4ª Aula de Filosofia - 1º Ano Ensino Médio - Manhã, Tarde e Noite
LÓGICA
A Lógica estuda a Razão como instrumento do
conhecimento. Para estudar qualquer instrumento complexo, uma máquina agrícola,
por exemplo, não começaríamos por experimentar seu funcionamento, procurando
como nos servir dela DE UMA MANEIRA CORRETA e sem danificá-la? Do mesmo
modo, deveremos antes de tudo determinar como nos servir da razão de maneira
correta, isto é, conforme à natureza do raciocínio e sem prejudicá-lo. Daí o
primeiro problema: Quais são as regras que precisamos para raciocinar correta
mente?
Problema central da Lógica menor ou Lógica formal,
Depois disso, não iríamos nós estudar
a máquina em questão, não mais por pura experiência, mas na sua aplicação na
própria matéria que ela deve trabalhar, procurando como nos servir dela não
somente de uma maneira correta, mas ÚTIL E EFICAZ?
Portanto, do mesmo modo será
necessário que examinemos o raciocínio em sua aplicação nas coisas, fazendo a
pergunta: Em que condições o raciocino é
somente correto, mas também verdadeiro e demonstrativo, e faz adquirir a
ciência?
Problema central da Lógica maior ou Lógica material,
É nesta parte da Lógica que deveremos
estudar os métodos das diversas ciências. Mas, antes disso, apresentar-se-á um
problema muito mais grave.
Por que meio as coisas se tornam
presentes ao nosso espírito de maneira a podermos raciocinar sobre elas e delas
adquirir a ciência? Pelas nossas
ideias.
Toda pessoa sabe por experiência o que
é uma ideia basta-lhe refletir o que tem em si quando faz um julgamento qualquer,
como, por exemplo, "os filósofos cometeram muitos erros.” "filósofos",
"erros", "cometeram", "muitos", tudo isso é apresentado
a seu espírito por ideias. A fim de evitar qualquer equívoco, procuremos, pois,
descrever o que cada um entende por essa palavra. Diremos, por exemplo: as ideias
são as imagens ou reproduções internas das coisas pelas quais estas nos são
apresentadas de maneira que possamos raciocinar sobre elas (e, portanto adquirir-lhes a ciência).
O que fazem as palavras que empregamos,
senão exprimir nossas ideias? Sim, sem dúvida. Mas trazem consigo outra coisa a
mais. Se eu digo, por exemplo, a palavra Anjo, não tenho, por acaso duas imagens do ser em questão?
Primeiramente uma ideia que me faz conhecer propriamente este ser (ideia de
espírito puro), mas também uma representação sensível (a imagem de qualquer
figura mais ou menos vaporosa e alada), a qual não corresponde absolutamente ao
ser em questão, porque um ser puramente espiritual não pode ser visto.
Se digo ainda, a palavra Quadrado, por exemplo, tenho em mim
a ideia do quadrado, pela qual posso raciocinar sobre a coisa de que se trata
(ideia de polígono retangular de quatro lados iguais) e tenho ao mesmo tempo a
representação sensível — que, aliás, desta vez corresponde bem à coisa em
questão — de tal desenho que imagino feito no quadro negro com giz. Ora, esta
ideia e esta representação são bem diferentes; a prova é que posso fazer variar
a segunda de muitas maneiras (o desenho que imagino pode ser maior ou menor,
branco, vermelho, amarelo, etc.) sem que a primeira varie por causa disso. Além
disso, se dissesse, por exemplo, Miriágono, em vez de Quadrado, não teria dessa
figura uma ideia tão clara e distinta como do Quadrado (ideia de polígono de dez
mil lados), enquanto que a representação sensível que eu fizesse no meu
espírito só poderia ser excessivamente vaga e confusa.
Ideia e Imagem.
É claro que, embora as representações sensíveis
me ajudem a raciocinar, não é, no
entanto com elas que raciocino para adquirir a ciência das coisas: porque posso
racionar sobre o Anjo ou sobre o Miriágono de modo tão exato como raciocino
sobre o Quadrado. E meu raciocínio em
nada depende das mil variações que posso dar às minhas representações sensíveis do Anjo, do Miriágono ou do
Quadrado.
Concluamos daí que as coisas se nos
apresentam de dois modos muito diferentes, ou
POR UMA IDÉIA
ou
POR UMA REPRESENTAÇÃO SENSÍVEL.
Pela primeira pensamos (intelligimus) a
coisa; pela segunda imaginamo-la. A representação sensível não passa de uma
espécie de fantasma, uma imagem daquilo que vimos, ouvimos, tocamos, em suma,
daquilo que nos foi mostrado, primeiramente por uma sensação; antigamente chamavam-na
de fantasma, hoje a denominam simplesmente imagem. Daqui por diante reservar-lhe-emos este
nome de imagem, restringindo assim a sua significação. (Mas então não deveremos
mais empregar esta mesma palavra a respeito da-ideia.) Digamos, portanto, que
CONCLUSÃO . As ideias
são as similitudes internas das coisas pelas quais estas nos são apresentadas
de modo que possamos raciocinar sobre elas (por conseguinte adquirir-lhes a
ciência); as imagens são as similitudes internas das coisas pelas quais essas
mesmas coisas nos são apresentadas como nos as mostraram primeiramente nossas
sensações. As palavras significam diretamente as ideias, mas evocando ao mesmo
tempo imagens.
Se depois disso compararmos as coisas
tais quais nos são apresentadas pelas ideias e as coisas tais quais nos são
apresentadas pelas sensações ou imagens, é fácil ver que elas se distinguem
umas das outras, por certo caráter de
importância capital. Se evoco, a imagem
de um homem, por exemplo, vejo aparecer na minha imaginação, com contornos mais
ou menos vagos ou mais ou menos simplificados, tal ou tal homem em particular.
É louro ou moreno, grande ou pequeno, preto ou branco, etc. Porém, quando formo
a ideia do homem, como, por exemplo, ao dizer que "o homem é superior aos
animais sem razão", ou "os brancos e os negros são igualmente
homens", esta ideia não me apresenta nenhum homem particular, deixa de
lado todos os sinais individuais que distinguem este homem daquele. Ela faz
abstração de ambos, como dizem os filósofos.
(MARITAIN, Jacques. Introdução Geral
à Filosofia, Ed. Agir, 1978,Rio de Janeiro-RJ, p. 102-104)
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