4ª Aula de Filosofia 2º Ano Ens. Médio. M, T, N.
Felicidade
A felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação
e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são
transformados em emoções ou sentimentos que
vai desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem,
ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior. Existem
diferentes abordagens ao estudo da felicidade - pela filosofia,
pelas religiões ou
pela psicologia.
O homem sempre procurou a felicidade. Filósofos e religiosos sempre se
dedicaram a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de vida
levaria à felicidade plena.
A felicidade é o que os antigos
gregos chamavam de eudaimonia,
um termo ainda usado em ética. Para as emoções associadas à felicidade, os filósofos
preferem utilizar a palavra prazer. É difícil definir, rigorosamente, a felicidade e sua
medida. Investigadores em psicologia desenvolveram diferentes métodos e
instrumentos, a exemplo do Questionário da Felicidade de Oxford,[1] para
medir o nível de felicidade de um indivíduo. Esses métodos levam em conta
fatores físicos e psicológicos, tais como envolvimento religioso ou político,
estado civil, paternidade, idade, renda etc.
Evolução histórica das reflexões sobre a felicidade
Zoroastro, místico que
teria vivido por volta do século VII a.C. na região dos atuais Irã e Afeganistão,
criou uma doutrina religiosa, o zoroastrismo,
que se baseava numa luta permanente entre o bem e o mal. O bem incluiria tudo o
que fosse agradável ao homem: beleza, justiça, saúde, felicidade etc.. No final
dos tempos, haveria a vitória definitiva do bem. A missão dos homens seria a de
procurar apressar essa vitória final, através de uma conduta individual
correta.
Aproximadamente na mesma época, na China, dois filósofos
apontaram dois caminhos para se atingir a felicidade: Lao Tsé defendeu
que a felicidade podia ser atingida tendo, como modelo de nossas ações, a natureza. Já Confúcio enfatizou
o disciplinamento das relações sociais como elemento fundamental
para se atingir a felicidade.
O dalai
lama Tenzin Gyatso defende a autorreflexão como
caminho para se atingir a felicidade.
A felicidade é um tema central do budismo, doutrina
religiosa criada na Índia por Sidarta
Gautama por volta do século VI a.C. Para o budismo, a felicidade é a
liberação do sofrimento, liberação esta obtida através do Nobre Caminho Óctuplo. Segundo o ensinamento
budista, a suprema felicidade só é obtida pela superação do desejo em
todas as suas formas. Um dos grandes mestres contemporâneos do budismo, o dalai lama Tenzin
Gyatso, diz que a felicidade é uma questão primordialmente mental, no
sentido de ser necessário, primeiramente, se identificar os fatores que causam
a nossa infelicidade e os fatores que causam a nossa felicidade. Uma vez
identificados esses fatores, bastaria extinguir os primeiros e estimular os
segundos, para se atingir a felicidade[2].
Mahavira,
um filósofo indiano contemporâneo de Sidarta Gautama, enfatizou a importância
da não violência como meio de se atingir a felicidade plena. Sua doutrina
perdurou sob o nome de jainismo[3].
Para o filósofo grego Aristóteles,
que viveu no século IV a.C., a felicidade é uma atividade de acordo com o que
há de melhor no homem. O homem, diferente de todos os outros seres vivos, é
dotado de linguagem (logos), e a atividade que há de melhor no homem
deve ser realizada de acordo com a virtude, então, aquele que organizar os seus
desejos de acordo com um princípio racional terá uma ação virtuosa e a vida de
acordo com a virtude será considerada uma vida feliz. Assim, a felicidade, para
o filósofo grego, é uma atividade da alma de acordo com um princípio racional,
isto é, uma atividade de acordo com a virtude.Com isso, vemos que a concepção
aristotélica de felicidade diverge em muito da concepção contemporânea, por
exemplo, que considera a felicidade como a paz de espírito ou um estado durável
de emoções positivas. Para Aristóteles um homem feliz é um homem virtuoso.
Nesse sentido, muitas vezes se sugere que o termo eudaimonia não
seja traduzido, destacando a diferença do que concebemos atualmente como
felicidade. (Cf. Ética Nicomaquéia, Livro 1, capítulo 7).
Epicuro,
filósofo grego que viveu nos séculos IV e III a.C., defendia que a melhor
maneira de alcançar a felicidade é através da satisfação dos desejos de uma
forma equilibrada, que não perturbe a tranquilidade do indivíduo[4].
Pirro de Élis, filósofo grego contemporâneo de
Epicuro, também advogava que a felicidade residia na tranquilidade, porém
divergia quanto à forma de se alcançar a tranquilidade. Segundo Pirro, a
tranquilidade viria do reconhecimento da impossibilidade de se fazer um
julgamento válido sobre a realidade do mundo. Tal reconhecimento livraria a
mente das inquietações e geraria tranquilidade. Este tipo de pensamente é,
historicamente, relacionado à escola filosófica do ceticismo[5].
Outra escola filosófica grega da época, o estoicismo,
também defendia a tranquilidade (ataraxia)
como o meio de se alcançar a felicidade. Segundo essa escola, a tranquilidade
poderia ser atingida através do autocontrole e da aceitação do destino[6].
Para Aristóteles, a felicidade pode ser atingida pela prática do bem.
Jesus
Cristo defendeu o amor como o elemento fundamental para se atingir a harmonia
em todos os níveis, inclusive no nível da felicidade individual. Sua doutrina
ficou conhecida como cristianismo.
Maomé, no
século VII, na Península Arábica, enfatizou a caridade e
a esperança numa vida após a morte como elementos
fundamentais para uma felicidade duradoura, eterna[7].
O cristianismo, após a morte de Jesus, aprimorou-se institucionalmente e
dividiu-se em vários ramos. Um deles, o catolicismo,
produziu muitos filósofos famosos, como Tomás
de Aquino, que, no século XIII, descreveu a felicidade como sendo a visão
beatífica, a visão da essência de Deus.
O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau defendeu que o ser
humano era, originalmente, feliz, mas que o advento da civilizaçãohavia
destruído esse estado original de harmonia. Para se recuperar a felicidade
original, a educação do ser humano deveria objetivar o retorno
deste à sua simplicidade original[8].
Na Inglaterra dos
séculos XVIII e XIX, os filósofos Jeremy
Bentham e John Stuart Mill criaram o utilitarismo,
doutrina que dizia que a felicidade era o que movia os seres humanos. Segundo o
utilitarismo, os governos nacionais têm, como função básica, maximizar a
felicidade coletiva[9].
O positivismo do filósofo francês Auguste
Comte (1798-1857) enfatizou a ciência e
a razão como
elementos que deveriam nortear o ser humano na busca da felicidade. Esta
felicidade seria baseada no altruísmo e
na solidariedade entre todo o gênero humano, formando
a chamada "religião da humanidade".
O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) defendeu o estabelecimento de
uma sociedade igualitária, sem classes,
como elemento fundamental para se atingir a felicidade humana.
O psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939), o criador da psicanálise,
defendia que todo ser humano é movido pela busca da felicidade, através do que
ele denominou princípio do prazer. Porém essa busca seria
fadada ao fracasso, devido à impossibilidade de o mundo real satisfazer a todos
os nossos desejos. A isto, deu o nome de "princípio da realidade".
Segundo Freud, o máximo a que poderíamos aspirar seria uma felicidade parcial[10].
A psicologia positiva - que dá maior ênfase
ao estudo da sanidade mental e não às patologias -
relaciona a felicidade com emoções e
atividades positivas[11].
A economia do bem-estar defende que o
nível público de felicidade deve ser usado como suplemento dos indicadores económicos mais
tradicionais, como o produto interno bruto, a inflação etc.
Estudos científicos recentes têm procurado achar padrões de comportamento e
pensamento nas pessoas que se consideram felizes. Alguns padrões encontrados
são:
- capacidade
de adaptação a novas situações
- buscar
objetivos de acordo com suas características pessoais
- riqueza
em relacionamentos humanos
- possuir
uma forte identidade étnica
- ausência
de problemas
- ser
competente naquilo que se faz
- enfrentar
problemas com a ajuda de outras pessoas
- receber
apoio de pais, parentes e amigos
- ser
agradável e gentil no relacionamento com outras pessoas
- não
superdimensionar suas falhas e defeitos
- gostar
daquilo que se possui
- ser
autoconfiante
- pertencer
a um grupo[12]
- independência
pessoal
Referências
- ↑ The Oxford Happiness
Questionnaire
- ↑ CUTLER,
H. C. e LAMA, D. A Arte da Felicidade. São Paulo: Martins
Fontes, 2000. p. 14,15
- ↑ WILKINSON,
P. O Livro Ilustrado das Religiões. São Paulo: Publifolha,
2001. pp. 45-46
- ↑ MARCONDES,
D. Iniciação à História da Filosofia - dos Pré-socráticos a
Wittgenstein. 13ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. p. 93
- ↑ MARCONDES,
D. Iniciação à História da Filosofia - dos Pré-socráticos a
Wittgenstein. 13ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. pp.
95,97,98
- ↑ MARCONDES,
D. Iniciação à História da Filosofia - dos Pré-socráticos a
Wittgenstein. 13ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. p. 92
- ↑ MAZLOUM,
A. Reflexões sobre a felicidade. Disponível em http://hamzaabdullah357.blogspot.com/2010/03/reflexoes-sobre-felicidade.html.
Acesso em 3 de agosto de 2012
- ↑ NICOLA,
U. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade
moderna. Tradução de Maria Margherita de Luca. São Paulo. Globo. 2005. p.
303.
- ↑ http://educacao.uol.com.br/biografias/jeremy-bentham.jhtm
- ↑ http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2007/07/30/000.htm
- ↑ Freitas-Magalhães,
A. (2006). A psicologia do sorriso humano. Porto: Edições Universidade
Fernando Pessoa. ISBN
972-8830-59-9 - ISBN
978-989-643-035-1(2ª Ed., 2009).
- ↑ NIVEN,
D. 100 segredos das pessoas felizes. 14ª edição. Rio de
Janeiro: Sextante, 2001. 189p
Ligações externas
- O
que não é a felicidade
- Epicuro, Carta a Meneceu. Tradução
de Desidério Murcho.
- Teologia Mística,
pelo Pseudo-Dionísio, o Areopagita (em espanhol).
- Happiness: has social science
got a clue, por Richard Layard
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