sexta-feira, 29 de abril de 2016

7ª Aula de Filosofia do 3º Ano Ensino Médio

MORALIDADE E ETICIDADE (ÉTICA DE KANT E HEGEL)

Desde a antiguidade a Ética e moral são assuntos que estão presentes nas discussões de grandes filósofos. Esse é um assunto bastante comentado no âmbito da filosofia e bastante popular também entre os menos doutos, pois trata de questões que estão presentes no dia a dia das pessoas. Todo indivíduo que vive em sociedade lida com questões referentes a Ética, ela é algo que está intrinsecamente ligada a vida dos sujeitos conscientes. Grandes pensadores, não só da antiguidade, mas da história da Filosofia como um todo, se tornaram conhecidos por se debruçarem sobre a Ética nas suas obras, a exemplo de Aristóteles, Nietzsche, Jeremy Bentham, Kant, Hegel, entre outros.
Já no período conhecido como modernidade, mais precisamente nos sécs. XVIII – XIV, Kant (filósofo alemão, 1724 – 1804) desenvolveu várias discussões acerca da Ética, as quais podemos ter acesso em algumas de suas obras como a Crítica da razão prática. Do mesmo modo, Hegel (também filósofo alemão, 1770 -1831) desenvolve uma vasta reflexão acerca deste tema. Ambos viveram praticamente no mesmo período histórico – apesar de Hegel ter nascido posteriormente – mas a postura de cada um destes filósofos frente a este tema é bem diversa. Mais que isso, ambas são quase que opostas, é possível perceber isso através da crítica que Hegel faz ao tratamento que Kant dá a Ética.
Kant é responsável por formular uma Ética ou uma moral baseada no dever. Kant historicamente é conhecido por ser um sujeito que primava sobretudo pela razão em suas obras e acaba que o tratamento que ele dá a Ética também tendo esta característica. Kant coloca a razão como o elemento que deve reger toda ação humana. Ele elabora um conceito chave, o imperativo categórico, que é o reflexo desta razão absoluta, o princípio que todo indivíduo deve seguir como base para as suas ações. Este tal imperativo categórico preconiza que os indivíduos devem tomar suas atitudes de uma maneira que o princípio da sua ação possa ser tomado como um princípio de ação universal, ou seja, que aquilo que o indivíduo faça seja algo que possa necessariamente servir para todas as pessoas no mundo. E mais, que essa atitude seja também necessariamente considerada boa em qualquer contexto histórico, em qualquer tempo.
Hegel, por sua vez, é defensor de uma ética, também de cunho racional (o que já era de se esperar de um filósofo), mas de princípios diferentes da Ética defendida por Kant. A Ética de Hegel pode ser chamada de uma Ética contextualista, pois preconiza que o critério para avaliar uma ação como eticamente correta está no contexto da situação que o indivíduo está agindo, ou seja, é preciso avaliar outros elementos que estão dentro da situação e não somente a intenção do sujeito, como defende Kant. Além disso, na Ética de Hegel é importante verificar as consequências de tal ação para julgá-la, diferentemente da Ética de Kant que, estando somente no âmbito da intenção já se poderia julgar a ação do indivíduo.
As críticas de Hegel a Ética kantiana são inúmeras, a exemplo de algumas que já foram supracitadas. Enumerando estas críticas de Hegel a Ética kantiana teremos:
1 – Hegel afirma que considerar a intenção do indivíduo para um julgamento de ético não é suficiente. Se o indivíduo agir sempre de acordo com uma boa intenção, ainda assim pode haver más consequências e estas também devem ser consideradas para este julgamento ético. Uma boa intenção e más consequências torna a situação de modo geral eticamente incorreta;
2 – Da mesma maneira, determinar regras universais (imperativo categórico) para reger as ações dos indivíduos traz este mesmo problema. Imagine o caso do princípio universal de não poder matar; se eu sigo este princípio de maneira absoluta, no caso de alguém tentar me matar eu não vou poder revidar, mesmo portando uma arma e a minha vida estando em risco. Ou seja, eu não poderia me defender diante de um perigo eminente de morte para mim. Esta questão recai mais uma vez na problemática das consequências, estas devem ser consideradas. Neste quesito Hegel defende que existe um direito a vida e que eu poderia sim me defender. Deste modo, mesmo que eu mate a outra pessoa a minha atitude estaria justificada, pois no contexto da situação eu decidi agir em prol do meu direito a vida, um direito a defesa para garantir a minha sobrevivência.
No sentido destas primeiras considerações, Hegel defende uma Ética mais de caráter subjetivo, mais de caráter contextual, voltada para o indivíduo dentro de uma determinada situação e não de um indivíduo em um mundo como se fosse algo homogêneo.
3 – Hegel determina que é preciso considerar também a heterogeneidade do mundo e do tempo. Ou seja, é preciso que se leve em consideração que há lugares e lugares no mundo, lugares constituídos de uma determinada cultura, o que envolve hábitos e crenças. Do mesmo modo, o tempo leva estes costumes e crenças a mudarem, então a Ética não pode ser estática diante de um mundo que muda na medida do tempo. Há costumes atuais que são considerados corretos e que podem ter sido considerados incorretos, então como estabelecer o que é correto considerando toda a extensão do tempo? Hegel aponta uma solução para este problema: As ações em sua totalidade devem ser avaliadas de um ponto de vista que considere o local e o tempo em que elas são praticadas.
4 – Hegel também critica Kant no que di respeito a postura de Kant com a sua Ética frente ao estado. Para Hegel, Kant não considera a existência do estado em sua Ética, e este seria o seu maior erro. A partir desta problemática nós chegaremos ao principal ponto desta crítica.
Para Hegel a Ética envolve a relação dos indivíduos com o estado. Ela apresenta dois caráteres, o primeiro é subjetivo e diz respeito a Ética pessoal manifestada através de cada indivíduo e a segunda é objetiva e diz respeito a Ética do Estado, que diz respeito às normas do Estado, leis e costumes. Pode-se comparar a primeira como algo mais voltado para o indivíduo e a segunda mais voltada para o social, o conjunto dos indivíduos. A soma de “a+b”, ou seja, a Ética objetiva mais a subjetiva formam a totalidade do Ética. Hegel dá uma importância muito grande a esta parte objetiva, pois ela é responsável por moldar a natureza do homem, proporcionando uma espécie de segunda natureza que ao homem necessária para que ele tenha uma boa vivência em sociedade. Isto é as leis e normas da sociedade cumprem um papel de preparar os indivíduos para a vida em sociedade. O termo “preparar” não seria exatamente o mais adequado, mas é quase que o efeito que se tem. Este processo de preparação se dá da seguinte maneira, as leis e normas funcionam como um meio de barrar as inclinações pessoais provindas da natureza primeira dos indivíduos. Nesta primeira natureza os indivíduos se comportam puramente por instintos, bem como quando nascem. Através do freio destes instintos o indivíduo irá adquirir uma segunda natureza que é mais voltada para o social, para o bem comum. Agindo de acordo com o que é determinado pelo estado (instituições sociais) o indivíduo é considerado ético.
O principal ponto desta crítica a Kant é que, segundo Hegel, Kant fica somente no âmbito da subjetividade pessoal e não considera a subjetividade social. Com isso, Kant leva a sua Ética a inúmeros problemas, os quais já foram citados acima. Hegel pressupõe que considerando a Ética do ponto de vista histórico e contextual estes problemas podem ser resolvidos, tornando assim a Ética possível. Hegel usa termos específicos nesta sua crítica, diz que Kant fica somente no âmbito da moralidade, do dever, da vontade subjetiva e que o mais viável é determinar que os indivíduos ajam de acordo com a eticidade, ou seja, fazer realizar o bem de acordo com a sua realidade histórica e de acordo com o que determina as instituições sociais. 

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