segunda-feira, 27 de maio de 2013

1ª Aula de Filosofia 1º Anos M,T,N. 2º Trimestre
O período pré-socrático
Guiado pela razão, o pensamento começa a caminhar.

De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sócrates (468-399 a.C.).
Os pensadores de Mileto: a busca de um princípio para todas as coisas

Ruinas do  teatro da cidade de Mileto.
Quando afirmamos que a filosofia nasceu na Grécia, devemos tornar essa afirmação mais precisa. Afinal, nunca houve, na Antiguidade, um Estado grego unificado. O que chamamos de Grécia nada mais é que o conjunto de muitas cidades — Estado (polis) gregas, independentes umas das outras, muitas vezes rivais e com marcantes desníveis culturais e econômicos.
No vasto mundo grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por um rico comércio, a cidade de Mileto abrigou os três primeiros pensadores da história ocidental a quem atribuímos a denominação de filósofos. São eles: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
O objetivo dos primeiros filósofos era construir uma cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo) que substituísse a antiga cosmogonia (explicação sobre a origem do universo baseada nos mitos).
Em outras palavras, os primeiros filósofos queriam descobrir, com base na razão e não na mitologia, o princípio substancial (a arché, em grego) existente em todos os seres materiais. Isto é, pretendiam encontrar a "matéria-prima" de que são feitas todas as coisas.

Tales de Mileto
                                                                                Tudo é água.
TALES
Tales (623-546 a.C., aproximadamente) costuma ser considerado o primeiro pensador grego, "o pai da filosofia". Na condição de filósofo, buscou a construção do pensamento racional em diversos campos do conhecimento que, hoje, não são considerados especialidades filosóficas. Foi astrônomo e chegou a prever o eclipse total do Sol ocorrido em 28 de maio de 585 a.C.. Na área da geometria demonstrou, por exemplo, que todos os ângulos inscritos no meio círculo são retos e que em todo triângulo a soma de seus ângulos internos é igual a 180°.
Procurando fugir das antigas explicações mitológicas sobre a criação do mundo, Tales queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres.
Inspirando-se provavelmente em concepções egípcias, acresci das de suas próprias observações da vida animal e vegetal, concluiu que a água é a substância primordial, a origem única de todas as coisas. Para ele, somente a água permanece basicamente a mesma, em todas as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados: sólido, líquido ou gasoso.
Anaximandro de Mileto
Nem água nem algum dos elementos, mas alguma substância diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos. ANAXIMANDRO.
Anaximandro (610-547  a.C.) procurou aprofundar as concepções de Tales sobre a origem única de todas as coisas. Em meio a tantos elementos observáveis no mundo natural — a água, o fogo, o ar etc. —, ele acreditava não ser possível eleger uma única substância material como princípio primordial de todos os seres, a arché. Para Anaximandro, esse princípio era algo que transcendia os limites do observável, ou seja, daquilo que não se situa numa realidade ao alcance dos sentidos. Por isso, denominou-o ápeiron, termo grego que significa o indeterminado, o infinito. O ápeiron seria uma "massa geradora" dos seres, contendo em si todos os elementos contrários.

Anaxímenes de Mileto
E assim como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, da mesma maneira o vento, envolve todo o mundo. ANAXÍMENES

Anaxímenes   (588-524   a.C)  admitia que a origem de todas as coisas é indeterminada. Entretanto, recusava-se a atribuir-lhe o caráter oculto  de  elemento situado   fora   dos   limites   da observação e da experiência sensível. Tentando uma possível conciliação entre as concepções de Tales e as de Anaximandro, concluiu ser o ar o princípio de todas as coisas. Isso porque o ar representa um elemento invisível e imponderável, quase inobservável e, no entanto, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que "anima" o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração. (BERNHARDT, JEAN, O pensamento pré-socrático de Tales aos Sofistas. In:  CHATELET, op. cit. V. 1. P. 28)

Pitágoras de Samos: o culto da matemática
Todas as coisas são números.
PITÁGORAS
Pitágoras (570-490 a.C., aproximadamente) nasceu na ilha de Samos, na costa jônica, não distante de Mileto. Por volta de 530 a.C, sofreu perseguição política por  causa de suas ideias, sendo obrigado a deixar sua terra de origem. Instalou-se, então, em Crotona, sul da Itália, região conhecida como Magna Grécia. Em Crotona, fundou uma poderosa sociedade de caráter filosófico e religioso e de acentuada ligação com as questões políticas. Depois de exercer, por longos anos, considerável influência política na região, a sociedade pitagórica foi dispersada por opositores, e o próprio Pitágoras foi expulso de Crotona. Para Pitágoras, a essência de todas as coisas reside nos números, os quais representam a ordem e a harmonia. Segundo Thomas Giles, pela primeira vez introduz-se um aspecto mais formal na explicação da realidade, isto é, a ordem e a constância.  Assim, a essência dos seres, a arché, teria uma estrutura matemática da qual derivariam problemas como: finito e infinito, par e impar, unidade e multiplicidade, reta e curva, círculo e quadrado etc. Pitágoras dizia que no fundo de todas as coisas a diferença entre os seres consiste essencialmente, em uma questão de números os seres (limite e ordem das coisas).
As contribuições da escola pitagórica podem ser encontradas nos campos da matemática (lembre-se do célebre teorema de Pitágoras), da música e da astronomia. A essas contribuições junta-se uma série de crenças místicas relativas à imortalidade da alma, à reencarnação dos pecadores, à prescrição de rígidas condutas morais etc.

Heráclito de Éfeso: o movimento perpétuo do mundo
Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo.
O ser não é mais que o vir-a-ser.
HERÁCLITO
Nascido em Éfeso, cidade da região jônica.  Heráclito é considerado um dos mais importantes filósofos pré-socráticos, A data de seu nascimento e a de sua morte não são conhecidas. Há referências históricas de que, por volta do ano 500 a.C, estava em plena "flor da idade". Heráclito é considerado o primeiro grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista (de movimento). Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e a destruição, a justiça e a Injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a tristeza etc. Assim, afirmava que "a luta (guerra) é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas". É pela luta das  forças opostas que o mundo se modifica e evolui. Atribuem se a Heráclito frases marcantes, de sentido simbólico, utilizadas para ilustrar sua concepção sobre o fluxo e movimentação das coisas, o constante vir-a-ser, a eterna mudança, também chamada devir: Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição.
Assim, Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.

        


Os pensadores e!eáticos: o início dos estudos sobre o ser e o conhecer
As diversas cosmologias que acabamos de estudar despertaram, na época, uma nova questão. Por que tanta divergência? Por que tantas opiniões contrárias?
Heráclito de Éfeso, como vimos, acreditava que a luta dos contrários formava a unidade do mundo. Já para os pensadores da cidade de Eléia, a partir de seu principal expoente, Parmênides, os contrários jamais poderiam coexistir. Heráclito e Parmênides representam, portanto, dois polos extremos do pensamento filosófico. Foi a partir dessa discussão sobre os contrários, sobre o ser e o não-ser, que se iniciaram a lógica (os estudos sobre o conhecer) e a ontologia (os estudos sobre o ser) e suas relações recíprocas, conforme veremos a seguir.
Parmênides de Eléia
O ente é; pois é ser e nada não é.

Nascido em Eléia, na Magna Grécia, litoral oeste da península Itálica, Parmênides (510-470 a.C, aproximadamente) tornou-se célebre por ter feito oposição a Heráclito. Platão o chamava de o Grande Parmênides.
Parmênides defendia a existência de dois caminhos para a compreensão da realidade. O primeiro é o da filosofia, da razão, da essência. O segundo é o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que ele considerava a "via de Heráclito".
Segundo Parmênides, o caminho da essência nos afirma, por exemplo, que na realidade:
a.      existe o ser, e não é concebível sua não-existência;
b.      o ser é; o não-ser não é.
Em vista disso, Parmênides é considerado o primeiro filósofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não-contradição, desenvolvidos depois por Aristóteles (ver estudos sobre noções de lógica).

Ao refletir sobre o ser, pela via da essência, o filósofo eleático concluiu que o ser é eterno, único, imóvel e ilimitado. Essa é a via da verdade pura, a via a ser buscada pela ciência e pela filosofia. Entretanto, se olharmos a realidade pelo caminho da aparência, tudo se confunde em função do movimento, da pluralidade e do devir (vir-a-ser).
Na concepção de Parmênides, Heráclito percorreu o caminho das aparências ilusórias. Essa via precisava ser evitada para não termos de concluir que "o ser e o não-ser são e não são a mesma coisa". Parmênides descobriu, assim, os atributos do ser puro: o ser ideal do plano lógico.
Parmênides negou-se a reconhecer como verdadeiros os testemunhos ilusórios dos sentidos e a constatar a existência do ser-no-mundo: o ser que se exprime de diversos modos. Os seres múltiplos e mutáveis. Mas o filósofo sabia que é no mundo da ilusão, das aparências e das sensações que os homens vivem seu cotidiano. Então, "o mundo da ilusão não é uma ilusão de mundo" mas uma manifestação da realidade que cabe à razão interpretar, explicar e compreender, até que alcance a essência dessa realidade. Não podemos confiar nas aparências, nas incoerências, na visão enganadora. Pela razão, devemos buscar a essência, a coerência e a verdade.
O esforço de toda sabedoria é, pois, para Parmênides, sistematizar isso, tornar pensável o caos, introduzir uma ordem nele. (JERPHAGNON, Lucien. História dos grandes filósofos, p.15)

Zenão de Eléia
O que se move sempre está no mesmo agora.
ZENÃO

Discípulo de Parmênides, Zenão de Eléia (488-430 a.C.) elaborou argumentos para defender a doutrina de seu mestre. Com eles pretendia demonstrar que a própria noção de movimento era inviável e contraditória.
Desses argumentos, talvez o mais célebre seja o paradoxo de Zenão, que se refere à corrida de Aquiles com uma tartaruga. Dizia Zenão:
1. Se, na corrida, a tartaruga saísse à frente de Aquiles, para alcançá-la, ele precisaria percorrer uma distância superior à metade da distância inicial que os separava no começo da competição.
 b. Entretanto, como a tartaruga continuaria se locomovendo, essa distância, por menor que fosse, teria se ampliado. Aquiles deveria percorrer, então, mais da metade dessa nova distância.
c. A tartaruga, contudo, continuaria se movendo, e a tarefa de Aquiles se repetiria ao infinito, pois o espaço pode ser dividido em infinitos pontos. Na observação que fazemos do mundo, através dos nossos sentidos, é evidente a não-correspondência com os argumentos de Zenão. Entretanto, esses argumentos demonstram as dificuldades por que passou o pensamento, racional para compreender conceitos como movimento, espaço, tempo e infinito.

Empédocles de Agrigento: a unidade de tudo aquilo que se ama
Pois destes (os elementos) todos se constituíram harmonizados, e por estes é que pensam, sentem prazer e dor.
EMPÉDOCLES

Nascido em Agrigento (ou Acragas), sul da Sicília, Empédocles (490-430 a.C, aproximadamente) esforçou-se por conciliar as concepções de Parmênides e Heráclito. Aceitava de Parmênides a racionalidade que afirma a existência e permanência do ser ("o ser é"), mas procurava encontrar uma maneira de tornarem racionais os dados captados por nossos sentidos.
Defendia a existência de quatro elementos primordiais, que constituem as raízes de todas as coisas percebidas: o fogo, a terra, a água e o ar. Esses elementos são movidos e misturados de diferentes maneiras em função de dois princípios universais opostos:
•       o amor (philia, em grego): responsável pela força de atração e união e pelo movimento de crescente harmonização das coisas;
•       o ódio (neikos, em grego): responsável pela força de repulsão e desagregação e pelo movimento de decadência, dissolução e separação das coisas.
Para ele, todas as coisas existentes na realidade estão submetidas às forças cíclicas desses dois princípios.

Demócrito de Abdera: o átomo como explicação da diversidade
O homem, um microcosmo.
DEMÓCRITO

Nascido em Abdera, cidade situada no litoral entre a Macedônia e a Trácia, Demócrito (460-370 a.C, aproximadamente) foi discípulo de Leucipo(Segundo a tradição, Leucipo de Mileto é considerado o fundador da escola atomista)  e um pensador brilhante. "Só a tradição impõe o título de pré-socrático a este pensador importante, nascido e morto depois de Sócrates." (BERNHAKDT. op, cit. p 51).
Responsável pelo desenvolvimento do atomismo, Demócrito afirmava que todas as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e indivisíveis. Essas partículas foram chamadas de átomos, termo grego que significa "não-divisível" {a = negação; tomo = divisível).
Para ele, o átomo seria o equivalente ao conceito de ser em Parmênides. Além dos átomos, existiria no mundo real o vácuo, que representaria a ausência de ser (o não-ser). Devido à existência do vácuo, o movimento do ser torna-se possível. O movimento dos átomos permite infinita diversidade de composições. Demócrito distinguia três fatores básicos para explicar as diferentes composições dos átomos:
•       Figura: a forma geométrica de cada átomo.
Exemplo: forma de A   forma de B
•       Ordem: a sequência espacial dos átomos de mesma figura. Exemplo: AB BA
•       Posição: a localização espacial dos átomos.
Exemplo: B
Para Demócrito, é o acaso ou a necessidade que promove a aglomeração de certos átomos e a repulsão de outros. O acaso é o encadeamento imprevisível de causas. A necessidade é o encadeamento previsível e determinado entre causas. As infinitas possibilidades de aglomeração dos átomos explicam a infinita variedade de coisas existentes.
A principal contribuição trazida pelo atomismo de Demócrito à história do pensamento é a concepção mecanicista segundo a qual "tudo o que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade". Isto é, "nada nasce do nada, nada retorna ao nada". Tudo tem uma causa. E os átomos são a causa última do mundo.



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