O SIGNIFICADO DA REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917
A guerra de 1914-1918 não tinha ainda
chegado ao seu fim quando, na Rússia, o Partido Socialista Bolchevista tomou o
poder. Esse foi o acontecimento mais relevante gerado pela guerra. Tal fato,
literalmente, modificou o curso da história do mundo.
A Revolução foi iniciada por partidos liberais
ligados à burguesia que pretendiam transformar a Rússia num Estado liberal, nos
moldes da Inglaterra ou da França. Foram, porém, surpreendidos pelo Partido
Bolchevista organizado por Lenin, que transformou radicalmente a organização
política do Estado, que passou a ser dirigido pelos sovietes, formados por
soldados e camponeses, bem como sua organização econômica com base na
propriedade coletiva e na igualdade social.
Para que a Revolução vingasse, tornou-se
necessário enfrentar os inimigos do novo regime numa guerra revolucionária em
que houve a intervenção de alguns países ocidentais. Essa guerra ajudou a dar
coesão ao novo regime.
Em 1921, a Revolução tinha triunfado. Mas
o país estava arruinado, sendo necessário um longo período de reorganização
para que ele entrasse novamente em ritmo de desenvolvimento.
2. A CRISE DO ANTIGO REGIME NA RÚSSIA
O Antigo Regime na Rússia compunha-se de um poder político
absoluto exercido pelo imperador (tsar ou czar), da antiga dinastia dos
Romanov. Apoiava-se em uma organização basicamente agrária, tendo em vista que 85%da
população vivia no campo. Os nobres proprietários de terra e a burguesia
industrial e mercantil concentravam-se nas cidades, bem como os cossacos da
Guarda Imperial, que representavam outros pontos de apoio.
O governo era autocrático. O imperador escolhia um corpo de
ministros, seus auxiliares no governo. Não havia nenhuma forma de restrição efetiva
ao seu poder.
Os problemas do Império Russo começaram efetivamente com a
Guerra Russo-Japonesa de 1905, motivada pelo choque de interesses na Manchúria.
A derrota ante os japoneses mostrou a deficiência do Estado tsarista, tornando
evidente a urgência de reformas.
Os partidos políticos mais organizados iniciaram uma série
de manifestações contra o Império. Dentre eles merecem
destaque o Partido Operário Social-Revolucionário Russo,
fundado em 1898, e o Partido Social-Democrático Russo, de
1902. Este último apresentava duas facções surgidas nas reuniões de Londres e
Genebra, de 1903: os bolcheviques, de tendência radical, e os mencheviques, moderados e conciliadores.
Os movimentos de rua foram duramente reprimidos pelos
cossacos, assinalando-se o Domingo Sangrento, de 22 de janeiro de 1905. Enquanto
isso, a tripulação do couraçado
Potemkin amotinava-se contra seus oficiais. As greves
multiplicavam-se, atingindo até mesmo a zona rural.
Esse conjunto de pressões levou o imperador a criar a Duma,
espécie de Assembleia Legislativa. No fundo, era uma reação do poder imperial,
que pretendia com essa concessão estancar os movimentos de rua e ganhar tempo
para controlar o problema. As Dumas eleitas entre 1905 e
1912, ao todo em número de quatro, foram pressionadas, nada
podendo fazer. O disfarce constitucional do Império Russo não durou muito
tempo. Os efeitos da Grande Guerra, na qual a Rússia se viu envolvida, acabaram
por desmascará-lo. A crise gerada pela guerra evidenciava a deficiência da
estrutura imperial. Alguns dados poderão exemplificar melhor a questão: o
exército precisava de 1,5 milhão de obuses e conseguiu apenas 360 mil; a
balança comercial entre 1914 e 1917 apresentava um deficit que subira de 214
milhões de rublos em 1914 para 1,658 bilhões em 1917; em 1914, a dívida pública
do Estado era de 1 bilhão de rublos, e em 1917 chegara a 10 bilhões; o meio
circulante passou de 1,6 bilhão em 1914 para 9,5 bilhões em 1917. Os salários
eram assim desvalorizados, por causa da inflação violenta, e as empresas com
capitais nacionais iam à falência, aumentando a entrada do capital estrangeiro,
o qual alcançaria 50% do capital total da Rússia em 1917 (33% era francês, 23%
inglês, 20% ale mão, 14% belga e 5% norte-americano).
Nessa conjuntura de crises, os descontentamentos sociais cresceram;
as greves eram numerosas. Somente no ano de 1916, entraram em greve cerca de
1.170.000 operários.
3. A REVOLUÇÃO BURGUESA: FEVEREIRO DE 1917
A burguesia liberal pressionava o governo, apoiada pela
esquerda moderada. Provocaram manifestações dos trabalhadores nas ruas e uma
greve geral paralisou os transportes em Petrogrado. O imperador não se
preocupou muito, pois o movimento atinha-se à capital e, ademais, a guarnição
militar da cidade era poderosa. Mas ele não contava com dois pontos essenciais:
os soldados não se prestaram a reprimir os movimentos, com os quais eram
coniventes, e os chefes socialistas puseram-se imediatamente a organizar a
luta. No dia 12 de março (27 de fevereiro pelo calendário russo, atrasado 13
dias em relação ao calendário ocidental), os soldados recusaram-se a marchar
contra o povo amotinado. Sem o exército, o poder político imperial desapareceu.
Dois governos foram constituídos imediatamente, o primeiro por deputados da
Duma; o segundo, intitulado soviete, era um conselho de soldados, trabalhadores
e camponeses. Inicialmente, a Revolução limitou-se a Petrogrado, mas em seguida
difundiu-se rapidamente. O tsar abdicou e os sovietes, que se organizavam para
dirigir as grandes cidades, formaram, junto com a Duma, um governo provisório;
a monarquia absolutista estava vencida.
O governo provisório era dirigido pelo príncipe Lvov e
dominado pela burguesia. Pusera fim ao tsarismo para organizar uma República
parlamentar liberal. Era fundamental, portanto, manter a Rússia no sistema de alianças
mundial, o que significava continuar a guerra contra a Alemanha. A partir de
maio, o ministro da Guerra, Kerensky, preparou uma grande ofensiva contra a
Áustria-
Hungria, aliada da Alemanha.
O país não tinha condições para dar sequência à guerra, estava
esgotado. Além disso, a burguesia não representava a massa. Era uma minoria reduzida
que não tinha força suficiente para impedir a elevação dos preços, estimular a
produção ou impedir as deserções dos soldados, muitos dos quais lutavam
descalços.
4. A REVOLUÇÃO SOCIALISTA
A instabilidade política refletia a incapacidade do governo
provisório. A cidade de Petrogrado transformou-se em núcleo revolucionário. Os
bolcheviques aumentavam suas fileiras e o Congresso dos sovietes, controlado por
eles, exigia a retirada da Rússia da guerra. O governo provisório perseguiu os
líderes bolcheviques e reprimiu violentamente as manifestações públicas; Lenin
refugiou-se na Finlândia.
Em julho, os bolcheviques contavam com o considerável número
de cerca de 200 mil partidários. Contavam ainda com o apoio dos marinheiros da
base de Kronstadt. O fracasso da ofensiva contra a Áustria-Hungria deu oportunidade
à manifestação do dia 17 de julho, em Petrogrado. Caiu o governo provisório de
Lvov, que foi substituído por Kerensky. Adversário dos bolcheviques, Kerensky
não era menos socialista, só que mais moderado. Em setembro, o general
Kornilov, ligado ao Antigo Regime, marchou em direção a Petrogrado. Kerensky
foi obrigado a pedir ajuda, até mesmo aos bolcheviques. Kornilov foi batido,
mas Kerensky mostrou sua dependência em relação aos trabalhadores e aos bolcheviques.
Preconizado por Karl Marx, o sistema de produção socialista só
foi posto em prática no século XX, primeiramente na Rússia, depois de 1917; a
seguir nos países comunistas da Europa Oriental; na China, depois de 1949; em
Cuba, depois de 1959; e em outros países, perfazendo o total de 1/3 da
população mundial, antes da queda do socialismo no Leste Europeu.
5. A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917
A Rússia constituiu durante muito tempo o exemplo único de
experiência socialista. Em 1917, a situação do Império Russo era de crise
absoluta, agravada pela participação na Primeira Guerra Mundial. Disso se
aproveitou o partido bolchevique (maioria) para tomar o poder num golpe
político dirigido por Lenin. Esta foi a chamada Revolução de Outubro. Em
fevereiro desse mesmo ano, ocorrera uma revolução burguesa que pretendia
implantar um regime parlamentarista de governo na Rússia, tendo sido o governo
exercido durante algum tempo por Kerensky, líder do partido socialista
revolucionário. Para consolidar a Revolução dentro da Rússia, foi necessário
enfrentar uma coligação internacional até 1921. Nesse período, Trotsky
organizou o Exército Vermelho e propôs a ideia de uma revolução permanente que
de veria ser difundida por todo o
mundo, ao que se opôs Stalin, que pretendia consolidar a
Revolução na Rússia em primeiro lugar.
6. OS DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO
O Governo Provisório que dominava a Rússia desde a revolução
de março de 1917 mostrava-se tão incapaz de controlar a economia ou de melhorar
a situação militar quanto o governo tsarista. Pressionado pelo soviete de
Petrogrado durante seus oito meses de existência, enfraqueceu-se ainda mais
devido à revolta do General Kornilov, em setembro. A coalisão socialista, sob o
comando de Kerensky, não deu ao povo a paz que almejava, nem as reformas econômica
e agrária que os bolcheviques ofereciam.
Em maio, durante a conferência partidária, Lenin havia conseguido
aprovar suas “teses de abril”, propondo a paz, a não cooperação com o Governo
Provisório e a transferência de poder desta entidade burguesa para os sovietes,
tão logo estes fossem dominados pelos bolcheviques proletários. Estes sovietes
(conselhos) de representantes de trabalhadores e de soldados haviam surgido em
todo o país após a Revolução de Fevereiro (existiram alguns, de curta duração,
em 1905). Seus membros eram eleitos nas fábricas e nas casernas e alguns foram
constituídos na zona rural. Eram mais populares do que o Governo Provisório.
Em setembro, os bolcheviques haviam-se assegurado da maioria
nos sovietes de Petrogrado e de Moscou, em bora os mencheviques e os
revolucionários socialistas ainda do minassem o Comitê Executivo Central do Congresso
dos Sovietes de toda a Rússia, que se reunira pela primeira vez em junho,
elegendo seu corpo diretivo. Lenin achava que as condições eram, então,
propícias à revolução socialista. “Todo poder aos sovietes” tornou-se a palavra
de ordem.
No dia 23 de outubro, numa reunião do Comitê Central do
Partido Bolchevista, tomou-se a decisão de preparar uma insurreição armada.
Para pôr em prática tal decisão, foi formado um departamento
político (Politburo). Dois dias mais tarde, o soviete de Petrogrado constituiu
um Comitê Militar Revolucionário, sob a presidência de Trotsky. Foi este
organismo e não o Politburo do partido que preparou e executou o golpe sub
sequente. A 3 de outubro, as tropas da guarnição de Petrogrado reconheceram no
soviete de Petrogrado único poder e, no dia 5, a Fortaleza de Pedro e Paulo,
onde havia um arsenal de 100.000 fuzis, passou para o lado do soviete. Na noite
de 6 para 7 de setembro, o Comitê Militar Revolucionário, se dia do no
Instituto Smolny, deu a senha para o início da ação. (John Reed)
A organização
econômica do Novo Regime
Assim que os comunistas tomaram o poder na Rússia, implantaram
o governo do povo, a ditadura do proletariado, que se fazia representar pelos sovietes.
Decretou-se a comunização total: os bens de produção foram estatizados, as
indústrias com mais de cinco empregados e as terras foram coletivizadas, a
moeda foi extinta, criando-se um bônus correspondente às horas de trabalho e
que poderia ser trocado por alimentos e serviços.
As dificuldades foram a oposição interna (camadas
descontentes) e a, pressão externa. Por isso foi adotada a NEP (Nova Política
Econômica), a partir de 1921. As pequenas indústrias voltaram à situação
anterior; a venda dos produtos agrícolas foi devolvida aos camponeses; e a
moeda voltou a circular. Lenin pretendia dar um passo atrás para poder “dar
dois passos à frente”. A produção agrícola recuperou-se rapidamente, bem como a
produção industrial. Porém, os kulaks, camponeses abastados, enriqueciam com a
alta de preços.
A sucessão a Lenin
Em 1924, morria o grande líder da Revolução Russa, Lenin, que
deixara em aberto o processo de sucessão.
Eram dois os candidatos: Stalin, que defendia a tese do
socialismo em um só país, e Trotsky, que defendia a expansão imediata da revolução
socialista. Apesar de Trotsky ser ortodoxo – seguidor fiel das teses marxistas –,
suas propostas foram rejeitadas pelo Congresso do PCUS, que entregou a chefia
do governo a Stalin, iniciando o período da era stalinista.
7. STALINISMO
O termo stalinismo define o período em que a URSS foi
governada por Josef Vissarionovith Djuga tchvili, ou simplesmente Josef Stalin
(que significa “de aço”), entre 1924 e 1953.
A ascensão de Stalin significou uma mudança radical no
processo de implantação do socialismo, tal como era concebido pela Revolução
Bolchevique.
Em termos políticos, a ascensão de Stalin significou a
implantação de um Estado extremamente burocratizado e autoritário, controlado
por uma elite militar, que tomava as decisões independentemente da população ou
de seus organismos de representação.
Em 1927, foi anunciado o primeiro plano quinquenal, cuja
finalidade era o desenvolvimento da indústria pesada. Seguiram-se outros planos
quinquenais, que desenvolveram a produção industrial e agrícola.
A grande dificuldade estava na agricultura, em relação à qual
o governo abandonou a ideia de coletivização total e criou as granjas coletivas
(kolkhozes) e as fazendas estatais (sovkhozes). Existia um mercado paralelo em
que os camponeses podiam vender os excedentes da produção, a qual de veria ser
fornecida ao Estado a preços de custo.
A produção econômica global era planificada e dirigida por um
órgão central, o Gosplan. Um banco central, o Gosbank, acumulava os capitais em
nome do Estado, cerca de 25% do produto global, e os distribuía para os bancos
industriais, comerciais e agrícolas.
Os bens de produção foram incrementados em detrimento dos bens
de consumo. O comércio era realizado em grandes lojas do Estado e a variedade
dos produtos era muito reduzida, pois a padronização diminuía os custos.
O avanço da economia soviética em relação aos países
capitalistas foi muito grande no setor industrial, mas permaneceu atrasado no
setor agrícola.
A ideia de uma sociedade comunista preconizada por Marx esteve
bem longe de realizar-se na Rússia, onde foi necessário distinguir com salário
os trabalhadores mais eficientes, e ao mesmo tempo realizar a conversão da
produção industrial para bens de consumo. Existia uma elite intelectual, os
grandes cientistas e a cúpula dirigente do partido, que preservava alguns
privilégios em relação aos demais membros da população.
Os países socialistas são mono partidários, isto é, só o
Partido Comunista é legalizado e a única forma de participação política é
pertencer ao partido. A unidade básica de poder é o soviete de camponeses,
operários e soldados, de onde saem os representantes para eleger os membros do governo.
Abolindo os cultos e as religiões tradicionais, violentamente perseguidos
nos países socialistas, acabou-se por criar uma nova forma de religião, a
religião do Estado.
5. CRONOLOGIA
1898 – Partido
Social Democrata Russo.
1903 – Congresso
de Londres: bolcheviques e mencheviques.
1905 – Derrota
para o Japão na disputa pela Manchúria.
1914-17 – Rússia
luta ao lado da Entente na Primeira Guerra Mundial.
1917 – Revolução
Burguesa Fev. de 1917 – A Revolução Burguesa depõe o czar Nicolau II. Out. de 1917 – Revolução
Bolchevista.
1918-1921 – Guerra
Civil.
1921 – A implantação
da NEP (Nova Política Econômica).
1924 – Morte de
Lenin, substituído por Stalin.
1928 – Início dos
Planos Quinquenais.
1953 – Morte de
Stalin.
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