Aula Sobre Globalização – 3º Ensino
Médio
Um dos principais temas abordados
pela História e pela Geografia é o processo de globalização. Esse assunto
sempre está em evidência nos meios de comunicação e nos livros dos estudantes,
entretanto, muitas pessoas não compreendem como a globalização está presente
nas nossas rotinas e como exerce grande influência em vários aspectos do nosso
cotidiano.
Ao abordar a globalização em sala de
aula, o educador deve elucidar que esse é um fenômeno do modelo econômico
capitalista e que se trata do estágio supremo da internacionalização do espaço
por meio da interligação econômica, política, social e cultural em âmbito
planetário.
Após apresentar o conceito, realize
uma abordagem histórica sobre o tema, destacando as grandes navegações do
século XVI e as trocas de mercadorias entre as nações, visto que esse processo
caracteriza a expansão do mercantilismo.
Questione os estudantes sobre as
formas na qual a globalização interfere em suas vidas. Em seguida, apresente
aspectos que foram proporcionados por esse processo e que são vivenciados pelos
alunos, como, por exemplo, a evolução dos meios de comunicação e o uso da
internet.
Destaque as mudanças em alguns
hábitos alimentares que foram impulsionados pela instalação de filiais de
transnacionais, sendo uma das mais conhecidas à rede de fast food, McDonald’s.
Outros bons exemplos são o uso de tênis de marcas estrangeiras (Nike, Adidas,
etc.), programas televisivos de outros países, uso da internet (rede mundial de
comunicação), entre outros.
Todos esses elementos interferem na
formação cultural das pessoas, ocorrendo uma tentativa de homogeneização dos
hábitos da população. Após essa abordagem, solicite a análise da seguinte
figura:
McDonald’s em um país árabe
Por fim, promova um debate com a
turma, destacando as principais consequências da globalização, abordando a
expansão das transnacionais (utilizando a figura como referência), a formação
de blocos econômicos, tentativa de massificação cultural, aspectos positivos e
negativos, entre outros assuntos pertinentes.
Lembrando que é de extrema
importância discutir que a globalização tem consequências distintas entre os
países, sendo as nações ricas as principais beneficiadas e que, apesar da
tentativa de implantar uma cultura de massa imposta pelos meios de comunicação,
os elementos da cultura local perduram em meio à população, promovendo assim a
diferenciação entre os locais.
Globalização, ontem e hoje
Introdução
A expressão "globalização"
tem sido utilizada mais recentemente num sentido marcadamente ideológico, no
qual se assiste no mundo inteiro a um processo de integração econômica sob a
égide do neoliberalismo, caraterizado pelo predomínio dos interesses
financeiros, pela desregulamentação dos mercados, pelas privatizações das
empresas estatais, e pelo abandono do estado de bem-estar social. Esta é uma
das razões dos críticos acusarem-na, a globalização, de ser responsável pela
intensificação da exclusão social (com o aumento do número de pobres e de
desempregados) e de provocar crises econômicas sucessivas, arruinando milhares
de poupadores e de pequenos empreendimentos.
No texto que se segue não trataremos
deste fenômeno no sentido ideológico, mas sim, no seu significado histórico.
Demonstramos que o processo de globalização (aqui entendido como integração e
interdependência econômica) deita suas raízes há muito tempo atrás, no mínimo há
5 séculos, passando desde então por etapas diversas. Aqui o termo é empregado
para fins específicos de uma síntese histórica, bem distante das manipulações
ideológicas que possam ele sofrer. Portanto, para nós, ele tem um significado
mais profundo e não apenas propagandístico.
As Economias-Mundo antes das
Descobertas
Antes de ter início à primeira fase
da globalização, os Continentes encontravam-se separados por intransponíveis
extensões acidentadas de terra e de águas, de oceanos e mares, que faziam com
que a maioria dos povos e das culturas soubesse da existência uma das outras
apenas por meio de lendas, com a do Preste João, ou imprecisos e imaginários
relatos de viajantes, como o de Marco Polo. Cada povo viva isolado dos demais,
cada cultura era autossuficiente. Nascia, vivia e morria no mesmo lugar, sem
tomar conhecimento da existência dos outros.
Até o século 15 identificamos 5
economias-mundo (é uma expressão de Fernand Braudel), totalmente autônomas,
espalhadas pela Terra e que viviam separadas entre elas. A primeira delas, a da
Europa, era composta pelas cidades italianas de Gênova, Veneza, Milão e
Florença, que mantinham laços comerciais e financeiros com o Mediterrâneo e o
Levante onde possuíam importantes feitorias e bairros comerciais. Bem mais ao
norte, na França setentrional, vamos encontrar outra área comercial
significativa na região de Flandres, formada pelas cidades de Lille, Bruges e
Antuérpia, vocacionadas para os negócios com o Mar do Norte. No Mar Báltico
entrava-se a Liga de Hansa, uma cooperativa de mais de 200 cidades mercantes
lideradas por Lübeck e Hamburgo, que mantinham um eixo comercial que ia de
Novgorod, na Rússia, até Londres na Inglaterra.
No sudeste europeu, por então,
agoniza o comércio bizantino (que atuava no mar Egeu e no mar Negro),
pressionado pela expansão dos turcos que terminaram por ocupar a grande cidade
em 1453, enquanto que a Rússia via-se limitada pelos Canatos Mongóis que
ocupavam boa parte do leste do país.
Outra economia-mundo era formada pela
China e regiões tributárias como a península coreana, a Indochina e a Malásia,
e que só se ligava com a Ásia Central e o Ocidente através da rota da seda. O
seu maior dinamismo econômico encontrava-se nas cidades do sul como Cantão e do
leste como Xangai, grande portos que faziam a função de vasos comunicantes com
os arquipélagos do Mar da China.
A Índia, por sua vez, graças a sua
posição geográfica, traficava num raio econômico mais amplo. No noroeste, pelo
Oceano Índico e pelo Mar Vermelho, estabelecia relações com mercadores árabes
que tinham feitorias em Bombaim e outros portos da Índia ocidental, enquanto
que comerciantes malaios eram acolhidos do outro lado, em Calcutá. Seu imenso
mercado de especiarias e tecidos finos era afamado, mas só pouca coisa chegava
ao Ocidente graças ao comércio com o Levante. Foi à celebração das suas
riquezas que mais atraiu a cobiça dos aventureiros europeus como o lusitano
Vasco da Gama.
Subdividida pelo deserto do Saara
numa África árabe ao Norte, que ocupa uma faixa de terra a beira do
Mediterrâneo e Vale do rio Nilo, com relações comerciais mais ou menos intensas
com os portos europeus e, ao Sul, numa outra África, a África negra, isolada do
mundo pelo deserto e pela floresta tropical, formava outro planeta econômico
totalmente a parte, voltado para si mesmo.
Por último, mas desconhecida das
demais, encontrava-se aquela formada pelas civilizações pré-colombianas, a
Azteca no México, a dos Maias no Yucatan e no istmo, e a Inca no Peru,
organizadas ao redor do cultivo do milho e na elaboração de tecidos, sendo elas
autossuficientes e sem interligações entre si, nem terrestres nem oceânicas.
Durante milhares de anos elas
desconheceram-se e nem imaginavam que algum dia poderia estabelecer relações
significativas. Se for certo que em suas bordas havia escambo ou comércio, eles
eram insignificantes. Portanto, numa longa perspectiva, pode-se dizer que a
internacionalização do comércio e a aproximação das culturas é um fenômeno
recentíssimo, datando dos últimos cinco séculos, apenas 10% do tempo da
história até agora conhecida.
A primeira fase da
Globalização (1450-1850)
“Por mares nunca dantes navegados/...Em
perigos e guerra esforçados, mais do que prometia a força humana/ E entre gente
remota edificaram/ Novo reino, que tanto sublimaram” - Luís de Camões - Os
Lusíadas, Canto I, 1572.
Há, como em quase tudo que diz
respeito à história, grande controvérsia em estabelecer-se uma periodização
para estes cinco séculos de integração econômica e cultural, que chamamos de
globalização, iniciados pela descoberta de uma rota marítima para as Índias e
pelas terras do Novo Mundo. Frédéric Mauro, por exemplo, prefere separá-lo em
dois momentos, um que vai de 1492 até 1792 (data quando, segundo ele, a
Revolução Francesa e a Revolução Industrial fazem com que a Europa, que liderou
o processo inicial da globalização, voltou-se para resolver suas disputas e
rivalidades), só retomando a expansão depois de 1870, quando amadureceram as
novas técnicas de transporte e navegação como a estrada-de-ferro e o navio a vapor.
No critério por nós adotado,
consideramos que o processo de globalização ou de economia-mundo capitalista
como preferiu Immanuel Wallerstein, nunca se interrompeu. Ocorreram-se momentos
de menor intensidade, de contração, ela nunca chegou a cessar totalmente. De
certo modo até as grandes guerras mundiais de 1914-18 e de 1939-45, e antes
delas a Guerra dos 7 anos (de 1756-1763), provocaram a intensificação da
globalização quando se adotaram macro estratégias militares para acossar os
adversários, num mundo quase inteiramente transformado em campo de batalha.
Basta recordar que soldados europeus, nas duas maiores guerras do século 20,
lutavam entre si no Oriente Médio e na África, enquanto que tropas colônias
desembarcavam na Europa e marchavam para os campos de batalha nas planícies
francesas enquanto que as marinhas europeias, americanas e japonesas se
engalfinhavam em quase todos os mares do mundo.
Assim sendo, nos definimos pelas
seguintes etapas: primeira fase da globalização, ou primeira globalização,
dominada pela expansão mercantilista (de 1450 a 1850) da economia-mundo europeia,
a segunda fase, ou segunda globalização, que vai de 1850 a 1950 caracterizada
pelo expansionismo industrial-imperialista e colonialista e, por última, a
globalização propriamente dita, ou globalização recente, acelerada a partir do
colapso da URSS e a queda do muro de Berlim, de 1989 até o presente.
Períodos da
Globalização
Data Período Caracterização
1450-1850 Primeira fase Expansionismo
mercantilista
1850-1950 Segunda fase Industrial-imperialista-colonialista
pós-1989 Globalização recente Cibernética-tecnológica-associativa
A primeira globalização, resultado da
procura de uma rota marítima para as Índias, assegurou o estabelecimento das
primeiras feitorias comerciais europeias na Índia, China e Japão, e,
principalmente, abriu aos conquistadores europeus as terras do Novo Mundo.
Feitos estes que Adam Smith, em sua visão eurocêntrica, considerou os maiores
em toda a história da humanidade. Enquanto as especiarias eram embarcadas para
os portos de Lisboa e de Sevilha, de Roterdã e Londres, milhares de imigrantes
iberos, ingleses e holandeses, e, um bem menor número de franceses,
atravessaram o Atlântico para vir ocupar a América. Aqui formaram colônias de
exploração, no sul da América do Norte, no Caribe e no Brasil, baseadas
geralmente num só produto (açúcar, tabaco, café, minério, etc..) utilizando-se
de mão de obra escrava vinda da África ou mesmo indígena; ou colônias de
povoamento, estabelecidas majoritariamente na América do Norte, baseadas na
média propriedade de exploração familiar. Para atender as primeiras, as
colônias de exploração, é que o brutal tráfico negreiro tornou-se rotina,
fazendo com que 11 milhões de africanos (40% deles destinados ao Brasil) fossem
transportados pelo Atlântico para labutar nas lavouras e nas minas.
Igualmente não se deve omitir que ela
promoveu uma espantosa expropriação das terras indígenas e no sufocamento ou
destruição da sua cultura. Em quase toda a América ocorreu uma catástrofe
demográfica, devido aos maus tratos que a população nativa sofreu e as doenças
e epidemias que os devastaram, devido ao contato com os colonizadores europeus.
Nesta primeira fase estrutura-se um
sólido comércio triangular entre a Europa (fornecedora de manufaturas) África
(que vende seus escravos) e América (que exporta produtos coloniais). A imensa
expansão deste mercado favorece os artesãos e os industriais emergentes da
Europa que passam a contar com consumidores num raio bem mais vasto do que
aquele abrigado nas suas cidades, enquanto que a importação de produtos
coloniais faz ampliar as relações intereuropeias. Exemplo disso ocorre com o
açúcar cuja produção é confiada aos senhores de engenho brasileiros, mas que é
transportado pelos lusos para os portos holandeses, onde lá se encarregam do
seu refino e distribuição.
Os principais portos europeus,
americanos e africanos desta primeira globalização encontram-se em Lisboa,
Sevilha, Cádiz, Londres, Liverpool, Bristol, Roterdã, Amsterdã, Le Havre,
Toulouse, Salvador, Rio de Janeiro, Lima, Buenos Aires, Vera Cruz, Porto Belo,
Havana, São Domingo, Lagos, Benin, Guiné, Luanda e Cidade do Cabo.
Politicamente, a primeira fase da
globalização se fez quase toda ela sob a égide das monarquias absolutistas que
concentram enorme poder e mobilizam os recursos econômicos, militares e
burocráticos, para manterem e expandirem seus impérios coloniais. Os principais
desafios que enfrentam advinham das rivalidades entre elas, seja pelas disputas
dinástico-territoriais ou pela posse de novas colônias no além-mar, sem
esquecer-se dos enorme estragos que os corsários e piratas faziam,
especialmente nos séculos 16 e 17, contra os navios carregados de ouro e prata
e produtos coloniais.
A doutrina econômica desta primeira
fase foi o mercantilismo, adotado pela maioria das monarquias europeias para
estimular o desenvolvimento da economia dos reinos. Ele compreendia numa
complexa legislação que recorria a medidas protecionistas, incentivos fiscais e
doação de monopólios, para promover a prosperidade geral. A produção e
distribuição do comércio internacional eram feita por mercadores privados e por
grandes companhias comerciais (as Cias. inglesas e holandesas das Índias Orientais
e Ocidentais) e, em geral, eram controladas localmente por corporações de
ofício.
Todo o universo econômico
destinava-se a um só fim, entesourar, acumular riqueza. O poder de um reino era
aferido pela quantidade de metal precioso (ouro, prata e joias preciosas)
existente nos cofres reais. Para assegurar seu aumento o estado exercia um
sério controle das importações e do comércio com as colônias, sobre as quais
exerciam o oligopólio bilateral. (*)Esta política levou a que cada reino
europeu terminasse por se transformar num império comercial, tendo colônias e
feitorias espalhadas pelo mundo todo ( os principais impérios coloniais foram o
inglês, o espanhol, o português, o holandês e o francês). Um dos símbolos desta
época, a bolsa de valores de Amberes, consciente do que representava, tinha
como justo lema a frase latina “Ad usum mercatorum cujusque gentis ac linguae”,
que ela servia aos mercadores de todas as línguas da terra.
(*) o oligopólio bilateral é uma
expressão que serve para descrever a situação de subordinação em que as
colônias se encontravam perante as metrópoles. Além de estarem impedidas de
negociarem com outros países, elas eram obrigadas a adquirir suas necessidades
apenas com negociantes e mercadores metropolitanos bem como somente vender a
eles o que produziam, desta forma a metrópole ganhava ao vender e ao comprar.
A segunda fase da Globalização (1850-1950)
"Por meio de sua exploração do
mercado mundial,a burguesia deu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo
em todos os países...As velhas indústrias nacionais foram destruídas ou
estão-se se destruindo dia a dia....Em lugar das antigas necessidades
satisfeitas pela produção nacional, encontramos novas necessidades que querem
para a sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas os
mais diversos. Em lugar do antigo isolamento local...desenvolvem-se, em todas
as direções, um intercâmbio e uma interdependência universais.." - Karl Marx
- Manifesto Comunista, 1848
Os principais acontecimentos que
marcam a transição da primeira fase da globalização para a segunda dão-se nos
campos da técnica e da política. A partir do século 18, a Inglaterra
industrializa-se aceleradamente e, depois dela, a França, a Bélgica, a Alemanha
e a Itália. A máquina a vapor é introduzida nos transportes terrestres
(estradas-de-ferro) e marítimos (barcos a vapor) Consequentemente esta nova
época será regida pelos interesses da indústria e das finanças, sua associada
e, por vezes amplamente dominante, e não mais das motivações dinástico-mercantis.
Será a grande burguesia industrial e bancária, e não mais os administradores
das corporações mercantis e os funcionários reais quem liderará o processo.
Esta interpenetração dos bancos com a indústria, com tendências ao monopólio ou
ao oligopólio, fez com que o economista austríaco Rudolf Hilferding a
denominasse de “O Capital Financeiro” (Das Finanz kapital, titulo da sua obra
publicado em 1910), considerando-a um fenômeno novo da economia-politica
moderna. Lenin definiu-a como a etapa final do capitalismo, a etapa do
imperialismo.
Luta ele - o capital financeiro -
pela ampliação dos mercados e pela obtenção de novas e diversas fontes de
matérias primas. A doutrina econômica em que se baseia é a do capitalismo
laissez-faire, um liberalismo radical inspirado nos fisiocratas franceses e
apoiado pelos economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo que advogavam a
superação do Mercantilismo com suas políticas arcaicas. Defendem o
livre-cambismo na relações externas, mas em defesa das suas indústrias internas
continuam em geral protecionistas, como é o caso da política Hamiltoniana nos
Estados Unidos e a da Alemanha Imperial e a do Japão(*).
A escravidão que havia sido o grande esteio
da primeira globalização, tornou-se um impedimento ao progresso do consumo e,
somada à crescente indignação que ela provoca, termina por ser abolida,
primeiro em 1789 e definitivamente em 1848 ( no Brasil ela ainda irá sobreviver
até 1888). Este segundo momento - segundo a orientação do que Hobson chamou de
“a politica de uma minoria sem escrúpulos” -, irá se caracterizar pela ocupação
territorial de certas partes da África e da Ásia, além de estimular o
povoamento das terras semi-desocupadas da Austrália e da Nova Zelândia.
No campo da política a revolução
americana de 1776 e a francesa de 1789, irão liberar enorme energia fazendo com
que a busca da realização pessoal termine por promover uma grande ascensão
social das massas. Logo depois, como resultado das Guerras Napoleônicas e da
generalizada abolição da servidão e outros impedimentos feudais, milhões de
europeus (calcula-se em 60 milhões num século) abandonam seus lares nacionais e
emigram em massa para os Estados Unidos, Canadá, e para a América do Sul
(Brasil, Argentina, Chile e Uruguai).
A posse de novas colônias torna-se um
ornamento na política das potências ( só a Grã-Bretanha possui mais de 50,
ocupando inclusive áreas antieconômicas). O cobiçado mercado chinês finalmente
é aberto pelo Tratado de Nanquim de 1842 e o Japão também é forçado a abandonar
a política de isolamento da época Tokugawa ao assinar um tratado com os
americanos em 1853-4.
Cada uma das potências europeias
rivaliza-se com as demais na luta pela hegemonia do mundo, ou como disse John
Strachey: “lançaram-se unanimemente, numa rivalidade feroz...para anexar o
resto do mundo”. O resultado é um acirramento da corrida imperialista e da
política belicista que levará os europeus à duas guerras mundiais, a de 1914-18
e a de 1939-45. Entrementes outros aspectos técnicos ajudam a globalização: o
trem e o barco a vapor encurtam as distâncias, o telégrafo e , em seguida, o
telefone, aproximam os continentes e os interesses ainda mais. E,
principalmente depois do voo transatlântico de Charles Lindbergh em 1927, a
aviação passa a ser mais um elemento que permite o mundo tornar-se menor.
Nestes cem anos da segunda fase da
globalização (1850-1950) os antigos impérios dinásticos desabaram (o dos
Bourbons em 1789 e, definitivamente, em 1830, o dos Habsburgos e dos
Hohenzollers em 1914, o dos Romanov em 1917) Das diversas potências que
existiam em 1914 (O Império britânico, o francês, o alemão, o austro-húngaro, o
italiano, o russo e o turco otomano) só restam depois da 2ª Guerra, as
superpotências: os Estados Unidos e a União Soviética.
Feridas pelas guerras as metrópoles
deram para desabar, obrigando-se a aceitar a libertação dos povos coloniais que
formaram novas nações. Mesmo assim, umas independentes e outras neocolonizadas,
continuaram ligadas ao sistema internacional. Somam-se, no pós-1945, os países
do Terceiro Mundo recém-independente (a Índia é a primeira a obtê-la em 1947)
às nações latino-americanas que conseguiram sua autonomia política entre
1810-25, ainda no final da primeira fase da globalização. No entanto nem a
descolonização nem as revoluções comunistas, a da Rússia de 1917 e a da China
de 1949, servirão de entrave para que a mais longo prazo o processo de
globalização seja retomado.
(*) Os países industrializados
defendem o livre-cambismo ( o preço melhor vence) quando se sentem fortes, como
foi o caso da Inglaterra nos séculos 18 e 19 e hoje é a posição dominante dos
E.U.A. Mas para aqueles que precisam criar sua própria indústria ou proteger a
que está ainda se afirmando, precisam recorrer à política protecionista com
suas elevadas barreiras alfandegárias para evitar sua quebra.
A Globalização recente (pós-1989)
“O conceito do direito mundial de
cidadania não os protege (os povos) contra a agressão e a guerra, mas a mútua
convivência e proveito os aproxima e une. O espirito comercial, incompatível
com a guerra, se apodera tarde ou cedo dos povos. De todos os poderes
subordinados à força do Estado, é o poder do dinheiro que inspira mais
confiança e por isto os Estados se vêm obrigados - não certamente por motivos
morais- a fomentar a paz...” - I.Kant - A paz perpétua, 1795
No decorrer do século 20 três grandes
projetos de liderança da globalização conflitaram-se entre si: o comunista,
inaugurado com a Revolução bolchevique de 1917 e reforçado pela revolução maoísta
na China em 1949; o da contrarrevolução nazifascista que, em grande parte, foi
uma poderosa reação direitista ao projeto comunista, surgido nos anos de 1919,
na Itália e na Alemanha, estendendo-se ao Japão, que foi esmagado no final da
2ª Guerra Mundial, em 1945; e, finalmente, o projeto liberal-capitalista
liderado pelos países anglo-saxões, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.
Num primeiro momento ocorreu a
aliança entre o liberalismo e o comunismo (em 1941-45) para a autodefesa e,
depois, a destruição do nazi-fascismo. Num segundo momento os vencedores, os
EUA e a URSS, se desentenderam gerando a guerra fria (1947-1989), onde o
liberalismo norte-americano rivalizou-se com o comunismo soviético numa guerra
ideológica mundial e numa competição armamentista e tecnológica que quase levou
a humanidade a uma catástrofe (a crise dos mísseis de 1962).
Com a política da glasnost, adotada
por Mikhail Gorbachov na URSS desde 1986, a guerra fria encerrou-se e os Estados
Unidos proclamaram-se vencedores. O momento símbolo disto foi a derrubada do
Muro de Berlim ocorrida em novembro de 1989, acompanhada da retirada das tropas
soviéticas da Alemanha reunificada e seguida da dissolução da URSS em 1991. A
China comunista, por sua vez, que desde os anos 70 adotara as reformas visando
sua modernização, abriu-se em várias zonas especiais para a implantação de
indústrias multinacionais. A política de Deng Xiaoping de conciliar o
investimento capitalista com o monopólio do poder do partido comunista,
esvaziou o regime do seu conteúdo ideológico anterior. Desde então só restou
hegemônica no moderno sistema mundial a economia-mundo capitalista, não havendo
nenhuma outra barreira a antepor-se à globalização.
Chegamos desta forma a situação
presente onde sobreviveu uma só superpotência mundial: os Estados Unidos. É a
única que tem condições operacionais de realizar intervenções militares em
qualquer canto do planeta (Kuwait em 1991, Haiti em 1994, Somália em 1996,
Bosnia em 1997, etc..). Enquanto na segunda fase da globalização vivia-se na
esfera da libra esterlina, agora é a era do dólar, enquanto que o idioma inglês
tornou-se a língua universal por excelência. Pode-se até afirmar que a
globalização recente nada mais é do que a americanização do mundo.
Desequilíbrios e perspectivas da globalização
O processo produtivo mundial é
formado por um conjunto de umas 400-450 grandes corporações (a maioria delas
produtora de automóveis e ligada ao petróleo e às comunicações) que têm seus investimentos
espalhados pelos 5 continentes. A nacionalidade delas é majoritariamente
americana, japonesa, alemã, inglesa, francesa, suíça, italiana e holandesa.
Portanto, pode-se afirmar sem erro que os países que assumiram o controle da
primeira fase da globalização (a de 1450-1850), apesar da descolonização e dos
desgastes das duas guerras mundiais, ainda continuam obtendo os frutos do que
conquistaram no passado. A razão disso é que detêm o monopólio da tecnologia e
seus orçamentos, estatais e privados, dedicam imensas verbas para a ciência
pura e aplicada.
Politicamente a globalização recente
caracteriza-se pela crescente adoção de regimes democráticos. Um levantamento
indicou que 112 países integrantes da ONU, entre 182, podem ser apontados como
seguidores (ainda que com várias restrições) de práticas democráticas, ou pelo
menos, não são tiranias ou ditaduras. A título de exemplo lembramos que na
América do Sul, na década dos 70, somente a Venezuela e a Colômbia mantinham
regimes civis eleitos. Todos os demais países eram dominados por militares (
personalistas como no Chile, ou corporativos como no Brasil e Argentina).
Enquanto que agora , nos finais dos noventa, não temos nenhuma ditadura na
América do Sul. Neste processo de universalização da democracia as barreiras
discriminatórias ruíram uma a uma (fim da exclusão motivada por sexo, raça,
religião ou ideologia), acompanhado por uma sempre ascendente padronização
cultural e de consumo.
A ONU que deveria ser o embrião de um
governo mundial foi tolhida e paralisada pelos interesses e vetos das
superpotências durante a guerra fria. Em consequência dessa debilidade,
formou-se uma espécie de estado-maior informal composto pelos dirigentes do G-7
(os EUA, a GB, a Alemanha, a França, o Canadá, a Itália e o Japão), por vezes
alargado para dez ou vinte e cinco, cujos encontros frequentes têm mais efeitos
sobre a política e a economia do mundo em geral do que as assembleias da ONU.
Enquanto que no passado os
instrumentos da integração foram à caravela, o galeão, o barco à vela, o barco
a vapor e o trem, seguidos do telégrafo e do telefone, a globalização recente
se faz pelos satélites e pelos computadores ligados na Internet. Se antes ela
martirizou africanos e indígenas e explorou a classe operária fabril, hoje se
utiliza do satélite, do robô e da informática, abandonando a antiga dependência
do braço em favor do cérebro, elevando o padrão de vida para patamares de
saúde, educação e cultura até então desconhecidos pela humanidade.
O domínio da tecnologia por um seleto
grupo de países ricos, porém, abriu um fosso com os demais, talvez o mais
profundo em toda a história conhecida. Roma, quando império universal, era
superior aos outros povos apenas na arte militar, na engenharia e no direito.
Hoje os países-núcleos da globalização (os integrantes do G-7), distam, em
qualquer campo do conhecimento, anos-luz dos países do Terceiro Mundo (*).
Ninguém tem a resposta nem a solução
para atenuar este abismo entre os ricos do Norte e os pobres do Sul que só se
ampliou. No entanto, é bom que se reconheça que tais diferenças não resultam de
um novo processo de espoliação como os praticados anteriormente pelo
colonialismo e pelo imperialismo, pois não implicaram numa dominação política,
havendo, bem ao contrário, uma aproximação e busca de intercâmbio e cooperação.
(*) Quanto à exportação de produtos
da vanguarda tecnológica (microeletrônica, computadores, aeroespaciais,
equipamento de telecomunicações, máquinas e robôs, equipamento científico de
precisão, medicina e biologia e químicos orgânicos), Os EUA são responsáveis
por 20,7%; a Alemanha por 13,3%; o Japão por 12,6%; o Reino Unido por 6,2%, e a
França por 3,0% , etc..logo apenas estes 5 países detêm 55,8% da exportação
mundial delas.
Imagina-se que a Globalização,
seguindo o seu curso natural, irá enfraquecer cada vez mais os
estados-nacionais surgidos há cinco séculos, ou dar-lhes novas formas e
funções, fazendo com que novas instituições supranacionais gradativamente os
substituam. Com a formação dos mercados regionais ou intercontinentais (Nafta,
Unidade Europeia, Comunidade Econômica Independente [a ex-URSS], o Mercosul e o
Japão com os tigres asiáticos), e com a consequente interdependência entre
eles, assentam-se as bases para os futuros governos transnacionais que, provavelmente,
servirão como unidades federativas de uma administração mundial a ser
constituída. É bem provável que ao findar o século 21, talvez até antes, a
humanidade conhecerá por fim um governo universal, atingindo-se assim o sonho
dos filósofos estoicos do homem cosmopolita, aquele que se sentirá em casa em
qualquer parte da Terra.
Leia mais:
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Bibliografia
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- Editora Campus, Rio de Janeiro, 1993
Mauro, Frédéric - La expansión europea (1600-1870)
- Editorial Labor, Barcelona, 1968
Wallerstein, Immanuel - El sistema mundial,
Siglo XXI editores, México, 1984, vol I e II
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