sexta-feira, 24 de abril de 2015

O SIGNIFICADO DA REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917


A guerra de 1914-1918 não tinha ainda chegado ao seu fim quando, na Rússia, o Partido Socialista Bolchevista tomou o poder. Esse foi o acontecimento mais relevante gerado pela guerra. Tal fato, literalmente, modificou o curso da história do mundo.
A Revolução foi iniciada por partidos liberais ligados à burguesia que pretendiam transformar a Rússia num Estado liberal, nos moldes da Inglaterra ou da França. Foram, porém, surpreendidos pelo Partido Bolchevista organizado por Lenin, que transformou radicalmente a organização política do Estado, que passou a ser dirigido pelos sovietes, formados por soldados e camponeses, bem como sua organização econômica com base na propriedade coletiva e na igualdade social.
Para que a Revolução vingasse, tornou-se necessário enfrentar os inimigos do novo regime numa guerra revolucionária em que houve a intervenção de alguns países ocidentais. Essa guerra ajudou a dar coesão ao novo regime.
Em 1921, a Revolução tinha triunfado. Mas o país estava arruinado, sendo necessário um longo período de reorganização para que ele entrasse novamente em ritmo de desenvolvimento.

2. A CRISE DO ANTIGO REGIME NA RÚSSIA

O Antigo Regime na Rússia compunha-se de um poder político absoluto exercido pelo imperador (tsar ou czar), da antiga dinastia dos Romanov. Apoiava-se em uma organização basicamente agrária, tendo em vista que 85%da população vivia no campo. Os nobres proprietários de terra e a burguesia industrial e mercantil concentravam-se nas cidades, bem como os cossacos da Guarda Imperial, que representavam outros pontos de apoio.
O governo era autocrático. O imperador escolhia um corpo de ministros, seus auxiliares no governo. Não havia nenhuma forma de restrição efetiva ao seu poder.
Os problemas do Império Russo começaram efetivamente com a Guerra Russo-Japonesa de 1905, motivada pelo choque de interesses na Manchúria. A derrota ante os japoneses mostrou a deficiência do Estado tsarista, tornando evidente a urgência de reformas.
Os partidos políticos mais organizados iniciaram uma série
de manifestações contra o Império. Dentre eles merecem destaque o Partido Operário Social-Revolucionário Russo,
fundado em 1898, e o Partido Social-Democrático Russo, de 1902. Este último apresentava duas facções surgidas nas reuniões de Londres e Genebra, de 1903: os bolcheviques, de tendência radical, e os mencheviques, moderados e conciliadores.
Os movimentos de rua foram duramente reprimidos pelos cossacos, assinalando-se o Domingo Sangrento, de 22 de janeiro de 1905. Enquanto isso, a tripulação do couraçado
Potemkin amotinava-se contra seus oficiais. As greves multiplicavam-se, atingindo até mesmo a zona rural.
Esse conjunto de pressões levou o imperador a criar a Duma, espécie de Assembleia Legislativa. No fundo, era uma reação do poder imperial, que pretendia com essa concessão estancar os movimentos de rua e ganhar tempo para controlar o problema. As Dumas eleitas entre 1905 e
1912, ao todo em número de quatro, foram pressionadas, nada podendo fazer. O disfarce constitucional do Império Russo não durou muito tempo. Os efeitos da Grande Guerra, na qual a Rússia se viu envolvida, acabaram por desmascará-lo. A crise gerada pela guerra evidenciava a deficiência da estrutura imperial. Alguns dados poderão exemplificar melhor a questão: o exército precisava de 1,5 milhão de obuses e conseguiu apenas 360 mil; a balança comercial entre 1914 e 1917 apresentava um deficit que subira de 214 milhões de rublos em 1914 para 1,658 bilhões em 1917; em 1914, a dívida pública do Estado era de 1 bilhão de rublos, e em 1917 chegara a 10 bilhões; o meio circulante passou de 1,6 bilhão em 1914 para 9,5 bilhões em 1917. Os salários eram assim desvalorizados, por causa da inflação violenta, e as empresas com capitais nacionais iam à falência, aumentando a entrada do capital estrangeiro, o qual alcançaria 50% do capital total da Rússia em 1917 (33% era francês, 23% inglês, 20% ale mão, 14% belga e 5% norte-americano).
Nessa conjuntura de crises, os descontentamentos sociais cresceram; as greves eram numerosas. Somente no ano de 1916, entraram em greve cerca de 1.170.000 operários.

3. A REVOLUÇÃO BURGUESA: FEVEREIRO DE 1917

A burguesia liberal pressionava o governo, apoiada pela esquerda moderada. Provocaram manifestações dos trabalhadores nas ruas e uma greve geral paralisou os transportes em Petrogrado. O imperador não se preocupou muito, pois o movimento atinha-se à capital e, ademais, a guarnição militar da cidade era poderosa. Mas ele não contava com dois pontos essenciais: os soldados não se prestaram a reprimir os movimentos, com os quais eram coniventes, e os chefes socialistas puseram-se imediatamente a organizar a luta. No dia 12 de março (27 de fevereiro pelo calendário russo, atrasado 13 dias em relação ao calendário ocidental), os soldados recusaram-se a marchar contra o povo amotinado. Sem o exército, o poder político imperial desapareceu. Dois governos foram constituídos imediatamente, o primeiro por deputados da Duma; o segundo, intitulado soviete, era um conselho de soldados, trabalhadores e camponeses. Inicialmente, a Revolução limitou-se a Petrogrado, mas em seguida difundiu-se rapidamente. O tsar abdicou e os sovietes, que se organizavam para dirigir as grandes cidades, formaram, junto com a Duma, um governo provisório; a monarquia absolutista estava vencida.
O governo provisório era dirigido pelo príncipe Lvov e dominado pela burguesia. Pusera fim ao tsarismo para organizar uma República parlamentar liberal. Era fundamental, portanto, manter a Rússia no sistema de alianças mundial, o que significava continuar a guerra contra a Alemanha. A partir de maio, o ministro da Guerra, Kerensky, preparou uma grande ofensiva contra a Áustria-
Hungria, aliada da Alemanha.
O país não tinha condições para dar sequência à guerra, estava esgotado. Além disso, a burguesia não representava a massa. Era uma minoria reduzida que não tinha força suficiente para impedir a elevação dos preços, estimular a produção ou impedir as deserções dos soldados, muitos dos quais lutavam descalços.

4. A REVOLUÇÃO SOCIALISTA

A instabilidade política refletia a incapacidade do governo provisório. A cidade de Petrogrado transformou-se em núcleo revolucionário. Os bolcheviques aumentavam suas fileiras e o Congresso dos sovietes, controlado por eles, exigia a retirada da Rússia da guerra. O governo provisório perseguiu os líderes bolcheviques e reprimiu violentamente as manifestações públicas; Lenin refugiou-se na Finlândia.
Em julho, os bolcheviques contavam com o considerável número de cerca de 200 mil partidários. Contavam ainda com o apoio dos marinheiros da base de Kronstadt. O fracasso da ofensiva contra a Áustria-Hungria deu oportunidade à manifestação do dia 17 de julho, em Petrogrado. Caiu o governo provisório de Lvov, que foi substituído por Kerensky. Adversário dos bolcheviques, Kerensky não era menos socialista, só que mais moderado. Em setembro, o general Kornilov, ligado ao Antigo Regime, marchou em direção a Petrogrado. Kerensky foi obrigado a pedir ajuda, até mesmo aos bolcheviques. Kornilov foi batido, mas Kerensky mostrou sua dependência em relação aos trabalhadores e aos bolcheviques.
Preconizado por Karl Marx, o sistema de produção socialista só foi posto em prática no século XX, primeiramente na Rússia, depois de 1917; a seguir nos países comunistas da Europa Oriental; na China, depois de 1949; em Cuba, depois de 1959; e em outros países, perfazendo o total de 1/3 da população mundial, antes da queda do socialismo no Leste Europeu.

5. A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917

A Rússia constituiu durante muito tempo o exemplo único de experiência socialista. Em 1917, a situação do Império Russo era de crise absoluta, agravada pela participação na Primeira Guerra Mundial. Disso se aproveitou o partido bolchevique (maioria) para tomar o poder num golpe político dirigido por Lenin. Esta foi a chamada Revolução de Outubro. Em fevereiro desse mesmo ano, ocorrera uma revolução burguesa que pretendia implantar um regime parlamentarista de governo na Rússia, tendo sido o governo exercido durante algum tempo por Kerensky, líder do partido socialista revolucionário. Para consolidar a Revolução dentro da Rússia, foi necessário enfrentar uma coligação internacional até 1921. Nesse período, Trotsky organizou o Exército Vermelho e propôs a ideia de uma revolução permanente que de veria ser difundida por todo o
mundo, ao que se opôs Stalin, que pretendia consolidar a Revolução na Rússia em primeiro lugar.

6. OS DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO

O Governo Provisório que dominava a Rússia desde a revolução de março de 1917 mostrava-se tão incapaz de controlar a economia ou de melhorar a situação militar quanto o governo tsarista. Pressionado pelo soviete de Petrogrado durante seus oito meses de existência, enfraqueceu-se ainda mais devido à revolta do General Kornilov, em setembro. A coalisão socialista, sob o comando de Kerensky, não deu ao povo a paz que almejava, nem as reformas econômica e agrária que os bolcheviques ofereciam.
Em maio, durante a conferência partidária, Lenin havia conseguido aprovar suas “teses de abril”, propondo a paz, a não cooperação com o Governo Provisório e a transferência de poder desta entidade burguesa para os sovietes, tão logo estes fossem dominados pelos bolcheviques proletários. Estes sovietes (conselhos) de representantes de trabalhadores e de soldados haviam surgido em todo o país após a Revolução de Fevereiro (existiram alguns, de curta duração, em 1905). Seus membros eram eleitos nas fábricas e nas casernas e alguns foram constituídos na zona rural. Eram mais populares do que o Governo Provisório.
Em setembro, os bolcheviques haviam-se assegurado da maioria nos sovietes de Petrogrado e de Moscou, em bora os mencheviques e os revolucionários socialistas ainda do minassem o Comitê Executivo Central do Congresso dos Sovietes de toda a Rússia, que se reunira pela primeira vez em junho, elegendo seu corpo diretivo. Lenin achava que as condições eram, então, propícias à revolução socialista. “Todo poder aos sovietes” tornou-se a palavra de ordem.
No dia 23 de outubro, numa reunião do Comitê Central do Partido Bolchevista, tomou-se a decisão de preparar uma insurreição armada.
Para pôr em prática tal decisão, foi formado um departamento político (Politburo). Dois dias mais tarde, o soviete de Petrogrado constituiu um Comitê Militar Revolucionário, sob a presidência de Trotsky. Foi este organismo e não o Politburo do partido que preparou e executou o golpe sub sequente. A 3 de outubro, as tropas da guarnição de Petrogrado reconheceram no soviete de Petrogrado único poder e, no dia 5, a Fortaleza de Pedro e Paulo, onde havia um arsenal de 100.000 fuzis, passou para o lado do soviete. Na noite de 6 para 7 de setembro, o Comitê Militar Revolucionário, se dia do no Instituto Smolny, deu a senha para o início da ação. (John Reed)

 A organização econômica do Novo Regime

Assim que os comunistas tomaram o poder na Rússia, implantaram o governo do povo, a ditadura do proletariado, que se fazia representar pelos sovietes. Decretou-se a comunização total: os bens de produção foram estatizados, as indústrias com mais de cinco empregados e as terras foram coletivizadas, a moeda foi extinta, criando-se um bônus correspondente às horas de trabalho e que poderia ser trocado por alimentos e serviços.
As dificuldades foram a oposição interna (camadas descontentes) e a, pressão externa. Por isso foi adotada a NEP (Nova Política Econômica), a partir de 1921. As pequenas indústrias voltaram à situação anterior; a venda dos produtos agrícolas foi devolvida aos camponeses; e a moeda voltou a circular. Lenin pretendia dar um passo atrás para poder “dar dois passos à frente”. A produção agrícola recuperou-se rapidamente, bem como a produção industrial. Porém, os kulaks, camponeses abastados, enriqueciam com a alta de preços.

A sucessão a Lenin

Em 1924, morria o grande líder da Revolução Russa, Lenin, que deixara em aberto o processo de sucessão.
Eram dois os candidatos: Stalin, que defendia a tese do socialismo em um só país, e Trotsky, que defendia a expansão imediata da revolução socialista. Apesar de Trotsky ser ortodoxo – seguidor fiel das teses marxistas –, suas propostas foram rejeitadas pelo Congresso do PCUS, que entregou a chefia do governo a Stalin, iniciando o período da era stalinista.

7. STALINISMO

O termo stalinismo define o período em que a URSS foi governada por Josef Vissarionovith Djuga tchvili, ou simplesmente Josef Stalin (que significa “de aço”), entre 1924 e 1953.
A ascensão de Stalin significou uma mudança radical no processo de implantação do socialismo, tal como era concebido pela Revolução Bolchevique.
Em termos políticos, a ascensão de Stalin significou a implantação de um Estado extremamente burocratizado e autoritário, controlado por uma elite militar, que tomava as decisões independentemente da população ou de seus organismos de representação.
Em 1927, foi anunciado o primeiro plano quinquenal, cuja finalidade era o desenvolvimento da indústria pesada. Seguiram-se outros planos quinquenais, que desenvolveram a produção industrial e agrícola.
A grande dificuldade estava na agricultura, em relação à qual o governo abandonou a ideia de coletivização total e criou as granjas coletivas (kolkhozes) e as fazendas estatais (sovkhozes). Existia um mercado paralelo em que os camponeses podiam vender os excedentes da produção, a qual de veria ser fornecida ao Estado a preços de custo.
A produção econômica global era planificada e dirigida por um órgão central, o Gosplan. Um banco central, o Gosbank, acumulava os capitais em nome do Estado, cerca de 25% do produto global, e os distribuía para os bancos industriais, comerciais e agrícolas.
Os bens de produção foram incrementados em detrimento dos bens de consumo. O comércio era realizado em grandes lojas do Estado e a variedade dos produtos era muito reduzida, pois a padronização diminuía os custos.
O avanço da economia soviética em relação aos países capitalistas foi muito grande no setor industrial, mas permaneceu atrasado no setor agrícola.
A ideia de uma sociedade comunista preconizada por Marx esteve bem longe de realizar-se na Rússia, onde foi necessário distinguir com salário os trabalhadores mais eficientes, e ao mesmo tempo realizar a conversão da produção industrial para bens de consumo. Existia uma elite intelectual, os grandes cientistas e a cúpula dirigente do partido, que preservava alguns privilégios em relação aos demais membros da população.
Os países socialistas são mono partidários, isto é, só o Partido Comunista é legalizado e a única forma de participação política é pertencer ao partido. A unidade básica de poder é o soviete de camponeses, operários e soldados, de onde saem os representantes para eleger os membros do governo.
Abolindo os cultos e as religiões tradicionais, violentamente perseguidos nos países socialistas, acabou-se por criar uma nova forma de religião, a religião do Estado.

5. CRONOLOGIA
1898 – Partido Social Democrata Russo.
1903 – Congresso de Londres: bolcheviques e mencheviques.
1905 – Derrota para o Japão na disputa pela Manchúria.
1914-17 – Rússia luta ao lado da Entente na Primeira Guerra Mundial.
1917 – Revolução Burguesa Fev. de 1917 – A Revolução Burguesa depõe o czar Nicolau II. Out. de 1917 – Revolução Bolchevista.
1918-1921 – Guerra Civil.
1921 – A implantação da NEP (Nova Política Econômica).
1924 – Morte de Lenin, substituído por Stalin.
1928 – Início dos Planos Quinquenais.

1953 – Morte de Stalin.

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