AULA DE HISTÓRIA 3º ANO DO ENSINO MÉDIO - LEITURA COMPLEMENTAR
UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA
1. O DESPERTAR DAS NACIONALIDADES
O século XIX
representou a fase final dos conflitos entre a burguesia e a aristocracia
defensora do Antigo Regime. A partir de 1830 e, principalmente, com uma
sucessão de ondas revolucionárias de 1848, a burguesia assumiu definitivamente
o controle do Estado. Apesar de o liberalismo ter sido o fenômeno que conduziu
os ideais burgueses, firmou-se como uma filosofia individualista que colocava o
indivíduo à frente da razão do Estado e dos interesses da coletividade. É nesse
espírito que a burguesia consolidou a liderança política econômica do século,
que se iniciou em 1815 com o Congresso de Viena e se prolongou até o verão de
1914, quando se deflagrou a Primeira Guerra Mundial.
O liberalismo
tornou-se uma ideologia paradoxal. O disfarce nitidamente subversivo, utilizado
pela burguesia capitalista para se opor ao Antigo Regime e assenhorar-se do poder,
entrou em choque com sua tendência conservadora de impedir o avanço da
ideologia socialista e das camadas populares. Dessa forma, o poder foi
reservado para a elite econômica em nome da soberania nacional e não da soberania
popular, pois o liberalismo, em sua origem, não era democrático, deixando clara
a ideia da separação entre capital e trabalho.
As inovações
no campo das técnicas e das ideologias políticas e econômicas criavam um contraste
na vida social do século XIX: nos campos, milhares de pessoas viviam em um
quase completo regime de servidão, e, nos centros urbanos, as camadas miseráveis
eram marginalizadas com o advento e propagação da industrialização na Europa.
Na
origem dos movimentos liberais que assolaram a Europa no século XIX, despertou
os sentimentos a questão das nacionalidades, que se transformou numa força
irresistível, buscando reencontrar o passado esquecido do ideal de Nação. Esse
movimento surgiu em vários povos que comungavam a mesma origem, língua e cultura,
cujas fronteiras ainda estavam fragilmente de marcadas e a geografia política
ainda não havia assumido uma forma definitiva.
O nacionalismo
surgiu então como uma busca autêntica de expressão política, principalmente entre
os povos italianos e alemães, que viam na ideologia uma forma de conciliar os
interesses econômicos e políticos. A ideia de nacionalidade promoveu a completa
integração do homem no século XIX, em que suas energias se associaram às forças
dos espíritos revolucionários, advindos dos movimentos de 1848 que sacudiram
toda Europa.
2. A UNIDADE ALEMÃ
Ao contrário
da unificação italiana, a unidade política da Alemanha teve como pré-requisito
a unificação econômica. A origem desta última remonta a 1834, quando 38 dos 39
Estados alemães criados pelo Congresso de Viena decidiram eliminar as barreiras
alfandegárias da Confederação Germânica, por meio da Zollverein (liga
aduaneira). De 1860 a 1870, os reflexos dessa política econômica fizeram-se
sentir: distritos industriais e numerosos centros urbanos surgiram em várias
regiões, as estradas de ferro passaram de 2.000 para 11.000 km, e as minas de
carvão e de ferro criaram condições para o crescimento das indústrias siderúrgica,
metalúrgica e mecânica. O complexo industrial alemão começou a formar-se. A
Áustria, que não fora admitida na Zollverein, permaneceu à margem desse processo.
A unificação
política viria como consequência da unificação econômica. Para consegui-la, a
burguesia da Alemanha, até então liberal e contrária ao intervencionismo
estatal, foi obrigada a confiar em Otto von Bismarck, um nobre prussiano que se
tornara chanceler do rei Guilherme I. Bismarck concretizou a unificação por
meio de três conflitos militares. O primeiro foi a Guerra dos Ducados, travada
contra a Dinamarca em 1864, quando a Prússia anexou os ducados de Schleswig e
Holstein, de população predominantemente alemã. Em 1866, foi desencadeada a
Guerra das Sete Semanas contra a Áustria, principal opositora da unificação
conduzida pela Prússia. Derrotada a Áustria e dissolvida a Confederação
Germânica, foi formada a Confederação da Alemanha do Norte, presidida pelo rei
da Prússia. Finalmente, em 1870, Bismarck provocou a Guerra Franco-Prussiana,
que resultou na derrota da França e na proclamação do Império Alemão (Segundo
Reich) em 1871.
UNIFICAÇÃO ITALIANA
1. A UNIDADE ITALIANA
O processo de centralização política
que caracterizou a Europa na passagem do feudalismo para o capitalismo, na
Itália e na Alemanha, teve caráter local e não nacional. As disputas políticas
entre as forças universalistas do Papado e do Império fizeram emergir nessas
regiões da Europa pequenas unidades políticas, seja sob a forma de cidades-estados,
como Veneza, Gênova, Florença ou Hamburgo, seja de reinos, como a Prússia, a
Áustria ou o Pie monte-Sardenha, seja ainda como minúsculos principados alemães.
Entretanto, a consolidação do modo de
produção capitalista exigia a unidade nacional, tendo em vista a dura
competição pela conquista de mercados. Por isso, tanto a burguesia italiana como
a alemã tinham interesse na unificação política de seus respectivos países.
Porém, enquanto a pequena burguesia
da Itália propunha a unificação por meio de uma aliança com o proletariado
urbano – o que resultaria na criação de um Estado Nacional democrático –, a
alta burguesia pretendia consolidar-se como classe hegemônica, de fendendo a
unificação em torno do Reino de Pie monte-Sardenha –único Estado efetivamente
italiano, proveniente da divisão da Itália efetuada pelo Congresso de Viena.
Além das facções monarquista e republicana,
havia um terceiro grupo, que pretendia unificar a Itália em torno do Papado.
Os monarquistas, com o apoio da alta
burguesia e do primeiro-ministro sardo-pie montês, conde Cavour, aliaram-se ao
imperador da França, Napoleão III, contra a Áustria. Antes que a França
deixasse de apoiá-lo, o reino sardo-pie montês conseguiu anexar parte dos
domínios austríacos no norte da Itália. Simultaneamente, Giuseppe Garibaldi (“o
Herói dos Dois Mundos”) conquistou o Reino das Duas Sicílias e a maior parte
dos Estados Pontifícios. Tentou também tomar Roma, mas foi impedido por tropas
francesas envia das por Napoleão III.
Em 1870, quando a invasão da França
pelos prussianos obrigou o imperador francês a chamar suas forças de volta,
Roma foi ocupada pelos monarquistas e transformada em nova capital da Itália. O
papa Pio IX não aceitou a perda de seus Estados e passou a considerar-se
“prisioneiro do rei da Itália”, o que deu origem à Questão Romana. Esta só
seria resolvida pelo Tratado de Latrão, firmado em 1929 entre o papa Pio XI e o
ditador Benito Mussolini, quando foi criado o Estado do Vaticano.
2. UM DISCURSO DA CAMPANHA PELA UNIFICAÇÃO ITALIANA
“Somos um povo de 21 a 22 milhões de homens, designado há muito
tempo pelo nome italiano, encerrado entre os limites naturais mais precisos que
Deus já traçou — o mar e as montanhas mais altas da Europa; e um povo que fala
a mesma língua (...); que se orgulha do mais glorioso passado político, científico
e artístico da história europeia (...).
Não temos mais bandeira, nem nome político, nem posição entre
as nações europeias (...). Estamos desmembrados em oito Estados (...) independentes,
sem aliança, sem unidade, sem ligação organizada (...).
Não existe liberdade de imprensa, nem de associação, nem de
expressão, nem de petição coletiva, nem de importação de livros estrangeiros,
nem de educação — nem de nada. Um desses Estados, cujo território compreende
uma quarta parte da península, pertence à Áustria; os outros submetem-se
cegamente à sua influência.”
(Mazzini, L’Italie, L’Autriche et le Pape, 1845, pág.404,
citado por J. Monnier.)
1. AS ORIGENS DA 1ª GUERRA
De um lado, a
concentração capitalista, com a formação de enormes cartéis e trustes que
disputavam os mercados mundiais; de outro, a corrida colonialista. Eis os
fatores fundamentais do primeiro conflito mundial, irrompido em 1914.
A França saiu
do isolamento na Europa Ocidental em 1904 ao aliar-se com a Inglaterra (Entente
Cordiale). A Alemanha sentiu-se ameaçada. Por isso, quis dar uma demonstração
de força. Como o acordo franco-inglês previa a supremacia francesa no Marrocos,
os alemães opuseram-se violentamente, mais para testar a força da aliança
anglo-francesa do que pelos interesses que tinham no Marrocos.
Enquanto uma
missão diplomática francesa discutia, em Fez, com representantes do Império
Turco os termos do acordo, o imperador Guilherme II desembarcou em Tânger
(1905), ameaçando a França.
A pressão
germânica provocou a convocação de uma conferência internacional que se
realizou em Algeciras em 1906. Confirmou-se a supremacia francesa na região
disputada e foram concedidas à Alemanha terras no sudoeste africano.
Novo incidente
ocorreu em 1911, quando as tropas francesas entraram em Fez para garantir a
integridade dos europeus, ameaçados por revoltosos. Um navio de guerra alemão
foi enviado a Agadir para defender os interesses alemães. O incidente foi
contornado com a concessão do Congo Francês aos alemães.
Em 1908, a
Áustria-Hungria anexou à região da Bósnia, contrariando os interesses da Sérvia
e da Rússia, que perdia a hegemonia na região. Os nacionalismos europeus foram
o estopim, servindo como causa imediata o assassinato do arquiduque austríaco
Francisco Ferdinando, ocorrido na cidade de Sarajevo (capital da Bósnia), por instigação
da Sérvia.
O incidente,
que poderia ter apenas significado local, transformou-se rapidamente em uma
crise europeia por causa da política de alianças então vigente e que dividira
as potências em dois blocos: Tríplice Entente (Rússia, Grã-Bretanha e França) e
Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria, Hungria e Itália); no entanto, a Itália
retirou-se do bloco, pois se recusava a lutar pela defesa dos interesses
austríacos.
2. AS OPERAÇÕES MILITARES
Vários foram
os motivos que levaram à guerra. Quando a Sérvia entrou em guerra com a
Áustria-Hungria em julho de 1914, a Rússia apoiou a Sérvia, e a Alemanha, a Áustria.
O crescimento
da Sérvia vinha preocupando a Áustria, na medida em que se acentuava o
nacionalismo dos povos balcânicos. Os russos temiam a expansão austríaca sobre
os povos eslavos dos Bálcãs. O apoio dado pela França e Alemanha aos
contendores deveu-se ao fato de que nenhum dos dois podia arriscar-se em seus
cálculos de segurança, nem se furtar aos acordos político-militares feitos
anteriormente.
A Bélgica foi
invadida pelos alemães, e, portanto, obrigada a entrar na guerra, porque o
plano alemão, preparado havia longo tempo, previa a invasão da França pelo
norte, com um avanço sobre Paris, o que tornava imprescindível a passagem pela
Bélgica.
A Inglaterra
apoiou a Bélgica em razão da quebra de sua neutralidade por parte dos alemães,
mas principalmente pelo crescente poderio da marinha de guerra germânica, que
ameaçava a hegemonia naval britânica.
O Japão entrou
na guerra contra a Alemanha porque isto lhe permitiria apossar-se das
possessões alemãs em território chinês e no Pacífico.
A divisão da África às
vésperas da Primeira Guerra Mundial
Fatores e Operações
Militares da Primeira
Guerra Mundial
O Império
Otomano aliou-se aos alemães, dominadores em potencial dos turcos, pelo perigo
mais imediato representado pelos russos. A Bulgária juntou-se à Tríplice
Aliança pela oposição à Sérvia, que se unira à Entente. Os italianos, que até o
início da guerra permaneciam dentro da Tríplice Aliança, passaram para a
Entente, assim que, pelo Tratado de Londres de 1915, receberam a promessa de
aquisições territoriais na Turquia, Áustria e colônias alemãs.
Finalmente, a
entrada dos Estados Unidos ao lado dos aliados, justifica da pelo afundamento
de barcos norte-americanos pelos germânicos, resultou puramente do bloqueio que
os submarinos alemães impuseram ao transporte de mercadorias norte americanas
para os aliados na Europa, e pelos prejuízos econômicos que isto representava.
Considerando-se
as rapidíssimas campanhas mi litares germânicas de 1864, 1866 e 1870-71, a
guerra iniciada em 1914 foi bastante longa. Comparada com as Guerras
Napoleônicas, entretanto, foi bastante rápida. Os adversários no conflito eram
os seguintes: de um lado, a Alemanha e a Áustria-Hungria; do outro, os aliados
– Rússia, Sérvia, França, Bélgica e o Império Britânico.
Posteriormente,
novos beligerantes entraram de um lado e de outro. A Turquia (1914) e a
Bulgária (1915) uniram-se aos Impérios Centrais. Os aliados receberam o apoio
do Japão (1914), Portugal e Romênia (1916), Estados Unidos, Grécia e Brasil
(1917).
As forças em
confronto equilibravam-se no início da guerra: mais ou menos o mesmo número de
habitantes e de divisões mobilizadas. As diferenças estavam nos equipamentos bélicos
e nos recursos materiais. Por exemplo, os aliados não possuíam canhões pesados
de longo alcance, mas em compensação dominavam os mares, graças ao poderio
naval inglês.
A primeira
fase da guerra caracterizou-se pela movimentação. Várias batalhas foram travadas
em território francês, para conter o avanço alemão que objetivava Paris (Plano
Schlieffen).
Os alemães
lançaram a ofensiva na Bélgica, sendo temporariamente detidos em Liège. Os
franceses tiveram tempo de organizar-se e mesmo de receber apoio de tropas
inglesas, mas os alemães dominaram a Bélgica e penetraram no norte da França. A
ofensiva geral ordenada por Von Moltke foi detida no Marne, retirando-se os
alemães para uma linha mais recuada.
Os movimentos
maciços tentados pelos dois exércitos tiveram poucos resultados positivos. Cada
avanço de alguns quilômetros custava milhares de homens, afora uma longa
preparação. Na Frente Oriental, os russos invadiram a Prússia, sendo derrotados.
Os sérvios
resistiram por duas vezes às investidas austríacas. Os aliados, que controlavam
o mar, tomaram todas as colônias alemãs. De 1915 a 1918, desenrolou-se a guerra
de trincheiras, sem resultados decisivos, mas com grandes perdas para ambos os
lados. Enquanto isso, as indústrias dos países em choque procuravam aperfeiçoar
os instrumentos de combate, alimentando as frentes.
Em 1915, os
alia dos foram barrados na tentativa de controlar o Dardanelos. A Sérvia foi
conquistada pelos austro-húngaros, bem como a Polônia e Lituânia pelos alemães.
Os assaltos alemães a Verdun marcaram o ano de 1916. Os franceses resistiram
sob a chefia de Pétain. Os generais alemães Hindenburg e Ludendorff, vencedores
na Frente Oriental contra os russos, procuravam deter a ofensiva aliada, que se
orientava pela França e pela Itália.
No mar, a
grande batalha foi travada na Jutlândia (maio de 1916), entre ingleses e
alemães, permanecendo o resultado indeciso.
O ano de 1917
foi decisivo para o curso da guerra. Os ataques dos submarinos alemães contra os
barcos mercantes neutros, principalmente norte americanos, levaram os Estados
Unidos à declaração de guerra. Seus recursos agrícolas, minerais e industriais
reforçaram decisivamente os aliados.
Na Rússia, a
crise gerada pela guerra provocou uma revolução contra o Império. De início, os
aliados conseguiram manter os russos na guerra por meio de numerosas promessas,
mas a Revolução de Outubro de 1917, de orientação comunista, fez os russos
saírem da guerra, pelo Tratado de Brest-Litovsky.
O alívio da
Frente Oriental foi tremendamente favorável aos alemães, Hindenburg estabeleceu
uma linha fortificada para defender a Alemanha, frustrando as várias tentativas
aliadas de ultrapassar essa defesa.
Enquanto isso,
os austro-húngaros, reforçados pelos alemães, romperam as defesas italianas nos
Alpes e invadiram a Venécia. Em 1918, a guerra entrou em sua fase final. Os
alemães concentraram suas melhores tropas no oeste, na expectativa de vencer
antes da entrada maciça dos norte-americanos.
As linhas aliadas
foram rompidas. Paris foi bombardeada por aviões (que começavam a atuar com
maior eficácia) e por canhões de longo alcance. A tática da avançada
infantaria, sob a proteção da artilharia, canhões motorizados e aviões,
permitiu ao novo líder aliado, Foch, vencer os alemães na Segunda Batalha do
Marne. Era o início da vitória dos aliados. Vários pontos foram atacados ao
mesmo tempo, forçando o deslocamento das tropas alemãs. A pressão sobre as
tropas germânicas cresceu também na região da Lorena. O exército alia do na Macedônia
obrigou a Bulgária a depor as armas. Os ingleses venceram os turcos na Síria, impondo-lhes
o armistício. Por fim, os austríacos, vencidos pelos italianos, abandonaram a
luta. Restavam somente os alemães.
Os generais
comunicaram ao governo que não podiam vencer a guerra. Eram partidários de uma
mudança de regime, para evitar que a culpa da derrota recaísse sobre o
exército, sobre o Império e sobre os aristocratas que a haviam provocado.
Uma rebelião
na esquadra e uma greve em Berlim forçaram Guilherme II a abdicar,
refugiando-se na Holanda. Em 9 de novembro, a República foi proclamada. No dia
11 do mesmo mês, o novo governo assinou o armistício, aceitando todas as
condições impostas pelos aliados.
A guerra tinha
terminado, mas o exército alemão guardava ainda a impressão de não ter sido
derrotado. A paz fora firmada com exércitos alemães em território inimigo, e
sem que nenhum inimigo estivesse em território alemão.
1. OS TRATADOS DE PAZ
A guerra
iniciada em 1914 englobou a maior parte dos países europeus, tornando-se
progressivamente um conflito mundial. Este foi seu aspecto particular em
relação aos conflitos anteriores. De forma global, os fatores da guerra estão
ligados aos interesses econômicos dos Estados europeus, à corrida colonialista
e ao nacionalismo exacerbado.
No primeiro
momento da guerra, a fronteira da França foi cruzada pelos alemães, cujo avanço
foi detido em seguida, na Batalha do Marne. Começou, então, a guerra de trincheiras,
que se arrastaria quase até ao fim da guerra. No total, sacrificaram-se mais de
10 milhões de vidas. As tentativas alemãs de ruptura foram contidas pelos
aliados, mas em compensação os ataques destes foram detidos pelos alemães. A
entrada dos Estados Unidos e a saída da Rússia aceleraram o desfecho da guerra.
Os aliados
foram favorecidos. No ano de 1918, travou-se a Batalha da França, última e
desesperada ofensiva alemã, que se extinguiu na Segunda Batalha do Marne. Rompidas
as linhas germânicas pela ofensiva de Foch, vencidos os aliados da Alemanha, a
esta não restava alternativa senão solicitar o armistício.
Antes mesmo
que a Grande Guerra findasse, foram feitas várias tentativas para apressar o
fim do conflito. Uma das propostas de paz, a do presidente Wilson dos Estados
Unidos, baseada em 14 Pontos, e apresentada em 1917, alcançou êxito. Os alemães
renderam-se tendo em vista os itens propostos por Wilson.
Findo o
conflito, os aliados reuniram-se em Paris para ditar as regras da paz. Não se
tratava de um acordo com a Alemanha, pois esta não estava presente à
conferência. Assim, o Tratado de Versalhes, imposto à Alemanha em 1919,
mutilava completamente os 14 Pontos de Wilson, criando ainda outros problemas,
como, por exemplo, as reparações de guerra.
A
regulamentação da paz com os parceiros dos alemães foi fixada por tratados à
parte. De uma forma global, os tratados procuravam abater definitivamente os
vencidos. Por outro lado, criavam um instrumento que seria a garantia da paz: a
Liga das Nações.
As principais propostas de paz
durante a guerra
O impasse que
a guerra tinha atingido em 1917, a demonstração de esgotamento geral e os males
gerados pelo conflito encorajaram algumas tentativas de paz.
O imperador
Carlos I da Áustria propôs à França um acordo de paz em separado, na base do “status
quo” (tudo ficaria como antes da guerra). Sabendo que a Itália se oporia a
qualquer tratado que não considerasse seus interesses territoriais, a França
deixou morrer a ideia.
O diplomata
alemão Von Lancken tentou uma aproximação com a França, tendo sido repudiado
pelos franceses, que viam a possibilidade do fim próximo da luta, em razão da
entrada dos Estados Unidos.
O papa Bento
XV, com o auxílio dos prelados católicos nos vários países em luta, fez uma
proposta de paz que foi aceita pela maioria dos beligerantes, menos pelos
alemães, que se negavam a abandonar a Bélgica.
Os 14 Pontos de Wilson
Em 1918, o
exército alemão não tinha mais esperanças de vencer, mas estava longe de
considerar-se vencido. Permanecia organizado, bem armado e bem nutrido. Quando
os chefes alemães, Hindenburg e Ludendorff, perceberam que as reservas dos
aliados eram praticamente inesgotáveis, graças a seus impérios coloniais e ao
apoio norte-americano, resolveram aconselhar um armistício que preservasse o
exército da derrota.
Em agosto, os
chefes alemães e o imperador Guilherme II reuniram-se em Spa, no
quartel-general ale mão, para discutir o problema. Contudo, os líderes
militares não declararam, na oportunidade, suas convicções sobre a
impossibilidade de vencerem a guerra e a possibilidade de a perderem em longo
prazo.
A rendição dos
búlgaros em setembro mudou completamente a situação. O fim estava mais próximo.
Hindenburg e Ludendorff apressaram-se a organizar nova reunião em Spa. Para
agradar aos aliados, sugeriam alterar o regime de governo na Alemanha, que
passaria a ser um Império de tipo parlamentar. O novo chanceler, ligado à
Família Imperial, Max de Bade, enviou uma nota ao presidente Wilson, dizendo
ter a paz nas mãos e que ela poderia ser estabelecida com base nos 14 Pontos.
Um cartaz
estampa um apelo à caridade em favor do “fundo para os soldados mutilados de Ludendorff”
(Alemanha). O custo da guerra em vidas perdidas, terras devastadas, seres mutilados
e ideais truncados foi terrível. E a paz, celebrada com tanta euforia em 1918,
não tardou em descobrir seu legado de amargura, pobreza, estupor e medo.
Esses 14
Pontos atendiam aos interesses alemães. Wilson era bastante idealista. Ao
elaborar aquele programa, Wilson, desconhecendo os problemas europeus, via-se
como um mediador entre as duas partes, mais do que um vencedor. Assim, suas exigências
seriam mais suaves à Alemanha do que as exigências dos aliados europeus.
O programa de
Wilson para a paz proclamava o princípio de uma paz sem anexações ou indenizações.
Auxiliado por uma comissão de especialistas e por um amigo pessoal, o coronel
House, Wilson submeteu seu programa ao Congresso em 9 de janeiro de 1918.
Os primeiros
cinco pontos eram bastante abstratos: diplomacia aberta, sem tratados secretos;
liberdade dos mares; redução das barreiras aduaneiras; desarmamento; esforço
para preservar os interesses das populações colonizadas. Da mesma forma, os 14
Pontos preconizavam a criação de uma Sociedade das Nações que manteria em
funcionamento o concerto mundial e garantiria a paz. Era o que Wilson chamava
de “diplomacia nova”, que se opunha à diplomacia tradicional dos acordos
secretos, cínica, imperialista e responsável pela guerra.
Os pontos 6 ao
13 concerniam a remanejamentos territoriais e eram norteados pelo princípio da autodeterminação
dos povos. A Rússia teria o direito de escolher livremente o tipo de governo
que lhe aprouvesse; a Bélgica recuperaria sua independência; a Alsácia-Lorena
seria de vol vida à França (as fronteiras italianas seriam fixadas de acordo
com a linha da nacionalidade); os povos que faziam parte da Áustria-Hungria
receberiam sua liberdade; as fronteiras dos Estados balcânicos seriam
revisadas; o Império Otomano não dominaria mais povos não turcos; e a Polônia
seria reconstituída, com livre acesso ao mar.
O Tratado de
Versalhes Na Conferência de Paz de Paris, cada participante designou uma comissão
de cinco membros. Participavam 26 nações aliadas, beligerantes ou não, e quatro
domínios britânicos.
A China e o
Sião, tendo declarado guerra à Alemanha no fim do conflito, foram incluídos
entre os aliados. Os Estados vencidos não participaram da Conferência,
equivalendo dizer que não negociaram os tratados.
A Assembleia
Geral da Conferência, composta por todos os representantes, era mera
formalidade. As decisões foram efetivamente tomadas pelas grandes potências: no
início, Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Japão. O Japão logo se
desinteressou pelo reduzido interesse que tinha na Europa. A Itália retirou-se
ao perceber que não seria atendida nos seus interesses territoriais. Dessa
forma, somente três Estados discutiram os tratados: os Estados Unidos,
representados pelo presidente Wilson, o propugnador da paz; David Lloyd George,
primeiro-ministro da Inglaterra; e Georges Clemenceau, da França.
Várias
comissões foram organizadas para auxiliar a Comissão Executiva. Eram órgãos de
estudo (16 comissões de especialistas), que se reuniram pelo menos 100 vezes
cada um. A conferência, iniciada em 18 de janeiro de 1919, prosseguiu com representantes
suplentes até 1921.
O principal
objetivo de Wilson era assegurar a aplicação efetiva de seus princípios e
fundar a Sociedade das Nações. Para obter a aprovação de todos, foi obrigado a
transigir, no que tangia às anexações territoriais. Esperava poder resolver em
longo prazo esses problemas, pela atuação da própria Liga a ser criada. Na
prática, porém, as decisões representaram os interesses das principais
potências, contrastando o idealismo de Wilson com as exigências nacionalistas e
defensivas de Clemenceau e os objetivos pouco claros e às vezes oportunistas de
Lloyd George.
De 5 de maio
até 28 de junho de 1919, o tratado elaborado pelos Três Grandes foi submetido à
apreciação da delegação alemã, que reagiu negativamente.
Os ingleses
quiseram amenizar as condições impostas, ao passo que Clemenceau propunha a
imposição do tratado à força. Wilson, que ficou como árbitro, apoiou a França.
Os alemães acabaram aceitando o tratado, mas como uma imposição.
Pelo tratado,
assinado na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, o que bem demonstra o
revanchismo francês, a Alemanha perdia 1/7 de seu território e 1/10 da
população, além de todas as suas colônias.
A Alsácia e a
Lorena foram restituídas à França. A Bélgica anexou dois cantões, Eupen e
Malmedy. A França obteve a exploração das minas de carvão do Sarre (para
compensar a exploração da Alsácia-Lorena pelos alemães) durante 15 anos, quando
então a comissão da Sociedade das Nações que administrasse o território faria
um plebiscito; o Sarre poderia escolher entre voltar à Alemanha, permanecer com
a França ou ficar sob a administração da Liga das Nações.
Por intermédio
de um plebiscito, o Schleswig do norte foi anexado à Dinamarca. O sul
permaneceu com a Alemanha. Na Prússia Oriental, o território de Posen passou
para a Polônia, que adquiriu assim uma saída para o mar (Corredor Polonês). A
cidade de Dantzig, alemã, passaria à cidade livre, administrada pela Liga das
Nações.
A Alta
Silésia, de população alemã e polonesa, foi submetida a um plebiscito, vencido
pelos alemães. Os poloneses argumentaram que os alemães trouxeram vagões
repletos de compatriotas de outras regiões para votar. Eclodiu um conflito. Os
franceses intervieram e o território foi repartido.
A região de
Memel, situada na Prússia Oriental, foi considerada autônoma. Em 1923, foi
anexada pela Lituânia, com o consentimento da Liga. A Áustria e a Alemanha
ficavam proibidas de se integrarem e formar a denominada Anschluss. A garantia de
segurança era vital para a França. Por isso, pretendia ela que a região do Reno
fosse composta por vários Estados autônomos, ocupados indefinidamente por
tropas aliadas. Wilson se opôs segundo o princípio das nacionalidades, sendo
apoiado por Lloyd George. Mas os Estados Unidos e a Inglaterra prometeram
auxiliar prontamente a França em caso de invasão pela Alemanha. Entretanto,
como o Senado norte-americano não quis ratificar o Tratado de Versalhes, a
Inglaterra considerou-se desobrigada, e por isso a França ficou sem garantias.
A Alemanha
seria desarmada, seu exército reduzido a 100 mil homens, recrutados
voluntariamente; não teria grandes vasos de guerra, nem submarinos, nem
artilharia pesada, nem tanques ou aviões; não poderia fabricar material
militar. Uma comissão aliada controlaria tudo isso.
A frota alemã,
que terminou a guerra praticamente intacta, deveria ser entregue aos aliados
(foi afundada pela própria tripulação).
A margem
esquerda do Reno seria desmilitarizada, e na margem direita essa
desmilitarização abrangeria uma zona com 50 km de largura.
O pagamento de
reparações foi imposto à Alemanha, que era considerada responsável pela guerra.
O montante dos pagamentos era elevadíssimo, indo desde indenizações pela destruição
material de bens nacionais e privados, até ao pagamento de pensões a
aposentados, mutilados, viúvas e órfãos. O total elevava-se a 132 bilhões de
marcos-ouro. O primeiro pagamento seria em 1.o de maio de 1921. Os benefícios
dessa reparação seriam assim repartidos: França, 52%; Inglaterra, 22%; Itália,
10%; Bélgica, 8%; outros, 8%.
Demais
tratados com as potências perdedoras aliadas da Alemanha, foram estabelecidos
tratados paralelos.
O Tratado de
Saint-Germain, assinado em 1919 com a Áustria, estabelecia que a Hungria, a
Polônia, a Tchecoslováquia e a Iugoslávia seriam independentes. As regiões do
Trieste, sul do Tirol, Trentino e a Península da Ístria passariam à Itália.
A Áustria
tornou-se um pequeno Estado europeu, com cerca de um terço da população concentrada
na capital, Viena.
Com a Bulgária
foi estabelecido o Tratado de Neuilly (1919). Por esse tratado, a Bulgária
perdeu grande parte dos territórios adquiri dos durante a Primeira Guerra
Balcânica. Dessa forma, a região da Dobrudja foi dada à Romênia, a Macedônia
Ocidental à lugoslávia e a Trácia Ocidental à Grécia. Passava a ser um país
apenas com saída para o Mar Negro.
Para regular a
situação com a Hungria, foi assinado o Tratado de Trianon (1920). A região da
Eslováquia passava para a recém-criada República da Tchecoslováquia. A lugoslávia
adquiriu a Croácia, e a Romênia, a Transilvânia. O Tratado de Sèvres (1920)
fixou a situação com a Turquia. Estipulava que a Armênia seria independente e
que a maior parte da Turquia Europeia passaria à Grécia, assim como parte da Turquia
Asiática. A Síria e o Líbano seriam controlados pelos franceses, a Mesopotâmia
e a Palestina, pelos ingleses.
Uma rebelião
na Turquia, liderada por Mustafa Kemal Ataturk, pôs fim ao Império Otomano e
proclamou a República, reconquistando a Armênia e a parte asiática cedida à
Grécia, o que obrigou à revisão do Tratado de Sèvres em 1923, em Lausanne. Esse
novo tratado permitiu à Turquia conservar todo o território reconquistado.
2. DEMAIS
CONSEQUÊNCIAS
A vitória
militar dos aliados lhes permitiu ditar as condições dos tratados de paz. Os
princípios de Wilson, que deveriam ser sua base teórica, não foram levados
efetivamente em consideração, tanto pelo choque de interesses conflitantes dos
vencedores como pelo fato de o Tratado de Versalhes não ter sido ratificado
pelo Senado norte-americano, o que desprestigiou profundamente os 14 Pontos.
O princípio
das nacionalidades não foi seguido. A colcha de retalhos que representa o mapa
das nacionalidades após a guerra implicava problemas semelhantes àqueles de
antes do conflito. A diferença era que as minorias agora eram alemãs ou húngaras.
As reparações de guerra impostas à Alemanha estavam além das suas
possibilidades. Sua cobrança só serviu para açular o nacionalismo germânico e
justificar ainda mais suas futuras pretensões territoriais.
Considerava-se
que a Grande Guerra, na qual a Europa fora engolfada durante quatro anos,
deveria ser a última. Daí o idealismo que norteou a criação da Sociedade das
Nações, a qual regeria as relações entre os Estados, evitando as guerras por meio
de uma ação mediadora.
Além das
consequências anteriormente citadas, não podemos esquecer que é a partir do
final do conflito que os Estados Unidos passam a dividir com o Japão o lugar de
potências mundiais.
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