AULA DE FILOSOFIA 3º ANO ENSINO MÉDIO
Pragmatismo
O Pragmatismo constitui uma escola de filosofia estabelecida
no final do século XIX, com origem no Metaphysical Club, um grupo de
especulação filosófica liderado pelo lógico Charles Sanders Peirce, pelo
psicólogo William James e pelo jurista Oliver Wendell Holmes, Jr., congregando
em seguida acadêmicos importantes dos Estados Unidos.
Segundo essa doutrina metafísica, o sentido de uma ideia
corresponde ao conjunto dos seus desdobramentos práticos.
O primeiro registro do termo pragmatismo ocorreu em 1898,
tendo sido usado por William James. Este creditou a autoria do termo a Charles
Sanders Peirce, que o teria criado no início dos anos 1870.
A partir de 1905 Peirce passou a usar o termo pragmaticismo
para designar sua filosofia, rejeitando o nome original, pragmatismo, que
estaria sendo usado por "jornais literários", de uma maneira que
Peirce não aprovava.
A questão que distingue o pragmatismo do pragmaticismo reside
principalmente no entendimento dado a esta locução - "desdobramentos
práticos". Segundo a máxima pragmática de Peirce, o sentido de todo
símbolo ou conceito depende da totalidade das possibilidades de formação de
condutas deliberadas a partir da crença na verdade deste conceito ou símbolo.
Neste leque, incluem-se desde os efeitos mais prosaicos até as condutas mentais
mais remotas. Neste aspecto, porque o pragmatismo daria relevância apenas às
evidências empíricas e às práticas mais vantajosas para o sujeito individual,
pode ser considerada uma doutrina filosófica menos exigente que o pragmaticismo.
O pragmatismo se aproxima do sentido popular, segundo o qual
um sujeito "pragmático" é aquele que tem o hábito mental de reduzir o
sentido dos fenômenos à avaliação de seus aspectos úteis, necessários,
limitando a especulação aos efeitos práticos, de valor utilitário, do
pensamento. Peirce, aliás, justifica a invenção do desajeitado termo
"pragmaticismo" justamente como meio de tornar a sua concepção de
pragmatismo "feia demais para seus sequestradores", ou seja, para evitar
que também este conceito tivesse seu sentido psicologizado. Segundo ele, foi o
que, lamentavelmente, aconteceu com o pragmatismo depois que saiu do
Metaphysical Club.
A Filosofia do Processo (ou Filosofia do Organismo),
desenvolvida nos anos 1930 e 1940 por Alfred North Whitehead, mesmo sem contato
direto com os Collected Papers peirceanos, mostra-se convergente com a
cosmologia do pragmaticismo. Em ambos os casos, o universo é concebido como um
agregado emergente de eventos e não mais, como na perspectiva filosófica moderna
(inclusive a implícita à filosofia da linguagem iniciada por Wittgenstein),
como uma coleção de fatos. Recentemente, esta convergência entre a filosofia do
processo e o pragmaticismo foi explorada pelo filósofo neerlandês Guy Debrock.
A partir delas, Debrock sintetiza o que ele chama de pragmatismo processual.
Também recentemente, o projeto realista do pragmatismo foi reformulado por
Richard Rorty.
Nas palavras de William James: “O método pragmatista é, antes
de tudo, um método de terminar discussões metafísicas que, de outro modo,
seriam intermináveis”. O mundo é um ou muitos? Livre ou fadado? Material ou
espiritual? Essas noções podem ou não trazer bem para o mundo; e as disputas
sobre elas são intermináveis. O método pragmático nesse caso é tentar interpretar
cada noção identificando as suas respectivas consequências práticas (...) Se
nenhuma diferença prática puder ser identificada, então as alternativas
significam praticamente a mesma coisa, e a disputa é inútil.
História
Para William James, Sócrates era um adepto do pragmatismo,
Aristóteles usava-o metodicamente e Locke, Berkeley e Hume fizeram contribuições
para a verdade por esse meio.
O pragmatismo foi à primeira filosofia estadunidense
elaborada autonomamente. Inspirada em Ralph Waldo Emerson, seus fundadores
foram Charles Sanders Peirce, com seu artigo How to make our ideas clear, e
William James, que retomou as ideias de Peirce, popularizando-as em sua
coletânea "O Pragmatismo". Durante o início do século XX, o
pragmatismo espalhou-se rapidamente pela cultura estadunidense, e foi além até
outras culturas e povos.
O pragmatismo se impôs nos EUA como corrente dominante antes
da Segunda Guerra Mundial, sofrendo posteriormente um longo eclipse, dada a
predominância da filosofia analítica. Seu ressurgimento deveu-se, sobretudo à
obra de Richard Rorty. Egresso da corrente analítica, mas extremamente
original, Rorty foi criticado por suas ideias acerca do fim da filosofia e por
seu pretenso relativismo. Considerava-se principalmente um discípulo de Dewey, mas
também fortemente inspirado pelos grandes nomes da filosofia continental -
Hegel, Nietzsche, Heidegger, Foucault e Derrida. Até hoje o pragmatismo é
bastante popular e difundido nos EUA e tem um forte impacto sobre sua cultura.
Filosofia
Para Peirce o significado de qualquer conceito é a soma de
suas todas as consequências possíveis.
Para William James a utilidade da filosofia deveria ser
investigar apenas o que realmente faz diferença na nossa vida prática. Assim,
ele vai contra as reflexões filosóficas abstratas e insuficientes, princípios
fixos e absolutos, sistemas fechados e teorias sobre origens. James defende que
teorias são instrumentos e não respostas para enigmas, pois respostas nos
permitem descansar tranquilos enquanto instrumentos somente são úteis quando
utilizados com finalidades práticas.
Critério de verdade
Nas palavras de William James e Francis Schaeffer, o
pragmatismo defende que o sentido de tudo está na utilidade - ou efeito prático
- que qualquer ato, objeto ou proposição possa ser capaz de gerar. Uma pessoa
pragmatista vive pela lógica de que as ideias e atos de qualquer pessoa somente
são verdadeiros se servem à solução imediata de seus problemas. Nesse caso,
define-se como verdade o conjunto de todas as suas consequências práticas
relativas a determinado contexto. Por exemplo: uma religião só é boa quando
tiver como consequência indivíduos mais generosos, pacíficos e felizes. O que
torna verdadeira a afirmação de que ela é boa são suas consequências. E a
filosofia deve estudar o que faz gerar essas consequências e como usá-las para
tornar a sociedade um lugar melhor.
O pragmatismo refuta a perspectiva de que o intelecto e os
conceitos humanos podem, só por si, representar adequadamente a realidade.
Dessa forma, opõe-se tanto às correntes formalistas quanto às correntes
racionalistas da filosofia. Antes, defende que as teorias e o conhecimento só
adquirem significado através da luta de organismos inteligentes com o seu meio.
Não defende, no entanto, que seja verdade meramente aquilo que é prático ou
útil ou o que nos ajude a sobreviver a curto prazo. Os pragmatistas argumentam
que se deve considerar como verdadeiro aquilo que mais contribui para o bem
estar da humanidade em geral, no mais longo prazo possível.
Epistemologia
O pragmatismo original é contra a ciência pela própria
ciência. Para ele um estudo só se justifica caso tenha alguma utilidade social,
mesmo que a longo prazo, mas dando preferência ao que tiver utilidade imediata.
E, ao mesmo tempo, defende que uma teoria só pode ser comprovada pelas suas
evidências práticas, tendo assim semelhanças com o empirismo.
Também existem muitas semelhanças entre a filosofia
pragmática de William James e a análise do comportamento fundada pelo
psicólogos Skinner. É importante lembrar que William James foi um dos
fundadores da psicologia moderna portanto provavelmente influenciou Skinner
diretamente na fundação do comportamentalismo.
Instrumentalismo
A concepção de pragmatismo de William James e uma releitura
de Emerson serviram como base para uma vertente do pragmatismo. Seu criador, o
filósofo e pedagogo John Dewey, chamou-a "instrumentalismo". Em
Dewey, o pragmatismo se aproxima da filosofia social ou mesmo de uma prática da
pesquisa política. Na sua obra Reconstrução em filosofia, Dewey sugere, por
exemplo, que a filosofia deva reproduzir, na área sócio-política, o que a
ciência moderna realiza na área tecnológica.
Críticas
O filósofo e Prêmio Nobel de Literatura Bertrand Russell
criticou especialmente o critério de Verdade do pragmatismo. Segundo Russell,
para os pragmatistas uma crença deve ser julgada verdadeira na medida em que as
consequências práticas da adoção dessa crença sejam boas. Então, diz Russell,
'verdade' seria qualquer coisa na qual compensasse acreditar. "A noção de
que é muito fácil saber quando as consequências de uma crença são boas - fácil
a ponto de uma teoria do conhecimento não precisar levar em conta uma coisa tão
simples - tal noção, devo dizer, parece-me uma das mais estranhas assunções que
uma teoria do conhecimento possa fazer." Para Russell, é óbvio que existe
uma transição entre considerar uma crença útil e assumi-la como verdadeira -
uma diferença que a definição pragmatista de 'verdade' ignora, sem, no entanto
destruir o significado comumente dado à palavra 'verdade', o que resultaria, em
sua opinião, em uma irremediável inadequação entre critério de verdade e
significado da palavra verdade - entre os 'fato' e as 'verdade'. “‘Fatos’,
dizem eles [os pragmatistas], não são
verdadeiros nem falsos, ou seja, a verdade não tem nada a ver com os fatos”.
Russell aponta inconsistências lógicas na filosofia pragmatista, tais como
jogos de palavras e afirmações tautológicas. O pragmatismo não apresenta
nenhuma razão para que a verdade e a utilidade andem sempre juntas. Além disso,
adotar utilidade como critério de verdade nem mesmo é útil, segundo Russell,
porque geralmente é mais difícil descobrir se uma crença é útil do que
descobrir se ela é verdadeira. Finalmente, não sendo apresentada nenhuma razão
pela qual a verdade e a utilidade devam andar juntas.
Max Horkheimer, em Eclipse da Razão, faz uma crítica
semelhante e acrescenta que, ao definir todo meio apenas pelo fim que ele
almeja atingir, o pragmatismo fomenta uma sociedade que não dá valor para a
reflexão e a meditação - e por isso mesmo é que foi fundado e se tornou tão
popular nos Estados Unidos. Dewey revidou as críticas, defendendo que o
objetivo do pragmatismo não é chegar a um objetivo último supersantificado -
isso é absolutismo. Ao contrário, o objetivo é justamente levar à reflexão
sobre o que é o melhor para a humanidade, refletindo sobre as mudanças
necessárias para se adequar ao contexto dinâmico das nossas sociedades.
Referências
JAMES,
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JAMES (1948),
p. 94.
"Pragmatism:
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Name for Some Old Ways of Thinking / Four Related Essays Selected from
"The Meaning of Truth". New York/London/Toronto: Longmans, Gren and
Co., pp. VI-301. Publicado
originalmente em 1907.
Peirce, C.S. (1977) O que é Pragmatismo. In
Peirce, C. S. Semiótica. São
Paulo: Perspectiva. Publicado originalmente em 1905.
TOURINHO, Emmanuel Zagury. Behaviorismo radical,
representacionismo e pragmatismo. Temas
psicol. 1996, vol. 4, n°2, pp. 41-56 .. ISSN 1413-389X.
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James's Conception of Thruth" . In RUSSELL, Bertrand Russell (1910)
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O desenvolvimento do pragmatismo americano , por John Dewey.
Scientiae Studia vol. 5 n°2 São Paulo, abril-junho de 2007.
A Filosofia de W. James , por Arthur Arruda
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Russell on
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Archives. McMaster University Library Press n° 14 (summer 1994): 31-7. ISSN
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A John Dewey
reference page
A Mead Project reference page
Pragmatism Cybrary
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