domingo, 24 de março de 2013


4ª Aula de Filosofia - 1º Ano Ensino Médio - Manhã, Tarde e Noite

LÓGICA
          A Lógica estuda a Razão como instrumento do conhecimento. Para estudar qualquer instrumento complexo, uma máquina agrícola, por exemplo, não começaríamos por experimentar seu funcionamento, procurando como nos servir dela DE   UMA   MANEIRA CORRETA e sem danificá-la? Do mesmo modo, deveremos antes de tudo determinar como nos servir da razão de maneira correta, isto é, conforme à natureza do raciocínio e sem prejudicá-lo. Daí o primeiro problema: Quais são as regras que precisamos para raciocinar correta mente?
Problema central da Lógica menor ou Lógica formal,
         Depois disso, não iríamos nós estudar a máquina em questão, não mais por pura experiência, mas na sua aplicação na própria matéria que ela deve trabalhar, procurando como nos servir dela não somente de uma maneira correta, mas ÚTIL E EFICAZ?
         Portanto, do mesmo modo será necessário que examinemos o raciocínio em sua aplicação nas coisas, fazendo a pergunta:  Em que condições o raciocino é somente correto, mas também verdadeiro e demonstrativo, e faz adquirir a ciência?
Problema central da Lógica maior ou Lógica material,
         É nesta parte da Lógica que deveremos estudar os métodos das diversas ciências. Mas, antes disso, apresentar-se-á um problema muito mais grave.
         Por que meio as coisas se tornam presentes ao nosso espírito de maneira a podermos raciocinar sobre elas e delas adquirir a ciência?   Pelas nossas ideias.
         Toda pessoa sabe por experiência o que é uma ideia basta-lhe refletir o que tem em si quando faz um julgamento qualquer, como, por exemplo, "os filósofos cometeram muitos erros.” "filósofos", "erros", "cometeram", "muitos", tudo isso é apresentado a seu espírito por ideias. A fim de evitar qualquer equívoco, procuremos, pois, descrever o que cada um entende por essa palavra. Diremos, por exemplo: as ideias são as imagens ou reproduções internas das coisas pelas quais estas nos são apresentadas de maneira que possamos raciocinar sobre elas (e,  portanto adquirir-lhes a ciência).
       O que fazem as palavras que empregamos, senão exprimir nossas ideias? Sim, sem dúvida. Mas trazem consigo outra coisa a mais. Se eu digo, por exemplo, a palavra Anjo, não tenho,  por acaso duas imagens do ser em questão? Primeiramente uma ideia que me faz conhecer propriamente este ser (ideia de espírito puro), mas também uma representação sensível (a imagem de qualquer figura mais ou menos vaporosa e alada), a qual não corresponde absolutamente ao ser em questão, porque um ser puramente espiritual não pode ser visto.
      Se digo ainda,  a palavra Quadrado, por exemplo, tenho em mim a ideia do quadrado, pela qual posso raciocinar sobre a coisa de que se trata (ideia de polígono retangular de quatro lados iguais) e tenho ao mesmo tempo a representação sensível — que, aliás, desta vez corresponde bem à coisa em questão — de tal desenho que imagino feito no quadro negro com giz. Ora, esta ideia e esta representação são bem diferentes; a prova é que posso fazer variar a segunda de muitas maneiras (o desenho que imagino pode ser maior ou menor, branco, vermelho, amarelo, etc.) sem que a primeira varie por causa disso. Além disso, se dissesse, por exemplo, Miriágono, em vez de Quadrado, não teria dessa figura uma ideia tão clara e distinta como do Quadrado (ideia de polígono de dez mil lados), enquanto que a representação sensível que eu fizesse no meu espírito só poderia ser excessivamente vaga e confusa.
Ideia e Imagem.
         É claro que, embora as representações sensíveis me ajudem a raciocinar, não é,  no entanto com elas que raciocino para adquirir a ciência das coisas: porque posso racionar sobre o Anjo ou sobre o Miriágono de modo tão exato como raciocino sobre o Quadrado.   E meu raciocínio em nada depende das mil variações que posso dar às minhas representações  sensíveis do Anjo, do Miriágono ou do Quadrado.
        Concluamos daí que as coisas se nos apresentam de dois modos muito diferentes, ou
POR UMA IDÉIA
ou
POR  UMA REPRESENTAÇÃO  SENSÍVEL.
        Pela primeira pensamos (intelligimus) a coisa; pela segunda imaginamo-la. A representação sensível não passa de uma espécie de fantasma, uma imagem daquilo que vimos, ouvimos, tocamos, em suma, daquilo que nos foi mostrado, primeiramente por uma sensação; antigamente chamavam-na de fantasma, hoje a denominam simplesmente imagem.     Daqui por diante reservar-lhe-emos este nome de imagem, restringindo assim a sua significação. (Mas então não deveremos mais empregar esta mesma palavra a respeito da-ideia.)    Digamos, portanto, que
CONCLUSÃO .  As ideias são as similitudes internas das coisas pelas quais estas nos são apresentadas de modo que possamos raciocinar sobre elas (por conseguinte adquirir-lhes a ciência); as imagens são as similitudes internas das coisas pelas quais essas mesmas coisas nos são apresentadas como nos as mostraram primeiramente nossas sensações. As palavras significam diretamente as ideias, mas evocando ao mesmo tempo imagens.
         Se depois disso compararmos as coisas tais quais nos são apresentadas pelas ideias e as coisas tais quais nos são apresentadas pelas sensações ou imagens, é fácil ver que elas se distinguem umas das outras,  por certo caráter de importância capital. Se evoco,  a imagem de um homem, por exemplo, vejo aparecer na minha imaginação, com contornos mais ou menos vagos ou mais ou menos simplificados, tal ou tal homem em particular. É louro ou moreno, grande ou pequeno, preto ou branco, etc. Porém, quando formo a ideia do homem, como, por exemplo, ao dizer que "o homem é superior aos animais sem razão", ou "os brancos e os negros são igualmente homens", esta ideia não me apresenta nenhum homem particular, deixa de lado todos os sinais individuais que distinguem este homem daquele. Ela faz abstração de ambos, como dizem os filósofos.
(MARITAIN, Jacques. Introdução Geral à Filosofia, Ed. Agir, 1978,Rio de Janeiro-RJ, p. 102-104)

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