9ª Aula de Sociologia
1º Ano Ensino Médio
A CONTRIBUIÇÃO DO ÍNDIO
NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
ALGUNS SITES SOBRE A CULTURA INDÍGENA:
1 - POVOS INDÍGENAS DO BRASIL:
http://pib.socioambiental.org/pt
2 - FUNAI:
http://www.funai.gov.br/
3 - LÍNGUAS INDÍGENAS BRASILEIRAS:
http://www.indios.info/
4 - FAMALIÁ:
http://www.famalia.com.br/
5 - VIVA BRAZIL - CULTURA INDÍGENA:
http://www.vivabrazil.com/CulturaIndigena.htm
A CONTRIBUIÇÃO DO ÍNDIO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
Na Idade Média, a palavra
"índio" era empregada para designar as pessoas que viviam nas Índias,
ou seja, no oriente. Ao chegar às Américas, Colombo pensou que havia chegado as Índias e resolveu chamar os
nativos de índios. O conceito de "índio" é, portanto, uma invenção
europeia. Além disso, os índios nunca foram e jamais se enxergaram como um povo
uno. Pelo contrário, diferentes grupos indígenas nutriam grande animosidade e
constantemente guerreavam entre si (historicamente, os índios brasileiros foram
classificados segundo os principais troncos linguísticos, que são:
Tupi-guarani, Macro-jê, Aruak e Karib. Inicialmente, os grupos que tiveram
maiores contatos (nem sempre amistosos) com os portugueses foram os do tronco
tupi ou tupi-guarani (tupiniquins, tupinambás, tamoios, caetés, potiguaras e
tabajaras quase sempre aparecem citadas como as principais). Já os grupos que
não eram do citado tronco tupi-guarani, foram chamados de Tapuias (geralmente
povoavam o interior do Brasil). Mas os tupis não eram uma nação indígena homogênea,
pois tinham grandes rivalidades internas que acabaram sendo exploradas pelos
europeus que tentavam colonizar a região. Ainda hoje os historiadores não
chegaram a um consenso sobre a melhor maneira de separar as principais tribos
tupis e também para delimitar a área exata que cada uma delas ocupava no
litoral. À medida que adentravam o vasto território, os portugueses perceberam
que haviam centenas de povos com línguas, costumes e hábitos diferentes.
Estima-se que na época eram faladas cerca de 1.300 línguas indígenas
diferentes. Estima-se ainda que havia cerca de 3 milhões de indígenas nos
primeiros anos da colonização, os quais viviam ainda num processo de transição
do paleolítico para o neolítico, dependendo da caça, pesca, coleta, e iniciando
uma agricultura, ainda muito rudimentar. Os portugueses, inicialmente,
estabeleceram um sistema de trocas e favores com os índios, para tentar
conquistar sua confiança, mas logo passaram a tentar dominar as terras e
escravizar os nativos, os quais oferecerem bastante resistência por meio de
fugas e de guerras contra o colonizador. Devido a resistência do índio, já em
1536, os portugueses deram início ao tráfico de escravos africanos. Nem todos
os índios eram hostis ao colonizador. Em Casa Grande & Senzala, Gilberto Freyre
comenta a respeito de etnias amigáveis, que contribuíram deliberadamente,
principalmente através das índias que entregavam seus corpos aos prazeres do
lusitano sedento de prazer, principalmente pela quase total ausência de
mulheres brancas no Brasil (era uma reclamação constante dos governadores e
donatários, pedindo mulheres brancas, pois a promiscuidade era enorme).
“Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América
a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça: dentro de
um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de
aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado;
no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, da do
conquistador com a do conquistado. Organizou-se uma sociedade cristã na
superestrutura, com a mulher indígena, recém-batizada, por esposa e mãe de
família; e servindo-se em sua economia e vida doméstica de muitas das
tradições, experiências e utensílios da gente autóctone. Mesmo que não
existisse entre a maior parte dos portugueses o pendor para a ligação, livre ou
sob a bênção da Igreja com as caboclas, a ela teriam sido levados pela força
das circunstâncias, gostassem ou não de mulher exótica. Simplesmente porque
não havia na terra quase nenhuma branca; e sem a gentia era impossível povoar
tão larga costa. O historiador Zacarias Wagner observaria no século XVII que
entre as filhas das caboclas iam buscar esposas legítimas muitos portugueses,
mesmo dos mais ricos, e até "alguns neerlandeses abrasados de paixões”. Já
não seria então, como no primeiro século, essa união de europeus com índias, ou
filhas de índias, por escassez de mulher branca, mas por decidida preferência
sexual. Já o historiador Varnhagen chega a insinuar que, por sua vez, a mulher
indígena, "mais sensual que o homem como em todos os povos primitivos
[...] em seus amores dava preferência ao europeu, talvez por considerações
priápicas". Capistrano de Abreu sugere, porém, que a preferência da mulher
gentia pelo europeu teria sido por motivo mais social que sexual: "da
parte das índias a mestiçagem se explica pela ambição de terem filhos
pertencentes à raça superior, pois segundo as ideias entre eles correntes só
valia o parentesco pelo lado paterno".
Para colonizar o enorme território, teve Portugal de valer-se no
século XVI do resto de homens que lhe deixara a aventura da índia. E não seria
com esse sobejo de gente, quase toda miúda, em grande parte plebeia e, além do
mais, moçárabe, isto é, com a consciência de raça ainda mais fraca que nos
portugueses fidalgos ou nos do Norte, que se estabeleceria na América um
domínio português branco ou rigorosamente europeu. A transigência com o
elemento nativo se impunha à política colonial portuguesa: as circunstâncias
facilitaram-na. A luxúria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da
indiada nua, vinha servir a poderosas razões de Estado no sentido de rápido
povoamento mestiço da nova terra. O certo é que sobre a mulher gentia fundou-se
e desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o grosso da sociedade colonial,
num largo e profundo mestiçamento, que a interferência dos padres da Companhia
salvou de resolver-se todo em libertinagem para em grande parte regularizar-se
em casamento cristão.
O ambiente em que começou a vida brasileira foi de quase intoxicação
sexual. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios
padres da Companhia precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em
carne. Muitos clérigos, dos outros, deixaram-se contaminar pela devassidão. As
mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo
esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um
pente ou um caco de espelho. A mulher gentia temos que considerá-la não só a base
física da família brasileira, aquela em que se apoiou, robustecendo-se e
multiplicando-se, a energia de reduzido número de povoadores europeus, mas
valioso elemento de cultura, pelo menos material, na formação brasileira. Por
seu intermédio enriqueceu-se a vida no Brasil, como adiante veremos, de uma
série de alimentos ainda hoje em uso, de drogas e remédios caseiros, de
tradições ligadas ao desenvolvimento da criança, de um conjunto de utensílios
de cozinha, de processos de higiene tropical - inclusive o banho frequente ou
pelo menos diário, que tanto deve ter escandalizado o europeu porcalhão do
século XVI. Ela nos deu ainda a rede em que se embalaria o sono ou a volúpia do
brasileiro; o óleo de coco para o cabelo das mulheres; um grupo de animais
domésticos amansados pelas suas mãos.
Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio
pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O mingau, O brasileiro de hoje,
amante do banho e sempre de pente e espelhinho no bolso, o cabelo brilhante de
loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão remotas avós. O índio
contribuiu na obra de conquista dos sertões, de que ele foi o guia, o canoeiro,
o guerreiro, o caçador e pescador. Muito auxiliou o índio ao bandeirante
mameluco, os dois excedendo ao português em mobilidade, atrevimento e ardor
guerreiro; Na obra de sertanismo e de defesa da colônia contra espanhóis,
contra tribos inimigas dos portugueses, contra corsários.
Índios e mamelucos formaram a muralha movediça, viva, que foi alargando
em sentido ocidental as fronteiras coloniais do Brasil ao mesmo tempo que
defenderam, na região açucareira, os estabelecimentos agrários dos ataques de
piratas estrangeiros. Cada engenho de açúcar nos séculos XVI e XVII precisava
de manter em pé de guerra suas centenas ou pelo menos dezenas de homens prontos
a defender contra selvagens ou corsários a casa de vivenda e a riqueza
acumulada nos armazéns: esses homens foram na sua quase totalidade índios ou
caboclos de arco e flecha.
A enxada é que não se firmou nunca na mão do índio nem na do mameluco;
nem o seu pé de nômade se fixou nunca em pé-de-boi paciente e sólido. Do
indígena quase que só aproveitou a colonização agrária no Brasil o processo da
coivara, que infelizmente viria a empolgar por completo a agricultura colonial.
O conhecimento de sementes e raízes, outras rudimentares experiências
agrícolas, transmitiu-as ao português menos o homem guerreiro que a mulher
trabalhadora do campo ao mesmo tempo que doméstica. Se formos apurar a colaboração
do índio no trabalho propriamente agrário, temos que concluir... pela quase
insignificância desse esforço. O que não é de estranhar, se considerarmos que
a cultura americana ao tempo da descoberta era a nômade, a da floresta, e não
ainda a agrícola; que o pouco da lavoura - mandioca, cará, milho, jerimum,
amendoim, mamão - praticado por algumas tribos menos atrasadas, era trabalho
desdenhado pelos homens - caçadores, pescadores e guerreiros - e entregue às
mulheres, diminuídas assim na sua domesticidade pelo serviço de campo tanto
quanto os homens nos hábitos de trabalho regular e contínuo pelo de vida
nômade. Daí não terem as mulheres índias dado tão boas escravas domésticas
quanto as africanas, que mais tarde as substituíram como cozinheiras e amas de
menino do mesmo modo que os negros aos índios corno trabalhadores de campo.”
(Freyre, Gilberto. Casa Grande & Senzala, trechos do capítulo II).
Da culinária, herdamos dos índios as culturas do caju, goiaba,
guaraná, palmito, mandioca, macaxeira, milho, inhame, cará, jerimum, pimenta,
etc., os quais substituíram a falta do trigo. Da mandioca se extraía um veneno
que, se ingerido, provocava a morte. O indígena sabia processar a mandioca para
extrair dela a massa e a goma para fazer tapiocas, beijus, farinha, bolos, etc.
Também o milho, um cereal totalmente americano, era muito utilizado para
diversas utilidades.
Para cada doença, o indígena tinha um chá ou uma bebida especial.
Unindo superstição ao conhecimento empírico, os nativos desenvolveram uma medicina
natural que hoje em dia tem servido de base para muitas pesquisas médicas,
algumas já comprovadas. Ainda hoje, nos mercados populares do país,
encontram-se ervas para todos os males, das dores de barriga até a inapetência
sexual.
De todos os hábitos, porém, o do banho diário foi o que mais
escandalizou o português. Considerado até prejudicial à saúde, o português com
dificuldade se adaptou ao regime higiênico da colônia, cujo calor era causa
principal dos quase 15 banhos diários tomados pelos índios que os cronistas
coloniais registraram.
Em relação ao idioma, os índios enriqueceram a língua portuguesa,
através de diversas palavras incorporadas ao vocabulário tais como Açucena,
abacaxi, caboclo, gambá, catapora, Morumbi, macaxeira, jabiraca, Jacarepaguá,
Jaguar, Jiboia, Copacabana, Ipanema, carioca, Ceará, Paraíba, Pará, Capibaribe,
Beberibe, Jaguaribe, Camaragibe, Araraquara, Piracicaba, Paraná, Pernambuco,
toró, sagui, saci, etc.
Em relação à religiosidade imposta pelo branco, o catolicismo não
sairia ileso do contato cultural com o nativo. Não deixou de existir uma fusão
das crenças indígenas com o catolicismo, o qual tornou-se mais folclórico,
menos ritualístico, cheio de superstições. A própria umbanda, adaptação da
religião dos negros à realidade da colônia, possui algumas influências
indígenas, como o caboclo e ervas para tirar maus espíritos. De raiz totêmica e
fetichista, a religião primitivista dos índios, que levava em conta o culto aos
elementos da natureza, teve dificuldade em se submeter ao catolicismo. A única
aproximação possível foi a veneração aos santos, levando mesmo assim, em conta
os rituais próprios dos índios, que reverenciavam suas entidades com festas,
sacrifícios, deles recebendo curas e ações sobrenaturais por meio dos pajés ou
feiticeiros das tribos. Muitas dessas práticas ainda resistem ao tempo, no
Sertão, por meio das rezadeiras, que não deixam de constituir um ritual mágico
de pedir a saúde.
QUESTIONÁRIO
1- Por que a palavra índio é uma construção europeia?
2 – Comente o texto: “Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é
de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações
de raça: dentro de um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no
máximo de aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo
adiantado; no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, da
do conquistador com a do conquistado.
3 – Havia diferenças entre os grupos indígenas? Comente.
4 - O índio contribuiu para a expansão e defesa territorial do Brasil?
comente.
5 – Em relação a mestiçagem, a mesma servia aos interesses da Coroa
portuguesa? Comente.
6 – Comente a respeito da luxúria abordada no texto de Casa Grande
& Senzala.
7– Em relação aos costumes e a culinária, comente a contribuição
indígena.
8 – O vocabulário português foi influenciado pela cultura indígena?
Comente.
9 – A religiosidade brasileira sofreu influência indígena? Comente.
10 – Analisando o texto, pode-se afirmar que o índio era preguiçoso,
ou isso é uma visão preconceituosa? Comente.
11– A contribuição indígena na formação da sociedade brasileira foi
importante?
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