Continuação 4ª Aula de Filosofia dos 1º Anos Ens. Médio M,T e Noite
IDEOLOGIA NA ESCOLA
Há uma
corrente de filósofos da educação denominada reprodutivista, da qual são
representantes Bourdieu e Passeron. Esses pensadores franceses denunciam a
escola como uma agência de "inculcação ideológica". Para eles, a
escola contribui para a preservação do poder das classes dominantes promovendo
a reprodução dos conhecimentos e dos valores necessários à transmissão social das
desigualdades e das injustiças.
Vejamos, a seguir, alguns valores
ideológicos frequentemente promovidos
pela escola tradicional, de acordo com a interpretação reprodutivista: "Cada um pra si"; a escola
frequentemente ensina os alunos a competirem uns com os outros, desenvolvendo,
assim, o individualismo burguês. Cada aluno é estimulado a zelar exclusivamente
pelo material didático de sua propriedade, a terminar primeiro as tarefas, a
tirar a maior nota, a ser o primeiro da turma. Os valores ligados à solidariedade,
ao crescimento compartilhado, ao espírito de cooperação ficam geralmente em
segundo plano.
Os sentimentos de Inferioridade e de
submissão: os alunos que fracassam na escola ou não consegue o mesmo sucesso que alguns poucos
são em geral ridicularizados e desprezados como ignorantes, burros etc. O
processo educacional é conduzido de maneira que o aluno "fracassado"
assuma, sozinho, a culpa de seu fracasso. Pretende-se convencê-lo de que ele é
o único culpado do insucesso: "é burro", "não tem criatividade",
"é preguiçoso", "é bagunceiro". "é vagabundo",
"tem mau-caráter". Os que fracassam devem submeter-se aos vitoriosos,
seguir suas ordens, imitar seus exemplos, obedecer aos membros da elite
inteligente.
O respeito pela ordem social vigente: o aluno é levado a reverenciar a
ordem social existente, a respeitar as instituições do Estado, a seguir as
regras do modo de produção econômico dominante, a admirar os homens ilustres da
história oficial. Não há preocupação em desenvolver no aluno o senso crítico, a
imaginação de alternativas possíveis para a realidade social instalada e outros
tantos elementos necessários à transformação social.
As teorias
educacionais reprodutivistas tiveram o mérito de elaborar a crítica da escola tradicional,
mas não apresentaram nenhuma proposta concreta para que o sistema de ensino deixasse
de ser esse "instrumento de inculcação ideológica". Não apontaram,
enfim, uma saída possível para a formulação de uma pedagogia comprometida com a
emancipação popular e com a luta contra a injustiça e a opressão. Caíram no
negativismo imobilista. Não se percebeu que a escola é um espaço aberto aos
conflitos sociais. Um espaço dinâmico que pode ser utilizado tanto por aqueles
que servem ao sistema dominante como por aqueles que desejam sua transformação.
A partir das
análises e denúncias dos reprodutivistas surgiram, no entanto, novas correntes
de educadores progressistas que buscaram tornar a escola mais democrática,
possibilitando o acesso das camadas populares a uma educação emancipadora e de
boa qualidade.
Ideologia X filosofia
A força da teoria contra as ilusões
ideológicas
Sapere ande! Tem coragem de fazer uso de teu próprio
entendimento (...) KANT
Em sua origem
grega, a palavra teoria significa uma visão explicativa de conjunto de ideias lançadas
sobre a realidade. A teoria nasce e se desenvolve através de um trabalho árduo,
que une ação e reflexão. Implica a elaboração de hipóteses sobre um determinado
fenômeno e a contínua verificação
dessas hipóteses, para confirmá-las ou corrigi-las, em
permanente contato com a realidade que pretende explicar
A consciência
fanática, própria do homem massificado, caracteriza-se pelo culto irracional de
uma doutrina.
A teoria
filosófica constitui uma, construção aberta e dinâmica e criadora. Ao
contrário, as ideologias são doutrinas fechadas, rígidas, pretensamente
completas, mas na verdade lacunares, como já vimos. O verdadeiro teórico se caracteriza pelo rigor
de suas concepções. O ideólogo, pela rigidez de suas pregações. O primeiro tem
consciência dos diferentes meios de abordar, conhecer e sentir a realidade. O
segundo é marcado pelo dogmatismo estéril, cristalizado numa visão unilateral
do mundo.
Enfim, as teorias
filosóficas são reflexões imbuídas do desejo de atingir a verdade. A ideologia
é a racionalização que estabelece verdades para sustentar desejos.
Assim, como
atividade dinâmica, contínua e não petrificada na arrogância de uma perfeição
definitiva, a filosofia nos ajuda a desmascarar o discurso ideológico,
interessado em preservar e justificar o determinado “status quo” [1]
Conceitos-chave
Ideologia: sistema de ideias que elabora uma
"compreensão da realidade para ocultar ou dissimular o domínio de um grupo
social sobre outro”. Traços gerais: anterioridade, generalização e lacuna. A
ideologia atua como uma forma de consciência parcial, ilusória e enganadora que
se baseia na criação de conceitos e preconceitos como instrumentos de
dominação,
Doutrina ideológica: concepção fechada, rígida,
unilateral, lacunar. Estabelece "verdades" para sustentar desejos
ocultos.
Racionalização: além do significado básico de
"tornar racional", significa também a tendência para procurar
argumentos e justificativas para Crenças ancoradas em preconceitos, emoções,
interesses pessoais ou hábitos arraigados.
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