6ª Aula de Filosofia 3º Ano E.M.
IDEALISMO
ALEMÃO
"Nada
de significante no mundo já
foi feito sem paixão."
(Hegel)
1.
A filosofia Moderna
Convencionalmente
aceita-se que a filosofia moderna estenda-se desde as grandes navegações do
século XV até o conjunto de eventos que culminaram na Revolução Francesa, no
final do Século XVIII (Universidade Católica de Brasília, 2007). De fato, foi
um período de grandes mudanças políticas, sociais e científicas no mundo todo,
apesar de o auge da filosofia moderna ter ocorrido no continente europeu.
Passou-se
a delinear com melhor clareza os limites do estudo filosófico. Ainda no
princípio do período moderno havia a preocupação com Deus e a relação do homem
com Ele, inclusive buscando-se provas da imortalidade da alma e da existência
de Deus (como exemplos podemos citar Descartes e Berkeley). Com o passar do tempo,
há o predomínio da ideia de conquista técnico-científica da realidade (Cabral,
2006), Essa ideia se propagou devido às tentativas de explicações mecânicas e
matemáticas do Universo, assim como por meio da invenção de máquinas
(decorrentes das experiências físico-químicas).
Por
todas essas questões, acreditou-se que a vida ética poderia ser pensada
racionalmente, bem como a política também (Chauí, 2002).
1.1.
Renascimento
Foi
um movimento ocorrido no continente europeu (Universidade Católica de Brasília,
2007). Seus limites geográficos e cronológicos são difíceis de se estabelecer
com precisão, mas pode-se afirmar que o auge ocorreu na Itália nos séculos XV e
XVI. Segundo Cabral (2006), ocorreu entre os séculos XIV e XVI. Antes de ser
considerado um período delimitado, deve ser visto como um conjunto de
aspirações, que passou a considerar o homem como um ser de ações.
Houve
um encantamento com a cultura Greco-romana, mas não é simplesmente um retorno à
antiguidade clássica. Além da revalorização da cultura Greco-romana, o
renascimento assinala uma reação ao medievo, assim como também um prenúncio de
um novo tempo: os tempos modernos (Cabral, 2006). Por isso, pode-se afirmar que
no Renascimento misturam-se elementos da antiguidade clássica e do cristianismo
inseridos na nova realidade do período moderno.
1.2.
Reforma Protestante
Movimento
de cunho religioso que ocorreu no continente europeu (inicialmente na
Alemanha), encabeçado pelo monge alemão Martinho Lutero, que no ano de 1517
afixou na porta do castelo Wittemberg suas 95 teses, criticando a concessão de
indulgências, mas ainda assim alcançavam também temas como o pecado e as
penitências, o que afetou as autoridades eclesiásticas (Universidade católica
de Brasília, 2007).
Em
resposta à ousadia de Lutero (em menos de um mês suas teses estavam espalhadas
por toda a Alemanha), as autoridades eclesiásticas concluíram que Lutero agia
em heresia, que culminou em sua excomunhão.
No
ano seguinte, Lutero é condenado também pelo imperador Carlos Magno. Mas até
esse momento já havia conquistado a confiança de muitos discípulos, entre humanista,
artistas e príncipes. O movimento foi crescendo, mas demorou até que fosse
reconhecido.
1.3.
Revolução Científica
É
o movimento que ocorre a partir das descobertas de Galileu, Kepler e demais
pensadores do século XVII. Até então a ciência era conjunta com a filosofia,
mas desde as descobertas científicas do período, houve uma delimitação mais
precisa do que cabe à filosofia, e do que é responsabilidade da ciência
(Universidade Católica de Brasília, 2007).
Destas
descobertas pode-se formular novas compreensões acerca da natureza e de seu
conhecimento, o que originou a ciência da natureza moderna (a física).
1.4.
Racionalismo
Filosofia
que enfatiza o papel da razão, que garante a aquisição e justificação do
conhecimento sem auxílio (Blackburn, 1997). Iniciou-se com as novas descobertas
da Revolução Científica e caracterizou-se a princípio pela posição de que a
razão pode nos apresentar o mundo e de que a ciência deve separar-se da
filosofia, então seria responsabilidade da filosofia o embasamento racional das
novas descobertas.
Como
grande representante do período, Descartes (conhecido como o pai da filosofia
moderna) foi o primeiro a oferecer uma resposta para o impasse. Usou uma
analogia significativa (Universidade Católica de Brasília, 1997), onde comparou
o conhecimento humano a uma árvore, sendo as raízes a metafísica e o tronco a
física. Assim sendo, caberia à filosofia definir os fundamentos, e à ciência os
fenômenos e fatos em si.
1.5.
Criticismo
Nascido
na Alemanha, Kant interessou-se desde o início pela ciência newtoniana e se
questionava a respeito da natureza do nosso conhecimento (Aranha, 2003). Em sua
obra Crítica da Razão Pura, questiona a possibilidade de uma "razão
pura", independente da experiência.
O
criticismo caracteriza-se pela posição de considerar a análise crítica da
possibilidade, do valor, da origem e dos limites do conhecimento racional
seriam o ponto de partida do conhecimento filosófico. Pode ser considerado uma
crítica ao Racionalismo e ao Empirismo.
1.6.
Filosofia pós-Kantiana
Kant,
ao apresentar seu sistema que pretendia sintetizar duas grandes tendências
(racionalismo e empirismo), e ao mesmo tempo superá-las e resolver suas
pendências. Decorrente destes objetivos, a filosofia alemã foi muito
influenciada por Kant em todo o período vigente do seu sistema de idealismo.
2
Idealismo Alemão
2.1
local e data
Iniciou-se
a partir do impacto causado pelas obras de Kant. Estende-se desde a década de
1780 até meados do século XIX. Seu declínio é marcado pela morte de Hegel em
18530 (Universidade Católica de Brasília, 2007).
Os
filósofos idealistas não se colocavam como adversários da obra de Kant, mas sim
como seus continuadores.
Dentre
seus principais pensadores, serão contemplados neste trabalho Fichte, Schelling
e Hegel, por serem considerados os mais importantes no esclarecimento do tema
proposto.
3.
Fichte
Nascido
em 1762 e morto em 1814, formou-se em teologia e depois em filosofia em Iena.
Tornou-se conhecido em parte devido ao fato de seu primeiro livro (publicado
anonimamente) ter sido atribuído a Kant (Universidade Católica de Brasília,
2007; Blackbourne, 1997). Tornou-se professor da Universidade de Iena, e
publicou uma obra que pretendia desenvolver a filosofia kantiana e a transforma
em um idealismo radical, pois abandona a concepção Kantiana de dualismo
"pensamento-coisa". Para ele, tudo depende do sujeito pensante que
não corresponde a um? Eu individual? mas sim a um "eu universal",
fonte para a explicação de todas as coisas.
3.1.
Eu Absoluto
O
ponto da partida de Fichte é o absoluto (Morente, 1980). Entretanto, este
"eu absoluto" não consiste em pensar, pois pensar vem depois.
Consiste em fazer, consiste numa atividade (Cabral, 2006). Assim, a essência do
eu absoluto é a ação.
Cabral
nos aponta em sua obra os três princípios determinados por Fichte e utilizados
na elaboração de suas teorias, a seguir: Tudo o que é, só é na medida em que
está dentro do eu; a isso Fichte denominou o primeiro princípio de sua obra, o
da identidade. Deste princípio da identidade, decorre o princípio da oposição.
Neste segundo princípio, admite um contrário do eu, que é chamado de não-eu.
Para Fichte, Não-eu é sempre eu, pois o oposto só poderia se dar pela ação
absoluta do eu.
Destes
princípios, deriva ainda o terceiro, o princípio da razão, onde Fichte se
esforça por unificar os opostos citados, através de uma análise reflexiva, até
restar unicamente o eu como fundamento de todo o saber.
4.
Schelling
Nascido
em 1775 e morto em 1854, em Berlim. Nasceu em Leonberg e estudou em Türbingen.
Tornou-se professor em Iena em 1798. Suas primeiras obras enfatizam a força,
autoconsciência, no espírito dinâmico e na realização moral de ideais
inatingíveis (Blackburn, 1997). Inicialmente segue as obras de Fichte, mas
desenvolve seu próprio sistema, numa filosofia da natureza complexa.
Toma
o absoluto como ponto de partida para a sua reflexão, porém considera que o
absoluto é harmonia, a unidade dos contrários, a unidade total. Morente (1980)
destaca que para Schelling, o absoluto é a unidade vivente, espiritual, dentro
da qual estão como germes todas as diversidades que conhecemos.
4.1.
Natureza
Segundo
Cabral (2006), Schelling afirma que Deus e natureza não se opõem. "A
natureza não está fora de Deus, mas em Deus". Schelling argumenta que Deus
é a ideia de todas as ideias, o conhecer de todo o conhecer, a luz de toda a
luz. DEle vem tudo e para Ele tudo retorna. Essas ideias podem nos apontar uma
relação elaborada por Schelling entre Deus e Natureza, partindo do Eu absoluto
de Fichte. Essas ideias podem não ter sido tão bem aceitas pela sociedade
eclesiástica da época, pois não se afasta por demais de uma teoria panteísta.
5.
Hegel
Nasceu
em 1770, em Stuttgart e morreu em 1831, em Berlim. A princípio era seguidor de
Schelling, mas ao publicar sua obra Fenomenologia do espírito, torna pública a
sua opinião contrária a este filósofo. Afirmou que o propósito fundamental da
Filosofia é superar divisões e chegar ao Eu absoluto (Universidade Católica de
Brasília, 2007).
Um
dos legados mais importantes de Hegel para a filosofia foi sua posição frente à
Lógica (dialética hegeliana), um tanto complexa ao considerarmos suas posições
entre história de um lado e pensamento e espírito de outro. Estas observações
levaram-no a considerar a desarmonia ou as contradições do mundo como um
exemplo das contradições do pensamento (Blackbourne, 1997).
5.1.
Dialética
Como
conceito, a dialética pode ser entendida como "a arte do diálogo, a arte
de discutir" (Rezende, 2005). A abordagem dialética hegeliana constitui-se
de três etapas e visa ser o processo lógico pelo qual a verdade é descoberta
(Bergman, 2004). O processo da dialética se constitui em tese, antítese e
síntese, sendo a tese o conceito de "ser", a antítese o conceito de
"nada" e a síntese o conceito de "tornar-se". A síntese é a
maior forma de verdade, pois é a unidade dos opostos da tese e da antítese.
O
processo dialético não é propriedade exclusiva da consciência humana,
ajudando-nos a entender o mundo, mas é também o próprio mundo (Espírito
Absoluto). Então podemos entender todo o mundo, por que tudo é resultado do
Espírito Absoluto. Ainda segundo Hegel, a sentença "o real é
racional" corrobora com essa conclusão.
5.2.
História
Hegel
traça o desenvolvimento do espírito do mundo em termos de uma busca por
liberdade. História é o desenvolvimento progressivo dessa liberdade (Bergman,
2004; Blackbourne, 1997). A história tem o propósito racional.
Uma
grande contribuição da filosofia hegeliana é a construção de um método para se
entender o curso da história e de nosso conhecimento como o resultado da marcha
do pensamento humano rumo a estágios melhores (Cabral, 2006). Para Hegel, a
história mostra a evolução humana rumo a uma racionalidade e liberdades
maiores.
Desse
novo modo de compreender a história resulta a ideia de progresso (Aranha,
2003), pois na medida em que a história avança, os homens acumulam
conhecimentos e práticas, aperfeiçoando-se cada vez mais. Entretanto, tal
progresso somente se realiza com uma teoria do conhecimento adequada.
Assim,
o presente é melhor e superior se comparado ao passado, e o futuro será melhor
se comparado ao presente, o que aporta a uma noção romancista, confiando no
caráter progressista, mas ainda proporcionando um modelo para futuros
movimentos sociais e políticos que se orgulham de estar do lado do futuro.
6.
Considerações
Para
os filósofos do Idealismo Alemão, sua visão de mundo era antropocêntrica, visto
que julgavam somente o homem ser capaz de escapar ao determinismo natural.
Esse
determinismo é apontado pelo fato de considerarem a natureza como parte do Eu
absoluto, fundindo-se a Deus, então o homem, parte deste todo, também se
fundiria neste Eu Absoluto, nesse sentido poderia perder um pouco da sua
essência.
Mas
elaborando melhor a teoria do Idealismo alemão, Hegel construiu sua dialética e
pode assim atribuir à história um caráter racional, que livraria o homem do
determinismo, pois, "só o homem tem história, por que somente ele tem agir
moral. Com o darwinismo, considerou-se que todos os animais têm uma história
(mesmo que biológica), mas só o homem pode sair do determinismo da
natureza".
7.
Referências:
ARANHA,
M.L.A. Filosofando. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2003.
BERGMAN,
G. Filosofia de banheiro. São Paulo: Madras, 2004.
BLACKBURN,
S. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
CABRAL,
C. A. Filosofia. São Paulo, Ed. Pillares, 2006.
CHAUI,
M. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
MORENTE,
M.G. Fundamentos de filosofia. 8.ed. São Paulo: Mestre Jou, 1980.
REZENDE,
A. Curso de filosofia. 13. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2005.
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