3ª Aula de História 3º ano Ensino Médio
Unificações
na Europa: a Alemanha e a Itália (1851- 1871)
Itália
No decurso da segunda metade
do século XIX, as grandes potências europeias procuraram estender a sua
influência. Esta atitude imperialista foi, na maioria dos casos, precedida de
movimentos de cariz nacionalista.
O nacionalismo estava muito
em voga na centúria de 1800, inscrito num espírito romântico que tendia a
mitificar as origens medievas das nações europeias.
É neste contexto que se dá a
unificação da Itália, em 1870, e da Alemanha, em 1871.
O movimento de unificação de
Itália (1840-1860) foi desencadeado pela revolução de 1848-1849. O grande
objetivo desta revolução patriótica era, essencialmente, expulsar os austríacos
do Norte e estabelecer um estado italiano coeso. Esta primeira tentativa de
unificar o território fracassou, uma vez que não foi possível atrair as massas
camponesas. Devido ao insucesso desta empresa, a Itália ficou dividida em oito
estados. Por volta de 1860 a região do Norte de Itália ganhou um novo alento
com o desenvolvimento do modelo capitalista.
Neste período, o estado de
Piemonte-Sardenha era governado pelo conde de Cavour, um descendente de ricos
latifundiários. Este político queria dar à Itália uma Constituição de tipo
britânico e unir o país sob o domínio da monarquia da Sardenha, contando com a
apoio da França, mediante a entrega da Saboia e do condado de Nice a Napoleão
III.
Em 1859, a França e a
Sardenha declararam guerra à Áustria. Neste conflito destacou-se Garibaldi, um
dos próceres do movimento de unificação do país, chamado a intervir para
conferir a este conflito um carácter mais popular.
Esta guerra esteve na origem
da revolta nos ducados de Modena e Parma, dominados pelos austríacos. A
Toscânia, seguida por outros estados, revoltou-se e juntou-se ao Piemonte.
Napoleão III, temendo que esta guerra evoluísse para uma revolução, pôs fim ao
conflito. Pelo acordo estabelecido entre a França e a Áustria, uma parte da
Lombardia foi entregue à Sardenha e o Véneto permaneceu sob o domínio da
Áustria. Mas, ao retirar-se, Napoleão III não cumpriu o compromisso firmado com
Itália. Não libertou as regiões italianas subjugadas pela Áustria anexando,
contudo, a Saboia e Nice.
Este desrespeito de Paris
para com a aliança franco-italiana foi denunciado por Marx e Engels, em artigos
publicados em jornais europeus e italianos.
Em abril de 1860 rebentou
uma insurreição camponesa na Sicília, para onde se dirigiu Garibaldi,
acompanhado pelos "mil de Garibaldi", também chamados "as mil
camisas vermelhas", porque estes voluntários envergavam um vestuário fora
do comum.
A sua chegada, a 2 de maio
de 1860, foi muito festejada pela população, que o considerou o libertador. A
sua vitória resultou na retirada dos inimigos. Em outubro de 1860 estava em
curso a união revolucionária italiana.
Em setembro desse ano,
Garibaldi assumiu o poder em Nápoles, com o apoio incondicional de uma parte
considerável da população, com exceção dos camponeses, que não constituíam uma
forte oposição aos latifundiários. Garibaldi voluntariamente reconheceu a
autoridade de Vítor Manuel, o rei da Sardenha, quando esta foi exigida por
Cavour.
Em outubro a Itália
meridional passou a integrar o reino da Sardenha, em virtude de uma votação
pública. No ano seguinte, em 1861, o Piemonte proclamou o reino unificado de
Itália. Para a total unificação deste país, faltava incorporar o Véneto e a
Roma dos papas.
Em 1866 a Prússia atacou a
Áustria com o auxílio italiano. Garibaldi e os seus homens sofreram muitas
derrotas, mas as tropas da Prússia ditaram o resultado final deste conflito.
Após a assinatura do tratado de paz em 1868 a Áustria foi coagida a renunciar
ao Véneto, uma região automaticamente integrada na Itália.
A Roma pontifícia tentou
resistir à unificação, só que, com a perda do seu tradicional aliado, Napoleão
III, que fora destronado, em 1870, pela Prússia, a cidade foi ocupada pelas
tropas de Vítor Manuel, a 20 de setembro daquele ano. A unificação ficava,
deste modo, completa e, nesse mesmo ano de 1870, a cidade de Roma assumia-se
como a capital de um novo país europeu.
Giuseppe Mazini, Vítor
Manuel II, o conde de Cavour do reino do Piemonte-Sardenha, o bastião da
unidade italiana, consumada entre 1859 e 1870, foram os protagonistas do
processo de unificação, no qual também participou Garibaldi, chefe militar
muito popular entre a população do Piemonte, o centro dos patriotas de toda a
península, de onde partiu para as suas campanhas.
Alemanha
O fracasso da revolução de
1848, de intuitos unificadores, implicou a continuidade da fragmentação da
Alemanha. Na década de 50, os grandes senhores da Prússia, detentores do poder político,
mantinham os seus privilégios - o monarca, receando uma nova revolução,
resolveu manter a Constituição onde esses privilégios eram consagrados.
A partir de 1848, o ritmo de
desenvolvimento do setor industrial e das cidades foi bastante acelerado e
apenas a divisão política travava o progresso do capitalismo. Tornava-se
indispensável a unificação da Alemanha para prosseguir o projeto económico
germânico.
Com a derrota da revolução
de 1848 os detentores dos grandes latifúndios na Prússia ganharam elevadas
somas de dinheiro e, em virtude dos preços do trigo estabelecidos entre 1850 e
1860 e do rápido desenvolvimento da indústria e das cidades, estes tiveram a
possibilidade de pôr em prática uma agricultura mecanizada do tipo capitalista.
Ainda se registaram mais alguns focos de resistência camponesa mas, de 1850 a
1870, não mais se verificou qualquer movimento de alcance nacional.
Guilherme I, sucessor de
Frederico Guilherme IV (falecido em 1861), apostou numa política de rearmamento
e fez de Bismarck o seu primeiro-ministro. Bismarck, o "Chanceler de
Ferro" (1815-1898), um político hábil e um diplomata de sucesso,
defendendo as classes privilegiadas nas quais se apoiava. Para ele, a
unificação do território alemão era essencial para a destruição da Áustria e da
França, dois estados que considerava serem um entrave à formação de uma grande
nação germânica.
No ano de 1866 a Prússia
entrou em guerra com a Áustria e a vitória sorriu a Guilherme I, que apoiava os
nacionalistas italianos. Em consequência, a Áustria perdeu o Véneto para a
Itália e teve de pagar uma contribuição monetária à Alemanha.
Enquanto os Estados do Norte
da Alemanha, luteranos, constituíam a Confederação Germânica do Norte, liderada
pela Prússia, os Estados do Sul, maioritariamente católicos, estavam arredados
desta instituição, quer por imposição da França, quer pela sua relutância
natural em serem controlados pela Prússia. Estes Estados viriam a negociar um
pacto com a Alemanha, segundo o qual, em caso de guerra com a França, o rei da
Prússia tornar-se-ia general dos exércitos germânicos.
O nacionalismo alemão, para
além de uma motivação económica, teve uma origem rácica, pois um dos seus
objetivos era a unificação da raça ariana, considerada pura e superior por
alguns setores da população alemã.
A unificação política deu-se
depois de concluída a unificação económica, uma vez que em 1834 a Prússia tomou
a direção da união aduaneira (Zollverein), que representou um fator essencial
do desenvolvimento económico dos Estados alemães, um estímulo para a
modernização da sua indústria e formação de uma classe operária que terá um
importante papel em todo este processo de unificação.
Bismarck, à frente do
processo de unificação desde o seu início, não tinha dúvidas quanto à forma de
a concretizar; ficou célebre a frase que proferiu acerca da exequibilidade da
união: "Sim, far-se-á, mas pelo ferro e pelo sangue". Em 1864
conquistou à Dinamarca os ducados de Schleswig e Holstein, na chamada
"Guerra dos Ducados". Dois anos depois, aliado à Itália, fazia guerra
ao rival austríaco; em poucos meses a sorte das armas era decidida com a
vitória alemã em Sodowa e posterior assinatura da paz da Prússia. Em 1870, a
França de Napoleão III declarou guerra à Prússia, mas perdeu em todas as
frentes. O forte exército germânico acumulava vitórias, como sucedeu na
esmagadora vitória na batalha de Sedan (1 de setembro de 1870) na qual o
próprio imperador francês foi feito prisioneiro. No dia 20 desse mês, os
prussianos cercavam Paris. Perante esta situação, o governo de Defesa Nacional
(republicano, em funções desde 4 de setembro, altura em que depusera Napoleão
III) assinou a rendição. Na paz de Frankfurt (10 de maio de 1871) a França,
para além de pagar uma pesada indemnização, entregava a Alsácia e o Norte da
Lorena. Nascia o novo estado alemão e Guilherme I, já proclamado imperador da
Alemanha em Versalhes, no dia 18 de janeiro de 1871, assumia-se como o primeiro
governante desta nova unidade política.
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