7ª Aula de Filosofia do 3º Ano Ensino Médio
MORALIDADE E ETICIDADE (ÉTICA DE
KANT E HEGEL)
Desde a antiguidade a Ética e
moral são assuntos que estão presentes nas discussões de grandes filósofos.
Esse é um assunto bastante comentado no âmbito da filosofia e bastante popular
também entre os menos doutos, pois trata de questões que estão presentes no dia
a dia das pessoas. Todo indivíduo que vive em sociedade lida com questões referentes
a Ética, ela é algo que está intrinsecamente ligada a vida dos sujeitos
conscientes. Grandes pensadores, não só da antiguidade, mas da história da
Filosofia como um todo, se tornaram conhecidos por se debruçarem sobre a Ética
nas suas obras, a exemplo de Aristóteles, Nietzsche, Jeremy Bentham, Kant,
Hegel, entre outros.
Já no período conhecido como
modernidade, mais precisamente nos sécs. XVIII – XIV, Kant (filósofo alemão,
1724 – 1804) desenvolveu várias discussões acerca da Ética, as quais podemos
ter acesso em algumas de suas obras como a Crítica da razão prática. Do mesmo
modo, Hegel (também filósofo alemão, 1770 -1831) desenvolve uma vasta reflexão
acerca deste tema. Ambos viveram praticamente no mesmo período histórico –
apesar de Hegel ter nascido posteriormente – mas a postura de cada um destes
filósofos frente a este tema é bem diversa. Mais que isso, ambas são quase que
opostas, é possível perceber isso através da crítica que Hegel faz ao
tratamento que Kant dá a Ética.
Kant é responsável por formular
uma Ética ou uma moral baseada no dever. Kant historicamente é conhecido por
ser um sujeito que primava sobretudo pela razão em suas obras e acaba que o
tratamento que ele dá a Ética também tendo esta característica. Kant coloca a
razão como o elemento que deve reger toda ação humana. Ele elabora um conceito
chave, o imperativo categórico, que é o reflexo desta razão absoluta, o
princípio que todo indivíduo deve seguir como base para as suas ações. Este tal
imperativo categórico preconiza que os indivíduos devem tomar suas atitudes de
uma maneira que o princípio da sua ação possa ser tomado como um princípio de
ação universal, ou seja, que aquilo que o indivíduo faça seja algo que possa
necessariamente servir para todas as pessoas no mundo. E mais, que essa atitude
seja também necessariamente considerada boa em qualquer contexto histórico, em
qualquer tempo.
Hegel, por sua vez, é defensor de
uma ética, também de cunho racional (o que já era de se esperar de um
filósofo), mas de princípios diferentes da Ética defendida por Kant. A Ética de
Hegel pode ser chamada de uma Ética contextualista, pois preconiza que o
critério para avaliar uma ação como eticamente correta está no contexto da
situação que o indivíduo está agindo, ou seja, é preciso avaliar outros
elementos que estão dentro da situação e não somente a intenção do sujeito,
como defende Kant. Além disso, na Ética de Hegel é importante verificar as
consequências de tal ação para julgá-la, diferentemente da Ética de Kant que,
estando somente no âmbito da intenção já se poderia julgar a ação do indivíduo.
As críticas de Hegel a Ética
kantiana são inúmeras, a exemplo de algumas que já foram supracitadas.
Enumerando estas críticas de Hegel a Ética kantiana teremos:
1 – Hegel afirma que considerar a
intenção do indivíduo para um julgamento de ético não é suficiente. Se o indivíduo
agir sempre de acordo com uma boa intenção, ainda assim pode haver más
consequências e estas também devem ser consideradas para este julgamento ético.
Uma boa intenção e más consequências torna a situação de modo geral eticamente
incorreta;
2 – Da mesma maneira, determinar
regras universais (imperativo categórico) para reger as ações dos indivíduos
traz este mesmo problema. Imagine o caso do princípio universal de não poder matar;
se eu sigo este princípio de maneira absoluta, no caso de alguém tentar me
matar eu não vou poder revidar, mesmo portando uma arma e a minha vida estando
em risco. Ou seja, eu não poderia me defender diante de um perigo eminente de
morte para mim. Esta questão recai mais uma vez na problemática das
consequências, estas devem ser consideradas. Neste quesito Hegel defende que
existe um direito a vida e que eu poderia sim me defender. Deste modo, mesmo
que eu mate a outra pessoa a minha atitude estaria justificada, pois no
contexto da situação eu decidi agir em prol do meu direito a vida, um direito a
defesa para garantir a minha sobrevivência.
No sentido destas primeiras
considerações, Hegel defende uma Ética mais de caráter subjetivo, mais de
caráter contextual, voltada para o indivíduo dentro de uma determinada situação
e não de um indivíduo em um mundo como se fosse algo homogêneo.
3 – Hegel determina que é preciso
considerar também a heterogeneidade do mundo e do tempo. Ou seja, é preciso que
se leve em consideração que há lugares e lugares no mundo, lugares constituídos
de uma determinada cultura, o que envolve hábitos e crenças. Do mesmo modo, o
tempo leva estes costumes e crenças a mudarem, então a Ética não pode ser
estática diante de um mundo que muda na medida do tempo. Há costumes atuais que
são considerados corretos e que podem ter sido considerados incorretos, então
como estabelecer o que é correto considerando toda a extensão do tempo? Hegel
aponta uma solução para este problema: As ações em sua totalidade devem ser
avaliadas de um ponto de vista que considere o local e o tempo em que elas são
praticadas.
4 – Hegel também critica Kant no
que di respeito a postura de Kant com a sua Ética frente ao estado. Para Hegel,
Kant não considera a existência do estado em sua Ética, e este seria o seu
maior erro. A partir desta problemática nós chegaremos ao principal ponto desta
crítica.
Para Hegel a Ética envolve a
relação dos indivíduos com o estado. Ela apresenta dois caráteres, o primeiro é
subjetivo e diz respeito a Ética pessoal manifestada através de cada indivíduo
e a segunda é objetiva e diz respeito a Ética do Estado, que diz respeito às
normas do Estado, leis e costumes. Pode-se comparar a primeira como algo mais
voltado para o indivíduo e a segunda mais voltada para o social, o conjunto dos
indivíduos. A soma de “a+b”, ou seja, a Ética objetiva mais a subjetiva formam
a totalidade do Ética. Hegel dá uma importância muito grande a esta parte
objetiva, pois ela é responsável por moldar a natureza do homem, proporcionando
uma espécie de segunda natureza que ao homem necessária para que ele tenha uma
boa vivência em sociedade. Isto é as leis e normas da sociedade cumprem um
papel de preparar os indivíduos para a vida em sociedade. O termo “preparar” não
seria exatamente o mais adequado, mas é quase que o efeito que se tem. Este
processo de preparação se dá da seguinte maneira, as leis e normas funcionam
como um meio de barrar as inclinações pessoais provindas da natureza primeira
dos indivíduos. Nesta primeira natureza os indivíduos se comportam puramente
por instintos, bem como quando nascem. Através do freio destes instintos o
indivíduo irá adquirir uma segunda natureza que é mais voltada para o social,
para o bem comum. Agindo de acordo com o que é determinado pelo estado
(instituições sociais) o indivíduo é considerado ético.
O principal ponto desta crítica a
Kant é que, segundo Hegel, Kant fica somente no âmbito da subjetividade pessoal
e não considera a subjetividade social. Com isso, Kant leva a sua Ética a
inúmeros problemas, os quais já foram citados acima. Hegel pressupõe que
considerando a Ética do ponto de vista histórico e contextual estes problemas
podem ser resolvidos, tornando assim a Ética possível. Hegel usa termos
específicos nesta sua crítica, diz que Kant fica somente no âmbito da
moralidade, do dever, da vontade subjetiva e que o mais viável é determinar que
os indivíduos ajam de acordo com a eticidade, ou seja, fazer realizar o bem de
acordo com a sua realidade histórica e de acordo com o que determina as
instituições sociais.
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