domingo, 31 de março de 2013

Continuação  4ª Aula de Filosofia dos 1º Anos Ens. Médio M,T e Noite


IDEOLOGIA NA ESCOLA
          Há uma corrente de filósofos da educação denominada reprodutivista, da qual são representantes Bourdieu e Passeron. Esses pensadores franceses denunciam a escola como uma agência de "inculcação ideológica". Para eles, a escola contribui para a preservação do poder das classes dominantes promovendo a reprodução dos conhecimentos e dos valores necessários à transmissão social das desigualdades e das injustiças.
           Vejamos, a seguir, alguns valores ideológicos frequentemente promovidos  pela escola tradicional, de acordo com a interpretação reprodutivista: "Cada um pra si"; a escola frequentemente ensina os alunos a competirem uns com os outros, desenvolvendo, assim, o individualismo burguês. Cada aluno é estimulado a zelar exclusivamente pelo material didático de sua propriedade, a terminar primeiro as tarefas, a tirar a maior nota, a ser o primeiro da turma. Os valores ligados à solidariedade, ao crescimento compartilhado, ao espírito de cooperação ficam geralmente em segundo plano.
         Os sentimentos de Inferioridade e de submissão: os  alunos que fracassam na escola  ou não consegue o mesmo sucesso que alguns poucos são em geral ridicularizados e desprezados como ignorantes, burros etc. O processo educacional é conduzido de maneira que o aluno "fracassado" assuma, sozinho, a culpa de seu fracasso. Pretende-se convencê-lo de que ele é o único culpado do insucesso: "é burro", "não tem criatividade", "é preguiçoso", "é bagunceiro". "é vagabundo", "tem mau-caráter". Os que fracassam devem submeter-se aos vitoriosos, seguir suas ordens, imitar seus exemplos, obedecer aos membros da elite inteligente.
         O respeito pela ordem social vigente: o aluno é levado a reverenciar a ordem social existente, a respeitar as instituições do Estado, a seguir as regras do modo de produção econômico dominante, a admirar os homens ilustres da história oficial. Não há preocupação em desenvolver no aluno o senso crítico, a imaginação de alternativas possíveis para a realidade social instalada e outros tantos elementos necessários à transformação social.
         As teorias educacionais reprodutivistas tiveram o mérito de elaborar a crítica da escola tradicional, mas não apresentaram nenhuma proposta concreta para que o sistema de ensino deixasse de ser esse "instrumento de inculcação ideológica". Não apontaram, enfim, uma saída possível para a formulação de uma pedagogia comprometida com a emancipação popular e com a luta contra a injustiça e a opressão. Caíram no negativismo imobilista. Não se percebeu que a escola é um espaço aberto aos conflitos sociais. Um espaço dinâmico que pode ser utilizado tanto por aqueles que servem ao sistema dominante como por aqueles que desejam sua transformação.
          A partir das análises e denúncias dos reprodutivistas surgiram, no entanto, novas correntes de educadores progressistas que buscaram tornar a escola mais democrática, possibilitando o acesso das camadas populares a uma educação emancipadora e de boa qualidade.

Ideologia X filosofia
A força da teoria contra as ilusões ideológicas
Sapere ande! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento (...) KANT
    
            Em sua origem grega, a palavra teoria significa uma visão explicativa de conjunto de ideias lançadas sobre a realidade. A teoria nasce e se desenvolve através de um trabalho árduo, que une ação e reflexão. Implica a elaboração de hipóteses sobre um determinado fenômeno e a contínua verificação  dessas  hipóteses,   para confirmá-las ou corrigi-las, em permanente contato com a realidade que pretende explicar
          A consciência fanática, própria do homem massificado, caracteriza-se pelo culto irracional de uma doutrina.
         A teoria filosófica constitui uma, construção aberta e dinâmica e criadora. Ao contrário, as ideologias são doutrinas fechadas, rígidas, pretensamente completas,  mas  na verdade lacunares, como já vimos. O  verdadeiro teórico se caracteriza pelo rigor de suas concepções. O ideólogo, pela rigidez de suas pregações. O primeiro tem consciência dos diferentes meios de abordar, conhecer e sentir a realidade. O segundo é marcado pelo dogmatismo estéril, cristalizado numa visão unilateral do mundo.
        Enfim, as teorias filosóficas são reflexões imbuídas do desejo de atingir a verdade. A ideologia é a racionalização que estabelece verdades para sustentar desejos.
       Assim, como atividade dinâmica, contínua e não petrificada na arrogância de uma perfeição definitiva, a filosofia nos ajuda a desmascarar o discurso ideológico, interessado em preservar e justificar o determinado “status quo” [1]
Conceitos-chave
Ideologia: sistema de ideias que elabora uma "compreensão da realidade para ocultar ou dissimular o domínio de um grupo social sobre outro”. Traços gerais: anterioridade, generalização e lacuna. A ideologia atua como uma forma de consciência parcial, ilusória e enganadora que se baseia na criação de conceitos e preconceitos como instrumentos de dominação,
Doutrina ideológica: concepção fechada, rígida, unilateral, lacunar. Estabelece "verdades" para sustentar desejos ocultos.
Racionalização: além do significado básico de "tornar racional", significa também a tendência para procurar argumentos e justificativas para Crenças ancoradas em preconceitos, emoções, interesses pessoais ou hábitos arraigados.


[1] Status quo: estado atual das coisas; situação sem mudança.








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