ordem da realidade absoluta, divina, Hegel se achava obrigado a mostrar a racionalidade absoluta da realidade da experiência, a qual, sendo o mundo da experiência limitado e deficiente, por causa do assim chamado mal metafísico, físico e moral, não podia, por certo, ser concebida mediante o ser (da filosofia aristotélica), idêntico a si mesmo e excluindo o seu oposto, e onde a limitação, a negação, o mal, não podem, de modo nenhum, gerar naturalmente valores positivos de bem verdadeiro. Mas essa racionalidade absoluta da realidade da experiência devia ser concebida mediante o vir-a-ser absoluto (de Heráclito), onde um elemento gera o seu oposto, e a negação e o mal são condições de positividade e de bem.
Apresentava-se, portanto, a necessidade da invenção de uma nova lógica, para poder racionalizar o elemento potencial e negativo da experiência, isto é, tudo que há no mundo de arracional e de irracional. E por isso Hegel inventou a dialética dos opostos, cuja característica fundamental é a negação, em que a positividade se realiza através da negatividade, do ritmo famoso de tese, antítese e síntese. Essa dialética dos opostos resolve e compõe em si mesma o elemento positivo da tese e da antítese. Isto é, todo elemento da realidade, estabelecendo-se a si mesmo absolutamente (tese) e não esgotando o Absoluto de que é um momento, demanda o seu oposto (antítese), que nega e o qual integra, em uma realidade mais rica (síntese), para daqui começar de novo o processo dialético. A nova lógica hegeliana difere da antiga, não somente pela negação do princípio de identidade e de contradição - como eram concebidos na lógica antiga - mas também porquanto a nova lógica é considerada como sendo a própria lei do ser. Quer dizer, coincide com a ontologia, em que o próprio objeto já não é mais o ser, mas o devir absoluto.
Dispensa-se acrescentar como, a experiência sendo a realidade absoluta, e sendo também vir-a-ser, a história em geral se valoriza na filosofia; igualmente não é preciso salientar como o conceito concreto, isto é, o particular conexo historicamente com o todo, toma o lugar do conceito abstrato, que representa o elemento universal e comum dos particulares. Estamos, logo, perante um panlogismo, não estático, como o de Spinoza, e sim dinâmico, em que - através do idealismo absoluto - o monismo, que Hegel considerava panteísmo, é levado às suas extremas consequências metafísicas imanentistas.
Podemos resumir assim:
1.° - A lógica tradicional afirma que o ser é idêntico a si mesmo e exclui o seu oposto (princípio de identidade e de contradição); ao passo que a lógica hegeliana sustenta que a realidade é essencialmente mudança, devir, passagem de um elemento ao seu oposto;
2.° - A lógica tradicional afirma que o conceito é universal abstrato, enquanto apreende o ser imutável, realmente, ainda que não totalmente; ao passo que a lógica hegeliana sustenta que o conceito é universal concreto, isto é, conexão histórica do particular com a totalidade do real, onde tudo é essencialmente conexo com tudo;
3.° - A lógica tradicional distingue substancialmente a filosofia, cujo objeto é o universal e o imutável, da história, cujo objeto é o particular e o mutável; ao passo que a lógica hegeliana assimila a filosofia com a história, enquanto o ser é vir-a-ser;
4.° - A lógica tradicional distingue-se da ontologia, enquanto o nosso pensamento, se apreende o ser, não o esgota totalmente - como faz o pensamento de Deus; ao passo que a lógica hegeliana coincide com a ontologia, porquanto a realidade é o desenvolvimento dialético do próprio "logos" divino, que no espírito humano adquire plena consciência de si mesmo.
Visto que a realidade é o vir-a-ser dialético da Ideia, a autoconsciência racional de Deus, Hegel julgou dever deduzir a priori o desenvolvimento lógico da ideia, e demonstrar a necessidade racional da história natural e humana, segundo a conhecida tríade de tese, antítese e síntese, não só nos aspectos gerais, nos momentos essenciais, mas em toda particularidade da história. E, com efeito, a realidade deveria transformar-se rigorosamente na racionalidade em um sistema coerente de pensamento idealista e imanentista.
Não é mister dizer que essa história dialética nada mais é que a história empírica, arbitrariamente potenciada segundo a não menos arbitrária lógica hegeliana, em uma possível assimilação do devir empírico do desenvolvimento lógico - ainda que entendido dialeticamente, dinamicamente. Tal história dialética deveria, enfim, terminar com o advento da filosofia hegeliana, em que a Ideia teria acabado a sua odisseia, adquirindo consciência de si mesma, isto é, da sua divindade, no espírito humano, como absoluto. Mas, desse modo, viria a ser negada a própria essência da filosofia hegeliana, para a qual o ser, isto é, o pensamento, nada mais é que o infinito vir-a-ser dialético.
Referências Bibliográficas:
DURANT, Will. História da Filosofia - A Vida e as Ideias dos Grandes Filósofos, São Paulo, Editora Nacional, 1.ª edição, 1926.
FRANCA S. J. Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.
PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís. História da Filosofia, Edições Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.
VERGEZ, André e HUISMAN, Denis. História da Filosofia Ilustrada pelos Textos, Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 4.ª edição, 1980.
JAEGER, Werner. Paidéia - A Formação do Homem Grego, Martins Fontes, São Paulo, 3ª edição, 1995.
Coleção Os Pensadores. Georg Wilhelm Friedrich Hegel - Estética: A Ideia e o Ideal - Estética: O Belo Artístico ou o Ideal, Nova Cultural, São Paulo, 1999.
IDEALISMO ALEMÃO
"Nada de significante no mundo já foi feito sem paixão."
(Hegel)
1. A filosofia Moderna
Convencionalmente aceita-se que a filosofia moderna estenda-se desde as grandes navegações do século XV até o conjunto de eventos que culminaram na Revolução Francesa, no final do Século XVIII (Universidade Católica de Brasília, 2007). De fato, foi um período de grandes mudanças políticas, sociais e científicas no mundo todo, apesar de o auge da filosofia moderna ter ocorrido no continente europeu.
Passou-se a delinear com melhor clareza os limites do estudo filosófico. Ainda no princípio do período moderno havia a preocupação com Deus e a relação do homem com Ele, inclusive buscando-se provas da imortalidade da alma e da existência de Deus (como exemplos podemos citar Descartes e Berkeley). Com o passar do tempo, há o predomínio da ideia de conquista técnico-científica da realidade (Cabral, 2006), Essa ideia se propagou devido às tentativas de explicações mecânicas e matemáticas do Universo, assim como por meio da invenção de máquinas (decorrentes das experiências físico-químicas).
Por todas essas questões, acreditou-se que a vida ética poderia ser pensada racionalmente, bem como a política também (Chauí, 2002).
1.1. Renascimento
Foi um movimento ocorrido no continente europeu (Universidade Católica de Brasília, 2007). Seus limites geográficos e cronológicos são difíceis de se estabelecer com precisão, mas pode-se afirmar que o auge ocorreu na Itália nos séculos XV e XVI. Segundo Cabral (2006), ocorreu entre os séculos XIV e XVI. Antes de ser considerado um período delimitado, deve ser visto como um conjunto de aspirações, que passou a considerar o homem como um ser de ações.
Houve um encantamento com a cultura Greco-romana, mas não é simplesmente um retorno à antiguidade clássica. Além da revalorização da cultura Greco-romana, o renascimento assinala uma reação ao medievo, assim como também um prenúncio de um novo tempo: os tempos modernos (Cabral, 2006). Por isso, pode-se afirmar que no Renascimento misturam-se elementos da antiguidade clássica e do cristianismo inseridos na nova realidade do período moderno.
1.2. Reforma Protestante
Movimento de cunho religioso que ocorreu no continente europeu (inicialmente na Alemanha), encabeçado pelo monge alemão Martinho Lutero, que no ano de 1517 afixou na porta do castelo Wittemberg suas 95 teses, criticando a concessão de indulgências, mas ainda assim alcançavam também temas como o pecado e as penitências, o que afetou as autoridades eclesiásticas (Universidade católica de Brasília, 2007).
Em resposta à ousadia de Lutero (em menos de um mês suas teses estavam espalhadas por toda a Alemanha), as autoridades eclesiásticas concluíram que Lutero agia em heresia, que culminou em sua excomunhão.
No ano seguinte, Lutero é condenado também pelo imperador Carlos Magno. Mas até esse momento já havia conquistado a confiança de muitos discípulos, entre humanista, artistas e príncipes. O movimento foi crescendo, mas demorou até que fosse reconhecido.
1.3. Revolução Científica
É o movimento que ocorre a partir das descobertas de Galileu, Kepler e demais pensadores do século XVII. Até então a ciência era conjunta com a filosofia, mas desde as descobertas científicas do período, houve uma delimitação mais precisa do que cabe à filosofia, e do que é responsabilidade da ciência (Universidade Católica de Brasília, 2007).
Destas descobertas pode-se formular novas compreensões acerca da natureza e de seu conhecimento, o que originou a ciência da natureza moderna (a física).
1.4. Racionalismo
Filosofia que enfatiza o papel da razão, que garante a aquisição e justificação do conhecimento sem auxílio (Blackburn, 1997). Iniciou-se com as novas descobertas da Revolução Científica e caracterizou-se a princípio pela posição de que a razão pode nos apresentar o mundo e de que a ciência deve separar-se da filosofia, então seria responsabilidade da filosofia o embasamento racional das novas descobertas.
Como grande representante do período, Descartes (conhecido como o pai da filosofia moderna) foi o primeiro a oferecer uma resposta para o impasse. Usou uma analogia significativa (Universidade Católica de Brasília, 1997), onde comparou o conhecimento humano a uma árvore, sendo as raízes a metafísica e o tronco a física. Assim sendo, caberia à filosofia definir os fundamentos, e à ciência os fenômenos e fatos em si.
1.5. Criticismo
Nascido na Alemanha, Kant interessou-se desde o início pela ciência newtoniana e se questionava a respeito da natureza do nosso conhecimento (Aranha, 2003). Em sua obra Crítica da Razão Pura, questiona a possibilidade de uma "razão pura", independente da experiência.
O criticismo caracteriza-se pela posição de considerar a análise crítica da possibilidade, do valor, da origem e dos limites do conhecimento racional seriam o ponto de partida do conhecimento filosófico. Pode ser considerado uma crítica ao Racionalismo e ao Empirismo.
1.6. Filosofia pós-Kantiana
Kant, ao apresentar seu sistema que pretendia sintetizar duas grandes tendências (racionalismo e empirismo), e ao mesmo tempo superá-las e resolver suas pendências. Decorrente destes objetivos, a filosofia alemã foi muito influenciada por Kant em todo o período vigente do seu sistema de idealismo.
2 Idealismo Alemão
2.1 local e data
Iniciou-se a partir do impacto causado pelas obras de Kant. Estende-se desde a década de 1780 até meados do século XIX. Seu declínio é marcado pela morte de Hegel em 18530 (Universidade Católica de Brasília, 2007).
Os filósofos idealistas não se colocavam como adversários da obra de Kant, mas sim como seus continuadores.
Dentre seus principais pensadores, serão contemplados neste trabalho Fichte, Schelling e Hegel, por serem considerados os mais importantes no esclarecimento do tema proposto.
3. Fichte
Nascido em 1762 e morto em 1814, formou-se em teologia e depois em filosofia em Iena. Tornou-se conhecido em parte devido ao fato de seu primeiro livro (publicado anonimamente) ter sido atribuído a Kant (Universidade Católica de Brasília, 2007; Blackbourne, 1997). Tornou-se professor da Universidade de Iena, e publicou uma obra que pretendia desenvolver a filosofia kantiana e a transforma em um idealismo radical, pois abandona a concepção Kantiana de dualismo "pensamento-coisa". Para ele, tudo depende do sujeito pensante que não corresponde a um? Eu individual? mas sim a um "eu universal", fonte para a explicação de todas as coisas.
3.1. Eu Absoluto
O ponto da partida de Fichte é o absoluto (Morente, 1980). Entretanto, este "eu absoluto" não consiste em pensar, pois pensar vem depois. Consiste em fazer, consiste numa atividade (Cabral, 2006). Assim, a essência do eu absoluto é a ação.
Cabral nos aponta em sua obra os três princípios determinados por Fichte e utilizados na elaboração de suas teorias, a seguir: Tudo o que é, só é na medida em que está dentro do eu; a isso Fichte denominou o primeiro princípio de sua obra, o da identidade. Deste princípio da identidade, decorre o princípio da oposição. Neste segundo princípio, admite um contrário do eu, que é chamado de não-eu. Para Fichte, Não-eu é sempre eu, pois o oposto só poderia se dar pela ação absoluta do eu.
Destes princípios, deriva ainda o terceiro, o princípio da razão, onde Fichte se esforça por unificar os opostos citados, através de uma análise reflexiva, até restar unicamente o eu como fundamento de todo o saber.
4. Schelling
Nascido em 1775 e morto em 1854, em Berlim. Nasceu em Leonberg e estudou em Türbingen. Tornou-se professor em Iena em 1798. Suas primeiras obras enfatizam a força, autoconsciência, no espírito dinâmico e na realização moral de ideais inatingíveis (Blackburn, 1997). Inicialmente segue as obras de Fichte, mas desenvolve seu próprio sistema, numa filosofia da natureza complexa.
Toma o absoluto como ponto de partida para a sua reflexão, porém considera que o absoluto é harmonia, a unidade dos contrários, a unidade total. Morente (1980) destaca que para Schelling, o absoluto é a unidade vivente, espiritual, dentro da qual estão como germes todas as diversidades que conhecemos.
4.1. Natureza
Segundo Cabral (2006), Schelling afirma que Deus e natureza não se opõem. "A natureza não está fora de Deus, mas em Deus". Schelling argumenta que Deus é a ideia de todas as ideias, o conhecer de todo o conhecer, a luz de toda a luz. DEle vem tudo e para Ele tudo retorna. Essas ideias podem nos apontar uma relação elaborada por Schelling entre Deus e Natureza, partindo do Eu absoluto de Fichte. Essas ideias podem não ter sido tão bem aceitas pela sociedade eclesiástica da época, pois não se afasta por demais de uma teoria panteísta.
5. Hegel
Nasceu em 1770, em Stuttgart e morreu em 1831, em Berlim. A princípio era seguidor de Schelling, mas ao publicar sua obra Fenomenologia do espírito, torna pública a sua opinião contrária a este filósofo. Afirmou que o propósito fundamental da Filosofia é superar divisões e chegar ao Eu absoluto (Universidade Católica de Brasília, 2007).
Um dos legados mais importantes de Hegel para a filosofia foi sua posição frente à Lógica (dialética hegeliana), um tanto complexa ao considerarmos suas posições entre história de um lado e pensamento e espírito de outro. Estas observações levaram-no a considerar a desarmonia ou as contradições do mundo como um exemplo das contradições do pensamento (Blackbourne, 1997).
5.1. Dialética
Como conceito, a dialética pode ser entendida como "a arte do diálogo, a arte de discutir" (Rezende, 2005). A abordagem dialética hegeliana constitui-se de três etapas e visa ser o processo lógico pelo qual a verdade é descoberta (Bergman, 2004). O processo da dialética se constitui em tese, antítese e síntese, sendo a tese o conceito de "ser", a antítese o conceito de "nada" e a síntese o conceito de "tornar-se". A síntese é a maior forma de verdade, pois é a unidade dos opostos da tese e da antítese.
O processo dialético não é propriedade exclusiva da consciência humana, ajudando-nos a entender o mundo, mas é também o próprio mundo (Espírito Absoluto). Então podemos entender todo o mundo, por que tudo é resultado do Espírito Absoluto. Ainda segundo Hegel, a sentença "o real é racional" corrobora com essa conclusão.
5.2. História
Hegel traça o desenvolvimento do espírito do mundo em termos de uma busca por liberdade. História é o desenvolvimento progressivo dessa liberdade (Bergman, 2004; Blackbourne, 1997). A história tem o propósito racional.
Uma grande contribuição da filosofia hegeliana é a construção de um método para se entender o curso da história e de nosso conhecimento como o resultado da marcha do pensamento humano rumo a estágios melhores (Cabral, 2006). Para Hegel, a história mostra a evolução humana rumo a uma racionalidade e liberdades maiores.
Desse novo modo de compreender a história resulta a ideia de progresso (Aranha, 2003), pois na medida em que a história avança, os homens acumulam conhecimentos e práticas, aperfeiçoando-se cada vez mais. Entretanto, tal progresso somente se realiza com uma teoria do conhecimento adequada.
Assim, o presente é melhor e superior se comparado ao passado, e o futuro será melhor se comparado ao presente, o que aporta a uma noção romancista, confiando no caráter progressista, mas ainda proporcionando um modelo para futuros movimentos sociais e políticos que se orgulham de estar do lado do futuro.
6. Considerações
Para os filósofos do Idealismo Alemão, sua visão de mundo era antropocêntrica, visto que julgavam somente o homem ser capaz de escapar ao determinismo natural.
Esse determinismo é apontado pelo fato de considerarem a natureza como parte do Eu absoluto, fundindo-se a Deus, então o homem, parte deste todo, também se fundiria neste Eu Absoluto, nesse sentido poderia perder um pouco da sua essência.
Mas elaborando melhor a teoria do Idealismo alemão, Hegel construiu sua dialética e pode assim atribuir à história um caráter racional, que livraria o homem do determinismo, pois, "só o homem tem história, por que somente ele tem agir moral. Com o darwinismo, considerou-se que todos os animais têm uma história (mesmo que biológica), mas só o homem pode sair do determinismo da natureza".
7. Referências:
ARANHA, M.L.A. Filosofando. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2003.
BERGMAN, G. Filosofia de banheiro. São Paulo: Madras, 2004.
BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
CABRAL, C. A. Filosofia. São Paulo, Ed. Pillares, 2006.
CHAUI, M. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
MORENTE, M.G. Fundamentos de filosofia. 8.ed. São Paulo: Mestre Jou, 1980.
REZENDE, A. Curso de filosofia. 13. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2005.
DIALÉTICA
A dialética pode ser descrita como a arte do diálogo. Uma discussão na qual há contraposição de idéias, onde uma tese é defendida e contradita logo em seguida; uma espécie de debate. Sendo ao mesmo tempo, uma discussão onde é possível divisar e defender com clareza os conceitos envolvidos.
A prática da dialética surgiu na Grécia antiga, no entanto, há controvérsias a respeito do seu fundador. Aristóteles considerava a Zenôn como tal, já outros defendem que Sócrates foi o verdadeiro fundador da dialética por usar de um método discursivo para propagar suas idéias.
A DIALÉTICA EM PLATÃO
Para Platão a dialética é o único caminho que leva ao verdadeiro conhecimento. Pois a partir do método dialético de perguntas e respostas é possível iniciar o processo de busca da verdade.
Em sua Alegoria da Caverna, Platão fala da existência de dois mundos: o mundo sensível e o mundo das idéias. Sendo o segundo alcançado apenas através da dialética, da investigação de conceitos.
A DIALÉTICA EM HEGEL
Em Hegel, a dialética se movimenta da seguinte forma: primeiro existe a TESE, que é a idéia, gerando uma ANTÍTESE, que se contrapõe à TESE, surgindo assim a SÍNTESE, que é a superação das anteriores.
Hegel aplicava esse raciocínio à realidade e aos diferentes momentos da história humana. Desde as antigas civilizações do oriente até a concepção de Estado Moderno, constando nesse ínterim, acontecimentos como o surgimento da filosofia, o iluminismo e a Revolução Francesa. Ou seja, a história estaria dividida em três etapas, correspondendo exatamente à TESE, ANTÍTESE e SÍNTESE. A SÍNTESE representa a superação da contradição.
A DIALÉTICA MARXISTA
Karl Marx reformula o conceito de dialética em Hegel, voltando-o para a sociedade, as lutas de classes vinculadas a uma determinada organização social, surgindo assim, a chamada: dialética materialista ou materialismo dialético.
A dialética materialista une pensamento e realidade, mostrando que a realidade é contraditória ao pensamento dialético. Contradições estas, que é preciso compreender para então, transpô-las através da dialética. Marx fala da dialética sempre em um contexto de luta de classes, diferentes interesses, que geram a contradição. Sendo assim, o materialismo dialético é uma das bases do pensamento marxista.
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