terça-feira, 12 de julho de 2016

7ª e 8ª AULAS DE HISTÓRIA 3º ANO DO ENSINO MÉDIO - LEITURA COMPLEMENTAR


UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA E 1ª GUERRA MUNDIAL
1. O DESPERTAR DAS NACIONALIDADES
O século XIX representou a fase final dos conflitos entre a burguesia e a aristocracia defensora do Antigo Regime. A partir de 1830 e, principalmente, com uma sucessão de ondas revolucionárias de 1848, a burguesia assumiu definitivamente o controle do Estado. Apesar de o liberalismo ter sido o fenômeno que conduziu os ideais burgueses, firmou-se como uma filosofia individualista que colocava o indivíduo à frente da razão do Estado e dos interesses da coletividade. É nesse espírito que a burguesia consolidou a liderança política econômica do século, que se iniciou em 1815 com o Congresso de Viena e se prolongou até o verão de 1914, quando se deflagrou a Primeira Guerra Mundial.
O liberalismo tornou-se uma ideologia paradoxal. O disfarce nitidamente subversivo, utilizado pela burguesia capitalista para se opor ao Antigo Regime e assenhorar-se do poder, entrou em choque com sua tendência conservadora de impedir o avanço da ideologia socialista e das camadas populares. Dessa forma, o poder foi reservado para a elite econômica em nome da soberania nacional e não da soberania popular, pois o liberalismo, em sua origem, não era democrático, deixando clara a ideia da separação entre capital e trabalho.
As inovações no campo das técnicas e das ideologias políticas e econômicas criavam um contraste na vida social do século XIX: nos campos, milhares de pessoas viviam em um quase completo regime de servidão, e, nos centros urbanos, as camadas miseráveis eram marginalizadas com o advento e propagação da industrialização na Europa.
                Na origem dos movimentos liberais que assolaram a Europa no século XIX, despertou os sentimentos a questão das nacionalidades, que se transformou numa força irresistível, buscando reencontrar o passado esquecido do ideal de Nação. Esse movimento surgiu em vários povos que comungavam a mesma origem, língua e cultura, cujas fronteiras ainda estavam fragilmente de marcadas e a geografia política ainda não havia assumido uma forma definitiva.
O nacionalismo surgiu então como uma busca autêntica de expressão política, principalmente entre os povos italianos e alemães, que viam na ideologia uma forma de conciliar os interesses econômicos e políticos. A ideia de nacionalidade promoveu a completa integração do homem no século XIX, em que suas energias se associaram às forças dos espíritos revolucionários, advindos dos movimentos de 1848 que sacudiram toda Europa.
2. A UNIDADE ALEMÃ
Ao contrário da unificação italiana, a unidade política da Alemanha teve como pré-requisito a unificação econômica. A origem desta última remonta a 1834, quando 38 dos 39 Estados alemães criados pelo Congresso de Viena decidiram eliminar as barreiras alfandegárias da Confederação Germânica, por meio da Zollverein (liga aduaneira). De 1860 a 1870, os reflexos dessa política econômica fizeram-se sentir: distritos industriais e numerosos centros urbanos surgiram em várias regiões, as estradas de ferro passaram de 2.000 para 11.000 km, e as minas de carvão e de ferro criaram condições para o crescimento das indústrias siderúrgica, metalúrgica e mecânica. O complexo industrial alemão começou a formar-se. A Áustria, que não fora admitida na Zollverein, permaneceu à margem desse processo.

A unificação política viria como consequência da unificação econômica. Para consegui-la, a burguesia da Alemanha, até então liberal e contrária ao intervencionismo estatal, foi obrigada a confiar em Otto von Bismarck, um nobre prussiano que se tornara chanceler do rei Guilherme I. Bismarck concretizou a unificação por meio de três conflitos militares. O primeiro foi a Guerra dos Ducados, travada contra a Dinamarca em 1864, quando a Prússia anexou os ducados de Schleswig e Holstein, de população predominantemente alemã. Em 1866, foi desencadeada a Guerra das Sete Semanas contra a Áustria, principal opositora da unificação conduzida pela Prússia. Derrotada a Áustria e dissolvida a Confederação Germânica, foi formada a Confederação da Alemanha do Norte, presidida pelo rei da Prússia. Finalmente, em 1870, Bismarck provocou a Guerra Franco-Prussiana, que resultou na derrota da França e na proclamação do Império Alemão (Segundo Reich) em 1871.

UNIFICAÇÃO ITALIANA

1. A UNIDADE ITALIANA
O processo de centralização política que caracterizou a Europa na passagem do feudalismo para o capitalismo, na Itália e na Alemanha, teve caráter local e não nacional. As disputas políticas entre as forças universalistas do Papado e do Império fizeram emergir nessas regiões da Europa pequenas unidades políticas, seja sob a forma de cidades-estados, como Veneza, Gênova, Florença ou Hamburgo, seja de reinos, como a Prússia, a Áustria ou o Pie monte-Sardenha, seja ainda como minúsculos principados alemães.
Entretanto, a consolidação do modo de produção capitalista exigia a unidade nacional, tendo em vista a dura competição pela conquista de mercados. Por isso, tanto a burguesia italiana como a alemã tinham interesse na unificação política de seus respectivos países.
Porém, enquanto a pequena burguesia da Itália propunha a unificação por meio de uma aliança com o proletariado urbano – o que resultaria na criação de um Estado Nacional democrático –, a alta burguesia pretendia consolidar-se como classe hegemônica, de fendendo a unificação em torno do Reino de Pie monte-Sardenha –único Estado efetivamente italiano, proveniente da divisão da Itália efetuada pelo Congresso de Viena.
Além das facções monarquista e republicana, havia um terceiro grupo, que pretendia unificar a Itália em torno do Papado.
Os monarquistas, com o apoio da alta burguesia e do primeiro-ministro sardo-pie montês, conde Cavour, aliaram-se ao imperador da França, Napoleão III, contra a Áustria. Antes que a França deixasse de apoiá-lo, o reino sardo-pie montês conseguiu anexar parte dos domínios austríacos no norte da Itália. Simultaneamente, Giuseppe Garibaldi (“o Herói dos Dois Mundos”) conquistou o Reino das Duas Sicílias e a maior parte dos Estados Pontifícios. Tentou também tomar Roma, mas foi impedido por tropas francesas envia das por Napoleão III.
Em 1870, quando a invasão da França pelos prussianos obrigou o imperador francês a chamar suas forças de volta, Roma foi ocupada pelos monarquistas e transformada em nova capital da Itália. O papa Pio IX não aceitou a perda de seus Estados e passou a considerar-se “prisioneiro do rei da Itália”, o que deu origem à Questão Romana. Esta só seria resolvida pelo Tratado de Latrão, firmado em 1929 entre o papa Pio XI e o ditador Benito Mussolini, quando foi criado o Estado do Vaticano.

2. UM DISCURSO DA CAMPANHA PELA UNIFICAÇÃO ITALIANA
“Somos um povo de 21 a 22 milhões de homens, designado há muito tempo pelo nome italiano, encerrado entre os limites naturais mais precisos que Deus já traçou — o mar e as montanhas mais altas da Europa; e um povo que fala a mesma língua (...); que se orgulha do mais glorioso passado político, científico e artístico da história europeia (...).
Não temos mais bandeira, nem nome político, nem posição entre as nações europeias (...). Estamos desmembrados em oito Estados (...) independentes, sem aliança, sem unidade, sem ligação organizada (...).
Não existe liberdade de imprensa, nem de associação, nem de expressão, nem de petição coletiva, nem de importação de livros estrangeiros, nem de educação — nem de nada. Um desses Estados, cujo território compreende uma quarta parte da península, pertence à Áustria; os outros submetem-se cegamente à sua influência.”

(Mazzini, L’Italie, L’Autriche et le Pape, 1845, pág.404, citado por J. Monnier.)

1. AS ORIGENS DA  1ª GUERRA
De um lado, a concentração capitalista, com a formação de enormes cartéis e trustes que disputavam os mercados mundiais; de outro, a corrida colonialista. Eis os fatores fundamentais do primeiro conflito mundial, irrompido em 1914.
A França saiu do isolamento na Europa Ocidental em 1904 ao aliar-se com a Inglaterra (Entente Cordiale). A Alemanha sentiu-se ameaçada. Por isso, quis dar uma demonstração de força. Como o acordo franco-inglês previa a supremacia francesa no Marrocos, os alemães opuseram-se violentamente, mais para testar a força da aliança anglo-francesa do que pelos interesses que tinham no Marrocos.
Enquanto uma missão diplomática francesa discutia, em Fez, com representantes do Império Turco os termos do acordo, o imperador Guilherme II desembarcou em Tânger (1905), ameaçando a França.
A pressão germânica provocou a convocação de uma conferência internacional que se realizou em Algeciras em 1906. Confirmou-se a supremacia francesa na região disputada e foram concedidas à Alemanha terras no sudoeste africano.
Novo incidente ocorreu em 1911, quando as tropas francesas entraram em Fez para garantir a integridade dos europeus, ameaçados por revoltosos. Um navio de guerra alemão foi enviado a Agadir para defender os interesses alemães. O incidente foi contornado com a concessão do Congo Francês aos alemães.
Em 1908, a Áustria-Hungria anexou à região da Bósnia, contrariando os interesses da Sérvia e da Rússia, que perdia a hegemonia na região. Os nacionalismos europeus foram o estopim, servindo como causa imediata o assassinato do arquiduque austríaco Francisco Ferdinando, ocorrido na cidade de Sarajevo (capital da Bósnia), por instigação da Sérvia.
O incidente, que poderia ter apenas significado local, transformou-se rapidamente em uma crise europeia por causa da política de alianças então vigente e que dividira as potências em dois blocos: Tríplice Entente (Rússia, Grã-Bretanha e França) e Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria, Hungria e Itália); no entanto, a Itália retirou-se do bloco, pois se recusava a lutar pela defesa dos interesses austríacos.
2. AS OPERAÇÕES MILITARES
Vários foram os motivos que levaram à guerra. Quando a Sérvia entrou em guerra com a Áustria-Hungria em julho de 1914, a Rússia apoiou a Sérvia, e a Alemanha, a  Áustria.
O crescimento da Sérvia vinha preocupando a Áustria, na medida em que se acentuava o nacionalismo dos povos balcânicos. Os russos temiam a expansão austríaca sobre os povos eslavos dos Bálcãs. O apoio dado pela França e Alemanha aos contendores deveu-se ao fato de que nenhum dos dois podia arriscar-se em seus cálculos de segurança, nem se furtar aos acordos político-militares feitos anteriormente.
A Bélgica foi invadida pelos alemães, e, portanto, obrigada a entrar na guerra, porque o plano alemão, preparado havia longo tempo, previa a invasão da França pelo norte, com um avanço sobre Paris, o que tornava imprescindível a passagem pela Bélgica.
A Inglaterra apoiou a Bélgica em razão da quebra de sua neutralidade por parte dos alemães, mas principalmente pelo crescente poderio da marinha de guerra germânica, que ameaçava a hegemonia naval britânica.
O Japão entrou na guerra contra a Alemanha porque isto lhe permitiria apossar-se das possessões alemãs em território chinês e no Pacífico.
A divisão da África às vésperas da Primeira Guerra Mundial
Fatores e Operações
Militares da Primeira Guerra Mundial
O Império Otomano aliou-se aos alemães, dominadores em potencial dos turcos, pelo perigo mais imediato representado pelos russos. A Bulgária juntou-se à Tríplice Aliança pela oposição à Sérvia, que se unira à Entente. Os italianos, que até o início da guerra permaneciam dentro da Tríplice Aliança, passaram para a Entente, assim que, pelo Tratado de Londres de 1915, receberam a promessa de aquisições territoriais na Turquia, Áustria e colônias alemãs.
Finalmente, a entrada dos Estados Unidos ao lado dos aliados, justifica da pelo afundamento de barcos norte-americanos pelos germânicos, resultou puramente do bloqueio que os submarinos alemães impuseram ao transporte de mercadorias norte americanas para os aliados na Europa, e pelos prejuízos econômicos que isto representava.
Considerando-se as rapidíssimas campanhas mi litares germânicas de 1864, 1866 e 1870-71, a guerra iniciada em 1914 foi bastante longa. Comparada com as Guerras Napoleônicas, entretanto, foi bastante rápida. Os adversários no conflito eram os seguintes: de um lado, a Alemanha e a Áustria-Hungria; do outro, os aliados – Rússia, Sérvia, França, Bélgica e o Império Britânico.
Posteriormente, novos beligerantes entraram de um lado e de outro. A Turquia (1914) e a Bulgária (1915) uniram-se aos Impérios Centrais. Os aliados receberam o apoio do Japão (1914), Portugal e Romênia (1916), Estados Unidos, Grécia e Brasil (1917).
As forças em confronto equilibravam-se no início da guerra: mais ou menos o mesmo número de habitantes e de divisões mobilizadas. As diferenças estavam nos equipamentos bélicos e nos recursos materiais. Por exemplo, os aliados não possuíam canhões pesados de longo alcance, mas em compensação dominavam os mares, graças ao poderio naval inglês.
A primeira fase da guerra caracterizou-se pela movimentação. Várias batalhas foram travadas em território francês, para conter o avanço alemão que objetivava Paris (Plano Schlieffen).
Os alemães lançaram a ofensiva na Bélgica, sendo temporariamente detidos em Liège. Os franceses tiveram tempo de organizar-se e mesmo de receber apoio de tropas inglesas, mas os alemães dominaram a Bélgica e penetraram no norte da França. A ofensiva geral ordenada por Von Moltke foi detida no Marne, retirando-se os alemães para uma linha mais recuada.
Os movimentos maciços tentados pelos dois exércitos tiveram poucos resultados positivos. Cada avanço de alguns quilômetros custava milhares de homens, afora uma longa preparação. Na Frente Oriental, os russos invadiram a Prússia, sendo derrotados.
Os sérvios resistiram por duas vezes às investidas austríacas. Os aliados, que controlavam o mar, tomaram todas as colônias alemãs. De 1915 a 1918, desenrolou-se a guerra de trincheiras, sem resultados decisivos, mas com grandes perdas para ambos os lados. Enquanto isso, as indústrias dos países em choque procuravam aperfeiçoar os instrumentos de combate, alimentando as frentes.
Em 1915, os alia dos foram barrados na tentativa de controlar o Dardanelos. A Sérvia foi conquistada pelos austro-húngaros, bem como a Polônia e Lituânia pelos alemães. Os assaltos alemães a Verdun marcaram o ano de 1916. Os franceses resistiram sob a chefia de Pétain. Os generais alemães Hindenburg e Ludendorff, vencedores na Frente Oriental contra os russos, procuravam deter a ofensiva aliada, que se orientava pela França e pela Itália.
No mar, a grande batalha foi travada na Jutlândia (maio de 1916), entre ingleses e alemães, permanecendo o resultado indeciso.
O ano de 1917 foi decisivo para o curso da guerra. Os ataques dos submarinos alemães contra os barcos mercantes neutros, principalmente norte americanos, levaram os Estados Unidos à declaração de guerra. Seus recursos agrícolas, minerais e industriais reforçaram decisivamente os aliados.
Na Rússia, a crise gerada pela guerra provocou uma revolução contra o Império. De início, os aliados conseguiram manter os russos na guerra por meio de numerosas promessas, mas a Revolução de Outubro de 1917, de orientação comunista, fez os russos saírem da guerra, pelo Tratado de Brest-Litovsky.
O alívio da Frente Oriental foi tremendamente favorável aos alemães, Hindenburg estabeleceu uma linha fortificada para defender a Alemanha, frustrando as várias tentativas aliadas de ultrapassar essa defesa.
Enquanto isso, os austro-húngaros, reforçados pelos alemães, romperam as defesas italianas nos Alpes e invadiram a Venécia. Em 1918, a guerra entrou em sua fase final. Os alemães concentraram suas melhores tropas no oeste, na expectativa de vencer antes da entrada maciça dos norte-americanos.
As linhas aliadas foram rompidas. Paris foi bombardeada por aviões (que começavam a atuar com maior eficácia) e por canhões de longo alcance. A tática da avançada infantaria, sob a proteção da artilharia, canhões motorizados e aviões, permitiu ao novo líder aliado, Foch, vencer os alemães na Segunda Batalha do Marne. Era o início da vitória dos aliados. Vários pontos foram atacados ao mesmo tempo, forçando o deslocamento das tropas alemãs. A pressão sobre as tropas germânicas cresceu também na região da Lorena. O exército alia do na Macedônia obrigou a Bulgária a depor as armas. Os ingleses venceram os turcos na Síria, impondo-lhes o armistício. Por fim, os austríacos, vencidos pelos italianos, abandonaram a luta. Restavam somente os alemães.
Os generais comunicaram ao governo que não podiam vencer a guerra. Eram partidários de uma mudança de regime, para evitar que a culpa da derrota recaísse sobre o exército, sobre o Império e sobre os aristocratas que a haviam provocado.
Uma rebelião na esquadra e uma greve em Berlim forçaram Guilherme II a abdicar, refugiando-se na Holanda. Em 9 de novembro, a República foi proclamada. No dia 11 do mesmo mês, o novo governo assinou o armistício, aceitando todas as condições impostas pelos aliados.
A guerra tinha terminado, mas o exército alemão guardava ainda a impressão de não ter sido derrotado. A paz fora firmada com exércitos alemães em território inimigo, e sem que nenhum inimigo estivesse em território alemão.

1. OS TRATADOS DE PAZ
A guerra iniciada em 1914 englobou a maior parte dos países europeus, tornando-se progressivamente um conflito mundial. Este foi seu aspecto particular em relação aos conflitos anteriores. De forma global, os fatores da guerra estão ligados aos interesses econômicos dos Estados europeus, à corrida colonialista e ao nacionalismo exacerbado.
No primeiro momento da guerra, a fronteira da França foi cruzada pelos alemães, cujo avanço foi detido em seguida, na Batalha do Marne. Começou, então, a guerra de trincheiras, que se arrastaria quase até ao fim da guerra. No total, sacrificaram-se mais de 10 milhões de vidas. As tentativas alemãs de ruptura foram contidas pelos aliados, mas em compensação os ataques destes foram detidos pelos alemães. A entrada dos Estados Unidos e a saída da Rússia aceleraram o desfecho da guerra.
Os aliados foram favorecidos. No ano de 1918, travou-se a Batalha da França, última e desesperada ofensiva alemã, que se extinguiu na Segunda Batalha do Marne. Rompidas as linhas germânicas pela ofensiva de Foch, vencidos os aliados da Alemanha, a esta não restava alternativa senão solicitar o armistício.
Antes mesmo que a Grande Guerra findasse, foram feitas várias tentativas para apressar o fim do conflito. Uma das propostas de paz, a do presidente Wilson dos Estados Unidos, baseada em 14 Pontos, e apresentada em 1917, alcançou êxito. Os alemães renderam-se tendo em vista os itens propostos por Wilson.
Findo o conflito, os aliados reuniram-se em Paris para ditar as regras da paz. Não se tratava de um acordo com a Alemanha, pois esta não estava presente à conferência. Assim, o Tratado de Versalhes, imposto à Alemanha em 1919, mutilava completamente os 14 Pontos de Wilson, criando ainda outros problemas, como, por exemplo, as reparações de guerra.
A regulamentação da paz com os parceiros dos alemães foi fixada por tratados à parte. De uma forma global, os tratados procuravam abater definitivamente os vencidos. Por outro lado, criavam um instrumento que seria a garantia da paz: a Liga das Nações.
 As principais propostas de paz durante a guerra
O impasse que a guerra tinha atingido em 1917, a demonstração de esgotamento geral e os males gerados pelo conflito encorajaram algumas tentativas de paz.
O imperador Carlos I da Áustria propôs à França um acordo de paz em separado, na base do “status quo” (tudo ficaria como antes da guerra). Sabendo que a Itália se oporia a qualquer tratado que não considerasse seus interesses territoriais, a França deixou morrer a ideia.
O diplomata alemão Von Lancken tentou uma aproximação com a França, tendo sido repudiado pelos franceses, que viam a possibilidade do fim próximo da luta, em razão da entrada dos Estados Unidos.
O papa Bento XV, com o auxílio dos prelados católicos nos vários países em luta, fez uma proposta de paz que foi aceita pela maioria dos beligerantes, menos pelos alemães, que se negavam a abandonar a Bélgica.
Os 14 Pontos de Wilson
Em 1918, o exército alemão não tinha mais esperanças de vencer, mas estava longe de considerar-se vencido. Permanecia organizado, bem armado e bem nutrido. Quando os chefes alemães, Hindenburg e Ludendorff, perceberam que as reservas dos aliados eram praticamente inesgotáveis, graças a seus impérios coloniais e ao apoio norte-americano, resolveram aconselhar um armistício que preservasse o exército da derrota.
Em agosto, os chefes alemães e o imperador Guilherme II reuniram-se em Spa, no quartel-general ale mão, para discutir o problema. Contudo, os líderes militares não declararam, na oportunidade, suas convicções sobre a impossibilidade de vencerem a guerra e a possibilidade de a perderem em longo prazo.
A rendição dos búlgaros em setembro mudou completamente a situação. O fim estava mais próximo. Hindenburg e Ludendorff apressaram-se a organizar nova reunião em Spa. Para agradar aos aliados, sugeriam alterar o regime de governo na Alemanha, que passaria a ser um Império de tipo parlamentar. O novo chanceler, ligado à Família Imperial, Max de Bade, enviou uma nota ao presidente Wilson, dizendo ter a paz nas mãos e que ela poderia ser estabelecida com base nos 14 Pontos.
Um cartaz estampa um apelo à caridade em favor do “fundo para os soldados mutilados de Ludendorff” (Alemanha). O custo da guerra em vidas perdidas, terras devastadas, seres mutilados e ideais truncados foi terrível. E a paz, celebrada com tanta euforia em 1918, não tardou em descobrir seu legado de amargura, pobreza, estupor e medo.
Esses 14 Pontos atendiam aos interesses alemães. Wilson era bastante idealista. Ao elaborar aquele programa, Wilson, desconhecendo os problemas europeus, via-se como um mediador entre as duas partes, mais do que um vencedor. Assim, suas exigências seriam mais suaves à Alemanha do que as exigências dos aliados europeus.
O programa de Wilson para a paz proclamava o princípio de uma paz sem anexações ou indenizações. Auxiliado por uma comissão de especialistas e por um amigo pessoal, o coronel House, Wilson submeteu seu programa ao Congresso em 9 de janeiro de 1918.
Os primeiros cinco pontos eram bastante abstratos: diplomacia aberta, sem tratados secretos; liberdade dos mares; redução das barreiras aduaneiras; desarmamento; esforço para preservar os interesses das populações colonizadas. Da mesma forma, os 14 Pontos preconizavam a criação de uma Sociedade das Nações que manteria em funcionamento o concerto mundial e garantiria a paz. Era o que Wilson chamava de “diplomacia nova”, que se opunha à diplomacia tradicional dos acordos secretos, cínica, imperialista e responsável pela guerra.
Os pontos 6 ao 13 concerniam a remanejamentos territoriais e eram norteados pelo princípio da autodeterminação dos povos. A Rússia teria o direito de escolher livremente o tipo de governo que lhe aprouvesse; a Bélgica recuperaria sua independência; a Alsácia-Lorena seria de vol vida à França (as fronteiras italianas seriam fixadas de acordo com a linha da nacionalidade); os povos que faziam parte da Áustria-Hungria receberiam sua liberdade; as fronteiras dos Estados balcânicos seriam revisadas; o Império Otomano não dominaria mais povos não turcos; e a Polônia seria reconstituída, com livre acesso ao mar.
O Tratado de Versalhes Na Conferência de Paz de Paris, cada participante designou uma comissão de cinco membros. Participavam 26 nações aliadas, beligerantes ou não, e quatro domínios britânicos.
A China e o Sião, tendo declarado guerra à Alemanha no fim do conflito, foram incluídos entre os aliados. Os Estados vencidos não participaram da Conferência, equivalendo dizer que não negociaram os tratados.
A Assembleia Geral da Conferência, composta por todos os representantes, era mera formalidade. As decisões foram efetivamente tomadas pelas grandes potências: no início, Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Japão. O Japão logo se desinteressou pelo reduzido interesse que tinha na Europa. A Itália retirou-se ao perceber que não seria atendida nos seus interesses territoriais. Dessa forma, somente três Estados discutiram os tratados: os Estados Unidos, representados pelo presidente Wilson, o propugnador da paz; David Lloyd George, primeiro-ministro da Inglaterra; e Georges Clemenceau, da França.
Várias comissões foram organizadas para auxiliar a Comissão Executiva. Eram órgãos de estudo (16 comissões de especialistas), que se reuniram pelo menos 100 vezes cada um. A conferência, iniciada em 18 de janeiro de 1919, prosseguiu com representantes suplentes até 1921.
O principal objetivo de Wilson era assegurar a aplicação efetiva de seus princípios e fundar a Sociedade das Nações. Para obter a aprovação de todos, foi obrigado a transigir, no que tangia às anexações territoriais. Esperava poder resolver em longo prazo esses problemas, pela atuação da própria Liga a ser criada. Na prática, porém, as decisões representaram os interesses das principais potências, contrastando o idealismo de Wilson com as exigências nacionalistas e defensivas de Clemenceau e os objetivos pouco claros e às vezes oportunistas de Lloyd George.
De 5 de maio até 28 de junho de 1919, o tratado elaborado pelos Três Grandes foi submetido à apreciação da delegação alemã, que reagiu negativamente.
Os ingleses quiseram amenizar as condições impostas, ao passo que Clemenceau propunha a imposição do tratado à força. Wilson, que ficou como árbitro, apoiou a França. Os alemães acabaram aceitando o tratado, mas como uma imposição.
Pelo tratado, assinado na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, o que bem demonstra o revanchismo francês, a Alemanha perdia 1/7 de seu território e 1/10 da população, além de todas as suas colônias.
A Alsácia e a Lorena foram restituídas à França. A Bélgica anexou dois cantões, Eupen e Malmedy. A França obteve a exploração das minas de carvão do Sarre (para compensar a exploração da Alsácia-Lorena pelos alemães) durante 15 anos, quando então a comissão da Sociedade das Nações que administrasse o território faria um plebiscito; o Sarre poderia escolher entre voltar à Alemanha, permanecer com a França ou ficar sob a administração da Liga das Nações.
Por intermédio de um plebiscito, o Schleswig do norte foi anexado à Dinamarca. O sul permaneceu com a Alemanha. Na Prússia Oriental, o território de Posen passou para a Polônia, que adquiriu assim uma saída para o mar (Corredor Polonês). A cidade de Dantzig, alemã, passaria à cidade livre, administrada pela Liga das Nações.
A Alta Silésia, de população alemã e polonesa, foi submetida a um plebiscito, vencido pelos alemães. Os poloneses argumentaram que os alemães trouxeram vagões repletos de compatriotas de outras regiões para votar. Eclodiu um conflito. Os franceses intervieram e o território foi repartido.
A região de Memel, situada na Prússia Oriental, foi considerada autônoma. Em 1923, foi anexada pela Lituânia, com o consentimento da Liga. A Áustria e a Alemanha ficavam proibidas de se integrarem e formar a denominada Anschluss. A garantia de segurança era vital para a França. Por isso, pretendia ela que a região do Reno fosse composta por vários Estados autônomos, ocupados indefinidamente por tropas aliadas. Wilson se opôs segundo o princípio das nacionalidades, sendo apoiado por Lloyd George. Mas os Estados Unidos e a Inglaterra prometeram auxiliar prontamente a França em caso de invasão pela Alemanha. Entretanto, como o Senado norte-americano não quis ratificar o Tratado de Versalhes, a Inglaterra considerou-se desobrigada, e por isso a França ficou sem garantias.
A Alemanha seria desarmada, seu exército reduzido a 100 mil homens, recrutados voluntariamente; não teria grandes vasos de guerra, nem submarinos, nem artilharia pesada, nem tanques ou aviões; não poderia fabricar material militar. Uma comissão aliada controlaria tudo isso.
A frota alemã, que terminou a guerra praticamente intacta, deveria ser entregue aos aliados (foi afundada pela própria tripulação).
A margem esquerda do Reno seria desmilitarizada, e na margem direita essa desmilitarização abrangeria uma zona com 50 km de largura.
O pagamento de reparações foi imposto à Alemanha, que era considerada responsável pela guerra. O montante dos pagamentos era elevadíssimo, indo desde indenizações pela destruição material de bens nacionais e privados, até ao pagamento de pensões a aposentados, mutilados, viúvas e órfãos. O total elevava-se a 132 bilhões de marcos-ouro. O primeiro pagamento seria em 1.o de maio de 1921. Os benefícios dessa reparação seriam assim repartidos: França, 52%; Inglaterra, 22%; Itália, 10%; Bélgica, 8%; outros, 8%.
Demais tratados com as potências perdedoras aliadas da Alemanha, foram estabelecidos tratados paralelos.
O Tratado de Saint-Germain, assinado em 1919 com a Áustria, estabelecia que a Hungria, a Polônia, a Tchecoslováquia e a Iugoslávia seriam independentes. As regiões do Trieste, sul do Tirol, Trentino e a Península da Ístria passariam à Itália.
A Áustria tornou-se um pequeno Estado europeu, com cerca de um terço da população concentrada na capital, Viena.
Com a Bulgária foi estabelecido o Tratado de Neuilly (1919). Por esse tratado, a Bulgária perdeu grande parte dos territórios adquiri dos durante a Primeira Guerra Balcânica. Dessa forma, a região da Dobrudja foi dada à Romênia, a Macedônia Ocidental à lugoslávia e a Trácia Ocidental à Grécia. Passava a ser um país apenas com saída para o Mar Negro.
Para regular a situação com a Hungria, foi assinado o Tratado de Trianon (1920). A região da Eslováquia passava para a recém-criada República da Tchecoslováquia. A lugoslávia adquiriu a Croácia, e a Romênia, a Transilvânia. O Tratado de Sèvres (1920) fixou a situação com a Turquia. Estipulava que a Armênia seria independente e que a maior parte da Turquia Europeia passaria à Grécia, assim como parte da Turquia Asiática. A Síria e o Líbano seriam controlados pelos franceses, a Mesopotâmia e a Palestina, pelos ingleses.
Uma rebelião na Turquia, liderada por Mustafa Kemal Ataturk, pôs fim ao Império Otomano e proclamou a República, reconquistando a Armênia e a parte asiática cedida à Grécia, o que obrigou à revisão do Tratado de Sèvres em 1923, em Lausanne. Esse novo tratado permitiu à Turquia conservar todo o território reconquistado.
2. DEMAIS CONSEQUÊNCIAS
A vitória militar dos aliados lhes permitiu ditar as condições dos tratados de paz. Os princípios de Wilson, que deveriam ser sua base teórica, não foram levados efetivamente em consideração, tanto pelo choque de interesses conflitantes dos vencedores como pelo fato de o Tratado de Versalhes não ter sido ratificado pelo Senado norte-americano, o que desprestigiou profundamente os 14 Pontos.
O princípio das nacionalidades não foi seguido. A colcha de retalhos que representa o mapa das nacionalidades após a guerra implicava problemas semelhantes àqueles de antes do conflito. A diferença era que as minorias agora eram alemãs ou húngaras. As reparações de guerra impostas à Alemanha estavam além das suas possibilidades. Sua cobrança só serviu para açular o nacionalismo germânico e justificar ainda mais suas futuras pretensões territoriais.
Considerava-se que a Grande Guerra, na qual a Europa fora engolfada durante quatro anos, deveria ser a última. Daí o idealismo que norteou a criação da Sociedade das Nações, a qual regeria as relações entre os Estados, evitando as guerras por meio de uma ação mediadora.
Além das consequências anteriormente citadas, não podemos esquecer que é a partir do final do conflito que os Estados Unidos passam a dividir com o Japão o lugar de potências mundiais.

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