10ª Aula de Filosofia 3º ano Ensino Médio
Ludwig Feuerbach
Ludwig Andreas Feuerbach | |
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Ludwig Feuerbach | |
Nascimento | 28 de julho de 1804 Landshut, Alemanha |
Morte | 13 de setembro de1872 (68 anos) Rechenberg, perto deNuremberg, Alemanha |
Nacionalidade | Alemã |
Ocupação | Filósofo, antropólogo |
Influências | |
Influenciados | |
Magnum opus | A Essência do Cristianismo |
Escola/tradição | Jovens hegelianos |
Principais interesses | Teologia, Antropologia |
Ideias notáveis | Deus é a projeção exterior do desejo de perfeição do homem |
Ludwig Andreas Feuerbach (Landshut, 28 de julho de 1804 — Rechenberg, Nuremberg, 13 de setembro de 1872) foi um filósofo alemão[1] . Feuerbach é reconhecido pelo ateísmo humanista e pela influência que o seu pensamento exerce sobre Karl Marx.
Abandonou os estudos de Teologia para tornar-se aluno do filósofo Hegel, durante dois anos, em Berlim. Em 1828, passa a estudar ciências naturais em Erlangen e dois anos depois publica anonimamente o primeiro livro, “Pensamentos sobre Morte e Imortalidade”. Nesse trabalho ataca a ideia da imortalidade, sustentando que, após a morte, as qualidades humanas são absorvidas pela natureza. Escreve “Abelardo e Heloísa” (1834), “Piere Bayle” (1838) e “Sobre Filosofia e Cristianismo” (1839). Na primeira parte desta última obra, que influencia Marx, discute a "essência verdadeira ou antropológica da religião". Na segunda parte analisa a "essência falsa ou teológica". De acordo com esta filosofia, a religião é uma forma de alienação que projeta os conceitos do ideal humano em um ser supremo. Ao atacar religiosos ortodoxos entre 1848 e 1849, anos de turbulência política, é considerado um herói por muitos revolucionários.
O seu posicionamento filosófico é uma transição entre o Idealismo Alemão, de uma parte e, de outra, o materialismo histórico de Marx e o materialismo cientificista da segunda metade do século XIX. Este posicionamento é caracterizado pela inflexão antropológica que Feuerbach imprime a algumas categorias herdadas de Hegel. Suas principais obras são: Da razão, una, universal, infinita (1828); Pensamentos sobre morte e imortalidade (1830); Sobre a crítica da filosofia positiva (1838); Crítica da filosofia hegeliana (1839); A essência do cristianismo (1841); Sobre a apreciação do escrito “A essência do cristianismo” (1842); Princípios da filosofia do futuro (1843); Teses provisórias para a reforma da filosofia (1843); Lutero como árbitro entre Strauss e Feuerbach (1843); A essência da religião (1846); Fragmentos para a caracterização de meu Curriculum vitae (1846); Preleções sobre a essência da religião (1851) e Teogonia (1857).
Para Feuerbach, a alienação religiosa segue-se dentro de uma teoria teológica buscando a razão e a essência do homem no mundo, mas o homem é essencialmente antropológico na característica humana, pois adquire sentimentos e sensibilidade. É desta forma que Feuerbach observa a alienação decorrente em cada indivíduo que busca uma relação substancial entre Homem e Deus.
O que proporcionou esse pensamento de Feuerbach foi a influência da teoria de Hegel e, mais tarde, a teoria de Marx. Posteriormente, nessas duas linhas de pensamento, uma teórica, a outra prática, Feuerbach busca a formula do Homem vs. Deus vs. Religião.
Portanto, intermediar essas teorias não foi fácil para Feuerbach, pois a Alemanha passava por uma forte mudança cultural; daí a forte crítica ao seu pensamento. Dentro desse contexto histórico, observa-se a teoria de Feuerbach voltada para a “teoria”, e a teoria de Marx, onde a lógica é a prática. Porém não é a teoria que busca a essência do homem, mas é na prática que os indivíduos se relacionam, afirma Marx mais tarde, com sua crítica a Feuerbach.
Faleceu em 13 de setembro de 1872. Encontra-se sepultado em Johannisfriedhof, Nuremberga, Baviera na Alemanha.[2] . A influência de Feuerbach depois de sua morte é notória. Filósofos como: Enrique Dussel, Sigmund Freud, Guy Debord, Emil M. Cioran e Rene Girard são altamente influenciados por sua filosofia ateísta.
O ser é matéria, o pensamento é seu atributo
A situação material em que o homem vive é que o cria. Feuerbach nega o conceito de que exista primeiro a ideia e depois a matéria. Para ele a maçã real precede a ideia da maçã. Afirma que deveríamos entender Hegel de cabeça para baixo. Para Feuerbach, Hegel descreve o homem de ponta-cabeça.
Pensamentos de Feuerbach
Quando a Moral se baseia na
Teologia, quando o Direito depende da autoridade divina, as coisas mais imorais
e injustas podem ser justificadas e impostas.
A Crueldade da Inquisição
A consciência de Deus é
autoconsciência; conhecimento de Deus é autoconhecimento. A religião é o solene
desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos
íntimos, a confissão aberta dos seus segredos de amor.
A situação material em que o
homem vive é o que o cria.
O Catolicismo já não corresponde
nem ao homem teórico nem ao homem prático; já não satisfaz o espírito nem
sequer satisfaz ainda o Coração, porque temos outros interesses para o nosso
coração, diferentes da beatitude celeste e eterna.
Para os religiosos, os santos são
a verdade; para os filósofos, a verdade é santa.
Uma religião só se mantém se ela
se preservar no seu sentido inicial, originário. Na origem, a religião é fogo,
energia, verdade; toda a religião começa por ser estrita e incondicionalmente
religiosa, mas, com o tempo, esgota-se, torna-se laxa, infiel a si mesma,
indiferente, submete-se à lei do ato. Para reconciliar com a religião esta
contradição da prática, esta apostasia da religião, para a dissimular,
recorre-se à tradição ou à modificação do antigo Livro da Lei.
Não queremos mais nenhuma
Teologia.
Devemos resumir num princípio
supremo, num vocábulo supremo, aquilo em que queremos nos tornar. Só assim
santificaremos a nossa vida, fundamentaremos a nossa tendência. Só assim nos
livraremos da contradição que, presentemente, envenena o mais íntimo de nós
mesmos: da contradição entre a nossa vida e o nosso pensamento e uma religião
radicalmente contrária à esta vida e a este pensamento. Devemos, pois,
tornar-nos novamente religiosos – a política deve se tornar a nossa religião –
mas ela só poderá se tornar tal, se tivermos na nossa intuição um princípio
supremo que consiga transformar a política em religião.
A religião, no sentido ordinário,
não é tanto o vínculo quanto a dissolução do Estado. Deus, no sentido da
religião, é o pai, o conservador, o providenciador, o guardião, o protetor, o
regente e o senhor da monarquia mundial. Por isto, o homem não precisa do
homem; tudo o que ele deve receber de si ou dos outros recebe-o imediatamente
de Deus. Confia em Deus, não no homem; dá graças a Deus e não ao homem, por
conseguinte, o homem só por acidente está vinculado ao homem. Na explicação
subjetiva do Estado, os homens reúnem-se pela simples razão de que não criem em
nenhum Deus, porque negam inconscientemente, de modo instintivo e prático, a
sua fé religiosa. Não é a fé em Deus, mas a desconfiança em Deus que funda os
Estados. É a crença no homem – como Deus do homem – que explica subjetivamente
a origem do Estado.
O Estado é o homem ilimitado,
infinito, verdadeiro, completo, divino. Só o Estado é o homem — o Estado é o
homem que a si mesmo se determina, o homem que se refere a si próprio, o homem
absoluto.
A religião tem por pai a miséria
e por mãe a imaginação.
O homem diz de Deus aquilo que
acredita de si mesmo.
Assim como a transmutação de Deus
em razão não elimina Deus, mas somente O desloca, assim também o Protestantismo
deslocou apenas o Papa para o rei. Trata-se agora do papado político; as razões
que tornam necessário o rei são as mesmas que tornam necessário o Papa
religioso.
O Papa, cabeça da Igreja, é homem
como eu; o rei, homem como nós. Eles não podem, pois, impor ilimitadamente as
suas fantasias; não estão por cima do Estado, por cima da comunidade.
Só quando tiveres suprimido a
religião católica é que tu, por assim dizer, terás direito à República; pois na
religião católica tens a tua república no céu. Por isto, não precisas de uma
aqui. Pelo contrário, aqui deves ser escravo, para que o céu não seja
supérfluo.
O Protestantismo já não se
preocupa, como o Catolicismo, com o que Deus é em si mesmo, mas apenas com o
que Ele é para o homem; por isto, já não tem, como aquele, nenhuma tendência
especulativa ou contemplativa. Já não é Teologia – é essencialmente só
cristologia, isto é, antropologia religiosa.
A elaboração, a resolução
racional ou teorética do Deus, que para a religião é transcendente e
inobjetivo, é a Filosofia especulativa.
A essência da Filosofia
especulativa nada mais é do que a essência de Deus racionalizada, realizada e
atualizada. A Filosofia especulativa é a Teologia verdadeira, consequente,
racional.
Deus enquanto Deus – como ser
espiritual ou abstrato, isto é, não-humano, não-sensível, acessível e objetivo
só para a razão ou para a inteligência – nada mais é do que a essência da
própria razão; mas esta é representada pela Teologia comum ou pelo Teísmo
mediante a imaginação como um ser autônomo, diferente, distinto da razão. É,
pois, uma necessidade interna, sagrada, que com a razão se identifique,
finalmente, a essência da razão distinta da razão. Portanto, que se reconheça,
realize e atualize o Ser Divino como a essência da razão. Nesta necessidade se
funda o grande significado histórico da Filosofia especulativa.
A opinião, segundo Platão, tem
apenas como objeto as coisas inconsistentes, e, por isto, é ela própria o saber
mutável e variável — precisamente apenas opinião.
A prova de que o Ser Divino é a
essência da razão ou da inteligência reside em que as determinações ou
propriedades de Deus – tanto quanto naturalmente estas são racionais ou
espirituais – não são determinações da sensibilidade ou da imaginação, mas
propriedades da razão.
Deus é o ser infinito, o ser sem
quaisquer limitações. Mas se Deus não tem fronteiras ou limites, também a razão
não tem quaisquer fronteiras ou limites.
A razão que pensa Deus como um
ser ilimitado pensa em Deus apenas a sua própria ilimitação.
A necessidade do Ser Primeiro e
Supremo funda-se no pressuposto de que só o intelecto é o ser supremo e
primeiro, o ser necessário e verdadeiro.
No Ser Necessário, a razão prova
e ostenta apenas a sua própria necessidade e a sua própria realidade.
O que são as verdades racionais,
imutáveis, universais, incondicionais, sempre e em toda a parte válidas, a não
ser expressões da essência da razão?
O que no Teísmo é objeto, na
Filosofia especulativa é sujeito. O que além é essência unicamente pensada e
representada da razão, aqui é a essência pensante da própria razão.
Deus é objeto do homem e só do
homem, não dos animais. Mas o que um ser é só se conhece a partir do seu
objeto. E o objeto a que necessariamente se refere um ser nada mais é do que a
sua essência revelada... Deus é apenas um objeto do homem. Os animais e as
estrelas glorificam Deus só na interpretação do homem. É, pois, inerente à
essência do próprio Deus não ser objeto para qualquer outro ser fora do homem,
isto é: Deus é um objeto especificamente humano, um segredo do homem.
Aquele para quem o Ser Supremo é
objeto é ele próprio o Ser Supremo. Quanto mais para os animais o homem for objeto,
tanto mais eles se elevam, tanto mais se aproximam do homem. Um animal para o
qual o objeto fosse o homem enquanto homem – o ser humano autêntico – já não
seria nenhum animal, mas o próprio homem. Só seres de igual valor são objeto
uns para os outros e, decerto, tais como são em si. A consciência do Teísmo
apreende também certamente a identidade do Ser Divino e do ser humano; mas,
porque ele, situando embora a essência de Deus no espírito, o representa ao
mesmo tempo como um ser sensível e que existe fora do homem, também esta
identidade é para ele objeto só como identidade sensível, como semelhança ou
parentesco. Parentesco exprime o mesmo que identidade; mas a ele está
simultaneamente associada a representação sensível de que os seres aparentados
são dois seres independentes, isto é, sensíveis e exteriores um ao outro na sua
existência.
A Teologia ordinária faz do ponto
de vista do homem o ponto de vista de Deus. Pelo contrário, a Teologia
especulativa faz do ponto de vista de Deus o ponto de vista do homem, ou antes,
do pensador.
Na Teologia ordinária, Deus é uma
contradição consigo mesmo; deve ser um ser não-humano, um ser supra-humano;
mas, efetivamente, é um ser humano segundo todas as suas determinações. Na
Teologia ou Filosofia especulativa, pelo contrário, Deus é uma contradição com
o homem: deve ser a essência do homem – pelo menos, da razão – e, no entanto,
é, na verdade, um ser não-humano, um ser supra-humano, ou seja, abstrato. Na
Teologia ordinária, o Deus supra-humano é somente uma flor de retórica
edificante, uma representação, um brinquedo da fantasia. Na Filosofia especulativa,
pelo contrário, é verdade e coisa terrivelmente séria.
Com efeito, o que é o
entendimento, o que é a essência de Deus em geral? Nada mais do que o
entendimento e a essência do homem separado das determinações que, sejam elas
reais ou imaginárias, constituem, em um momento dado, os limites do homem.
A que se reduz, pois, a diferença
entre o pensar divino e o pensar metafísico? Apenas a uma diferença de
imaginação, à diferença entre o pensar apenas representado e o pensar real.
Na Teologia especulativa, o mundo
e a Natureza existem depois de Deus, só segundo a ordem, segundo a importância:
o acidente pressupõe a substância, a natureza pressupõe a lógica; segundo o
conceito, mas não segundo a existência sensível, portanto não segundo o tempo.
A representação humana de Deus é
a representação que um indivíduo humano para si faz do seu gênero, de que Deus,
enquanto totalidade de todas as realidades ou perfeições, nada mais é do que a
totalidade sinoticamente compendiada para uso do indivíduo limitado, das
propriedades do gênero repartidas entre os homens e que se realizam no decurso
da história mundial.
O que o homem isolado não sabe
nem pode sabem-no e conseguem-no os homens em conjunto. Assim, o saber divino,
que conhece ao mesmo tempo todas as singularidades, tem a sua realidade no
saber da espécie.
O tempo da representação é o
tempo vazio, portanto, nada entre o ponto inicial e o ponto final do nosso
cálculo. Mas o tempo da vida real é o tempo cheio, onde montanhas de
dificuldades de toda a espécie separam o agora do instante seguinte.
A Teologia distingue em Deus
propriedades ativas e propriedades passivas, mas a Filosofia transforma também
as propriedades passivas em ativas – transforma todo o ser de Deus em
atividade, mas em atividade humana.
Não ser nada e não amar nada, é a
mesma coisa.
Quanto mais cresce nosso
conhecimento dos bons livros, tanto mais diminui o círculo de homens cuja companhia
achamos desagradável.
Meu único desejo é transformar os
amigos de Deus em amigos dos homens, os crentes em pensadores, os devotos da
oração em devotos do trabalho, os candidatos da vida futura em alunos do mundo,
os cristãos que, pela fé, são 'metade animal, metade anjo' em pessoas – pessoas
que formem uma unidade.
A Filosofia nada pressupõe. Isto
quer simplesmente dizer: abstrai de todos os objetos imediatos, isto é,
fornecidos pelos sentidos, distintos do pensamento, em suma, de tudo aquilo de
que se pode abstrair sem cessar de pensar, e faz deste ato de abstração de toda
a objetalidade o seu próprio começo. Mas que outra coisa é, então, o Ser
Absoluto senão o Ser a que nada se pressupõe, a que nenhuma coisa é dada e
necessária fora Dele, o Ser abstraído de todos os objetos, de todas as coisas
sensíveis Dele distintas e inseparáveis, portanto o Ser que o homem pode tomar
como objeto só mediante a abstração destas mesmas coisas? Se queres chegar a
Deus, deves libertar-te a ti mesmo de tudo aquilo de que Deus é livre, e, por
isso, só te libertarás realmente quando para ti O representas. Se, pois, pensas
em Deus como em um Ser sem a pressuposição de qualquer outro ser ou objeto,
então pensas em ti mesmo sem a pressuposição de um objeto exterior; a
propriedade que transferes para Deus é uma propriedade do teu pensamento. Só
que, no homem, é agir o que em Deus é ser ou o que, como tal, é representado.
O que separa o Teísmo do
Panteísmo é apenas a imaginação – a representação de Deus como ser pessoal.
Todas as determinações de Deus –
e Deus é necessariamente determinado, pois, de outro modo, é nada, e não será
objeto de uma representação – são determinações da realidade, ou da natureza,
ou do homem, ou dos dois conjuntamente.
Onde existe a vontade deve também
existir o entendimento: aquilo que se quer é apenas mister do entendimento. Sem
entendimento, não há objeto algum.
Como haveria de se separar em
Deus o entendimento da essência e a essência da realidade ou da existência? Se
as coisas estão no entendimento de Deus, como poderiam elas ser exteriores à
Sua Essência? E se são consequências do Seu entendimento, por que não hão de
ser consequências da sua Essência? E se, em Deus, a Sua Essência é
imediatamente idêntica à Sua Realidade Efetiva, se a Existência de Deus não se
pode separar do conceito de Deus, como haveria então de se separar o conceito
da coisa e a coisa real no conceito que Deus tem das coisas? Por conseguinte,
como admitir em Deus esta distinção que unicamente constitui a natureza do
entendimento finito e não divino, a distinção entre a coisa na representação e
a coisa fora da representação? Se nenhumas coisas tivermos exteriores ao
entendimento de Deus, também depressa nenhumas coisas teremos exteriores à sua
essência e, por fim, também nenhuns exteriores à existência de Deus – todas as
coisas existem em Deus e, claro, de fato e na realidade, não apenas na
representação; pois, onde elas existem só na representação – tanto de Deus como
do homem – por conseguinte, onde existem tão-só no modo ideal ou, antes,
imaginário em Deus. Existem ao mesmo tempo fora da representação; fora de Deus.
Se fora de Deus não tivermos mais coisas nem mundo, também não temos nenhum
Deus exterior ao mundo. Também não temos um ser apenas ideal, representado, mas
um ser real. Temos então, em suma, o Espinosismo ou o Panteísmo.
Um homem pensa de maneira
diferente em um palácio e em uma cabana.
A primeira e maior lei deve ser o
amor do homem pelo homem. Homo homini est Deus [Deus homo est] – esta é a
máxima suprema; este é o ponto de viragem da História do mundo.
O que ontem ainda era religião
hoje já não é, tal e qual hoje é o Ateísmo – que amanhã será religião.
As coisas materiais só podem ser
deduzidas de Deus se o próprio Deus se determinar como um ser materialista. Só
assim é que Deus, de uma causa puramente representada e imaginada, se
transforma na causa efetiva do mundo. Quem não se envergonha de fazer sapatos
também não se envergonha de ser e de se chamar sapateiro.
Quem faz da matéria um atributo
de Deus declara que a matéria é um ser divino.
O que é acessível ao Coração
também não é nenhum segredo para o entendimento.
A Humanidade, nos tempos
modernos, perdeu os órgãos para o mundo supra-sensível e os seus mistérios
unicamente porque, com a fé neles, também para eles perdeu o sentido; porque a
sua tendência essencial é uma tendência anticristã, antiteológica, isto é, uma
tendência antropológica, cósmica, realista, materialista.
Deus nada mais é do que o
arquétipo e o ideal do homem: ser como e o que Deus é, eis o que o homem deve
ser, eis o que o homem quer ser ou, pelo menos, espera vir a ser um dia. Mas, o
caráter, a verdade e a religião só existem onde a teoria não é negada pela prática,
nem a práxis pela teoria.
Se Deus é a negação de todo o
finito, então, o finito é também, logicamente, a negação de Deus.
A elevação da matéria a uma
essencialidade divina é imediatamente e ao mesmo tempo a elevação da razão a
uma essencialidade divina.
Se não existisse matéria alguma,
a razão não teria nenhum estímulo e material para pensar – não teria conteúdo
algum. Não é possível eliminar a matéria, sem eliminar a razão; não se pode
reconhecer a matéria sem reconhecer a razão.
Se não creio em Deus e não penso
em geral nenhum Deus, não possuo Deus algum. Ele existe para mim apenas por
meio de mim, para a razão unicamente através da razão. O 'a priori', o ser
primeiro, não é, pois, o ser pensado, mas o ser pensante; não é o objeto, mas o
sujeito.
O Ateísmo é o Panteísmo
invertido.
A Teologia cinde e aliena o homem
para, a seguir, de novo com ele identificar a sua essência alienada... A
Teologia é a fé nos fantasmas.
Abstrair significa pôr a essência
da Natureza fora da Natureza, a essência do homem fora do homem, a essência do
pensamento fora do ato de pensar.
O monoteísmo cristão não tem em
si qualquer princípio de cultura artística e científica. Só o politeísmo – o
chamado culto dos ídolos – é a fonte da arte e da ciência. Os Gregos
elevaram-se à plenitude da arte plástica unicamente porque viram na forma
humana, de um modo incondicional e sem hesitação, a forma suprema, a forma da
Divindade.
A arte só pode representar o
verdadeiro, o inequívoco.
A fé no além é uma fé
absolutamente apoética... A fé no além transforma toda a dor em aparência e em
inverdade.
A Ilusão da Fé
A Metafísica (ou a Lógica) é
apenas uma ciência real e imanente, se ela não estiver separada do chamado
espírito subjetivo.
A filosofia que deduz o finito do
infinito, o determinado do indeterminado, nunca chega a uma verdadeira posição
do finito e do determinado. Deduzir o finito do infinito é determinar e negar o
infinito e o indeterminado; é admitir que, sem determinação, ou seja, sem
finidade, o infinito nada é. É confessar que o finito se põe como a realidade
do infinito. Mas como a quimera negativa do Absoluto permanece como fundamento,
a finitude posta é sempre de novo suprimida. O finito é a negação do infinito
e, por seu turno, o infinito é a negação do finito. A Filosofia do Absoluto é
uma contradição.
A verdade do finito é expressa
pela filosofia absoluta só de um modo indireto e invertido. Se, pois, o
infinito só existe, só tem verdade e realidade quando determinado, isto é,
quando não se põe como infinito, mas como finito, então o finito é efetivamente
o infinito.
A tarefa da verdadeira Filosofia
não é reconhecer o infinito como o finito, mas o finito como o não-finito, como
o infinito; ou não é transpor o finito para o infinito, mas o infinito para o
finito.
O começo da Filosofia não é Deus,
não é o Absoluto, nem o ser como predicado do Absoluto ou da Ideia. O começo da
Filosofia é o finito, o determinado, o real. O Infinito não pode ser pensado se
sem o finito.
O primeiro não é o indeterminado,
mas o determinado, pois a qualidade determinada nada mais é do que a qualidade
real. A qualidade real precede a qualidade pensada.
A especulação ou Filosofia
Verdadeira nada mais é do que a empiria verdadeira e universal.
A honestidade e a probidade são
úteis em todas as coisas – também na Filosofia. Mas a Filosofia só é honesta e
sincera quando confessa a finitude da sua infinidade especulativa. Quando
confessa, por exemplo, que o segredo da Natureza em Deus nada mais é do que o
segredo da natureza humana, que a noite que ela põe em Deus, para daí tirar a
Luz da Consciência, é unicamente o seu próprio sentimento obscuro, instintivo,
da realidade e indispensabilidade da matéria.
A Filosofia é o conhecimento do
que é. Pensar e conhecer as coisas e os seres como são – eis a lei suprema, a
mais elevada tarefa da Filosofia... A veracidade, a simplicidade e a exatidão
são as características formais da Filosofia real.
O espaço e o tempo são as formas
de existência de todo o ser. Só a existência no espaço e no tempo é existência.
A negação do espaço e do tempo é sempre apenas a negação dos seus limites, não
do seu ser. Uma sensação intemporal, uma vontade intemporal, um pensamento
intemporal, um ser intemporal são quimeras. Quem não tem tempo algum também não
tem, em geral, tempo nem impulso para querer e para pensar. A negação do espaço
e do tempo na Metafísica, na essência das coisas, tem as mais funestas consequências
práticas. Só quem em toda a parte se encontra no ponto de vista do tempo e do
espaço possui igualmente na vida tato e entendimento prático. O espaço e o
tempo são os primeiros critérios das práxis. Um povo que exclui o tempo da sua
Metafísica e diviniza a existência eterna, isto é, abstrata, isolada do tempo,
exclui também consequentemente o tempo da sua política e diviniza o princípio
da estabilidade, contrário ao direito, à razão, à história.
O espaço e o tempo são as formas de
revelação do Infinito Real.1
O Espaço-tempo Relativo
Onde não existe nenhum limite,
nenhum tempo, nenhuma aflição, também não existe nenhuma qualidade, nenhuma
energia, nenhum espírito, nenhuma chama, nenhum amor. Só o ser indigente é o
ser necessário. A existência sem necessidades é uma existência supérflua. O que
é em geral isento de necessidades também não tem qualquer necessidade da
existência. Quer ele seja, ou não, é tudo um – um para si mesmo, um para os
outros. Um ser sem indigência é um ser sem fundamento. Só merece existir o que
pode sofrer. Só o ser doloroso é um ser divino. Um ser sem afecção é um ser sem
ser. Um ser sem afecção nada mais é do que um ser sem sensibilidade, sem
matéria. (Grifo meu).
O Filósofo deve introduzir no
texto da Filosofia aquilo que no homem não filosofa, aquilo que, pelo
contrário, é contra a Filosofia, que se opõe ao pensamento abstrato, portanto,
aquilo que em Hegel se reduz a simples nota. Só assim a Filosofia se tornará a
força universal, sem antagonismos, irrefutável e irresistível. A Filosofia não
deve, pois, começar por si, mas pela sua antítese, pela não-filosofia. Esta
essência distinta do pensamento, afilosófica, absolutamente antiescolástica em
nós, é o princípio do Sensualismo.
O Coração faz revoluções, a
cabeça reformas; a cabeça põe as coisas em posição, o Coração põe-nas em
movimento. Mas só onde existe movimento, efervescência, paixão, sangue,
sensibilidade, reside também o Espírito.
O Coração é justamente, no homem,
o princípio puramente antiteológico, o princípio descrente, ateu, no sentido da
Teologia. Pois crê somente em si mesmo, crê apenas na realidade irrecusável,
divina, absoluta, da sua própria essência. Mas a cabeça, que não compreende o
Coração – porque a sua função consiste em separar, em distinguir o sujeito e o
objeto – transforma a essência própria do Coração em uma essência distinta do
Coração, objetiva e exterior. O Coração tem, decerto, necessidade de um outro
ser, mas apenas de um ser que lhe seja semelhante e não diferente do Coração, e
que também não o contradiga. A Teologia nega a verdade do Coração, a verdade da
paixão religiosa. A paixão religiosa, o Coração, diz, por exemplo: — Deus
sofre. A Teologia, pelo contrário, afirma: — Deus não sofre. Ou seja, o Coração
nega a distinção entre Deus e o homem;2 a Teologia afirma-a.
O Antropoteísmo3 é o Coração
elevado a entendimento; exprime na cabeça apenas de maneira racional o que o
Coração diz a seu modo... O Antropoteísmo é a religião autoconsciente – a
religião que a si mesma se compreende.
A essência do ser enquanto ser é
a essência da Natureza. A gênese temporal estende-se apenas às formas; não é
essência da Natureza... A Natureza é a essência que não se distingue da
existência; o homem é a essência que se distingue da existência. A essência
não-distinta é o fundamento da essência que distingue. A Natureza é, pois, o
fundamento do homem.
Tudo aquilo que parece ser divino
nada mais é do que simplesmente humano.
Primeiramente o homem cria Deus,
sem saber e sem querer, conforme a sua imagem.
Como o homem pensar, como for
intencionado, assim é o seu Deus: quanto valor tem o homem, tanto valor e não
mais tem o seu Deus. A consciência de Deus é a consciência que o homem tem de
si mesmo, o conhecimento de Deus o conhecimento que o homem tem de si mesmo.
Pelo Deus conheces o homem e, vice-versa, pelo homem conheces o seu Deus; ambos
são a mesma coisa.
A base de toda a religião é a
dependência.
O homem [religioso, fideísta]
projeta todas as suas qualidades positivas em uma pessoa divina, fazendo dela
uma realidade subsistente, diante da qual se sente como um nada.
Toda a especulação sobre o
Direito, a vontade, a liberdade, a personalidade sem o homem, fora ou acima do
homem, é uma especulação sem unidade, sem necessidade, sem substância, sem
fundamento, sem realidade. O homem é a existência da liberdade, a existência da
personalidade, a existência do Direito. Só o homem é o fundamento e o solo do
Eu de Fichte, o fundamento e o solo da mônada leibniziana, o fundamento e o
solo do Absoluto.
Uma doutrina é apenas uma
hipótese enquanto não se encontrar a sua base natural. Isto vale, sobretudo,
para a doutrina da liberdade.
O Catolicismo4 exprimiu a verdade
unicamente em contradição com a verdade. A verdade sem contradição, pura,
liberta de todas as falsificações é uma nova verdade — uma ação nova e autônoma
da Humanidade.
O Catolicismo estabeleceu como
meta a realização dos desejos irrealizáveis do homem e exatamente por isso
deixou de lado os desejos atingíveis do homem; ele arrancou do homem a vida
temporária através da promessa da vida eterna, arrancou-o da confiança em suas
próprias forças através da confiança na ajuda de Deus, arrancou-o da fé em uma
vida melhor na Terra e do esforço para consegui-la através da fé em uma vida melhor
no céu.
O segredo da própria religião – a
religião em si – não é nada mais do que a verdade e a divindade da natureza
humana.
A religião é o sonho da mente
humana. Mas, mesmo em sonhos, não nos encontramos no vazio ou no céu, mas na Terra,
no reino da realidade...
A época atual prefere o símbolo à
coisa significada, a cópia ao original, a fantasia à realidade, a aparência à essência.
Por estes dias, só a ilusão é sagrada.5
O Cristianismo, de fato, há muito
desapareceu não só da razão, mas também da vida da Humanidade. Hoje, não é nada
mais do que uma ideia fixa.
É tão claro como o Sol e tão
evidente como o dia que Deus não existe e que não pode haver nenhum Deus.
A fé é essencialmente
intolerante... Essencialmente porque necessariamente a fé está ligada à ilusão,
e a ilusão também é causa de Deus.
A razão é uma e universal.
A verdadeira religião, a
verdadeira humildade, é não estar preocupado com a salvação individual.
Deus é vida, amor, consciência,
Espírito, Natureza, tempo, espaço, tudo... Você existe no amor de Deus como um
ser consciente. Você existe na consciência de Deus como um ser pensante. Você
existe no Espírito de Deus como um ser vivo. Você existe na própria Vida
Infinita.
A verdadeira relação entre
pensamento e ser é apenas esta: o ser é o sujeito, o pensamento e o predicado.
O pensamento provém do ser, mas não o ser do pensamento. O ser existe a partir
de si e por si – o ser é só dado pelo ser. O ser tem o seu fundamento em si
mesmo, porque só o ser é sentido, razão, necessidade, verdade. Em uma palavra:
o ser é tudo em todas as coisas. O ser é, porque o não-ser é não-ser, isto é,
nada, não-sentido.
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