terça-feira, 29 de março de 2016

5ª Aula de Sociologia 1º Ano Ensino Médio

Ibn Khaldun e os primórdios da Sociologia
De um modo geral, as contribuições culturais, filosóficas, políticas e científicas que os árabes e muçulmanos deram ao mundo no decorrer dos últimos 1500 anos é hoje praticamente ignorada pelo mundo ocidental. Quando muito, a impressão que se tenta passar é a de que os árabes teriam sido apenas 'transmissores' de conhecimento e nunca 'produtores' desses mesmos conhecimentos.
Abu Zaid Abdul Rahman (Ibn Khaldun), filho de Abu Bakr Muhammad, nasceu na cidade de Túnis, atual capital da Tunísia, Magreb, Norte da África, em 27 de maio de 1332 (portanto há 673 anos). Esse ano equivalia ao ano 732 dos muçulmanos, pelo calendário islâmico.
Foi escrivão (alama) do governo de Túnis. Tornou-se secretário do Sultão Abu Inan em 1355. Posteriormente, esteve preso por dois anos. Foi secretário de Estado e ao mesmo tempo chanceler do sultão Abu Salém. Serviu ao sultão Abu Hammu, senhor de Tlemcen, e ao sultão Abdul El Aziz, soberano do Magreb. Foi Cádi (a mais alta autoridade no poder judiciário islâmico) na cidade do Cairo, Egito (1383). Veio a falecer em 15 de março de 1406, com 74 anos, nessa cidade (este resumo foi feito a partir da própria autobiografia do autor, pág. 479-546, V. I da obra 'Os Prolegômenos'; todas as citações que faremos nesta coluna são a partir dessa edição brasileira de 1958).
Ele é considerado o fundador da sociologia no mundo moderno. Analisa a divisão do trabalho, a especialização por profissão e ofícios. Ibn Khaldun admitiu o caráter produtivo dos serviços, coisa que Smith não chegou a admitir (é anterior ao autor inglês cerca de 400 anos). Deve-se-lhe uma teoria sobre a moeda e sobre o valor. Faz análise política do poder e dá 'conselhos' aos Califas (soberanos da época), 136 anos antes que Maquiavel escrevesse o seu 'Príncipe' (em 1513, e Khaldun publica sua obra em 1377).
Sua obra principal, 'Os Prolegômenos', é considerada pela Unesco como uma das obras de referência da literatura mundial. Teve a sua primeira edição em francês datada de 1967, publicada em Paris, com o título 'Discours sur L'istoire Universelle'.
Khaldun é contemporâneo de outros intelectuais e pensadores famosos em sua época, tais como o iluminista Francesco Petrarca (1304-1374); Giovanni Bacaccio (1313-1375); Ibn batuta, viajante (1304-1377); Eduardo, o Príncipe Negro (1330-1376); do poeta Geoffrey Chancer (1340-1400); Jean Froissart (1337-1410).
Tem posições na linha do determinismo geográfico: 'Se prosseguirmos nestas observações nos outros climas e países, acharemos em toda parte que as qualidades do ar exercem uma grande influência sobre as qualidades do homem' (Livro I, pág. 135).
Divaga sobre aspectos psicossociais e físicos no homem, em função da abundância ou penúria por que passam as pessoas: 'Não possuindo bastante dinheiro [as tribos árabes nômades do deserto], para fazerem grandes compras, podendo apenas adquirir o estritamente necessário, estão longe de ter com o que viver na abundância. Quase sempre vemo-las adstritas ao uso do leite, alimento que, para elas, substitui perfeitamente o trigo; estes homens, habitantes do deserto, a quem faltam inteiramente os cereais e os condimentos, superam, em qualidades físicas e morais, os habitantes do Tell, que vivem na abundância. O excesso de alimentação e os princípios úmidos, que existem nos alimentos, provocam no corpo, secreções supérfluas e perniciosas que produzem gordura excessiva e uma abundância de humores nocivos e corrompidos, o que provoca uma alteração da tez e tira às formas do corpo sua beleza, sobrecarregando-o de carnes' (Livro I, pág. 136-7).
Sobre a suscetibilidade de corrupção nos povos das cidades e do campo: 'Os habitantes das cidades, ocupados habitualmente com seus prazeres e entregues aos hábitos do luxo, procuram os bens deste mundo transitório e abandonam-se às paixões. Sua alma corrompe-se pelas qualidades, mas que adquire em grande número, e, à medida que vai se pervertendo, mais ela, na mesma proporção, se afasta da estrada da virtude' (Livro I, pág. 209).
Fala da coragem dos camponeses: 'Os habitantes das cidades, recostados no leito da tranquilidade e do repouso, mergulham nas delícias da opulência a saborear os prazeres da vida, deixando a seu governador ou a seu comandante o cuidado de lhes proteger a vida e os bens. Os que vivem no nomadismo... jamais confiam a outrem o cuidado de os defender, e, sempre de armas em punho, demonstram, nas expedições, uma vigilância extrema' (Livro I, pág. 213).
Trata do conceito da tribo: 'Ele compreende grupos cujos componentes se mantém mais fortemente coesos do que aqueles cuja agremiação forma a tribo. Tais são os parentes próximos, a gente da mesma casa, os irmãos nascidos dos mesmos pais' (Livro I, pág. 225).
Esses conceitos que dei como exemplo são fundados em aspectos que são sociológicos, ainda que de forma rudimentar, mas que o tornam, segundo nosso ponto de vista, um dos primeiros sociólogos, estudioso das sociedades humanas de forma científica e sistemática. Nas minhas aulas de sociologia na Universidade Metodista há 20 anos, sempre falo nele como um sociólogo árabe, apesar de ignorado pela maioria dos meus colegas e pesquisadores de universidades brasileiras. Quando contamos a história e a origem da sociologia moderna, na maioria das vezes não lembramos de Khaldun. Eu faço justiça a seu pensamento, bastante avançado para a sua época.

*O artigo acima teve origem em trechos da extensa pesquisa do prof. Lejeune sobre o pensador árabe Ibn Khaldun.

5ª Aula de Sociologia 2º Ano Ensino Médio- Vídeo de Resumo de Conteúdo




5ª Aula de Filosofia do 3º Ano Ensino Médio

Pragmatismo: Uma filosofia para a vida
Quem já teve aquela sensação de, ao ler um livro de filosofia ou ouvir um político discursando, se perguntar: "mas o que isso quer dizer?" Por que as crianças aprendem menos com sermões do que imitando as ações dos pais? E por que é tão importante revermos nossas crenças a respeito do que acreditamos ser verdade? Se tudo o que nos interessa é o que afeta nossas vidas, é neste tribunal do cotidiano que o método pragmatista vai julgar e depurar a filosofia.
O pragmatismo, desenvolvido no século 19 por um grupo de filósofos norte-americanos em Cambridge, Massachusetts, é uma corrente da filosofia muito estudada até hoje em diversos países, incluindo o Brasil. Talvez o correto seria falar em pragmatismos, no plural, dadas as nuances com que diferentes autores trataram o termo, desde os clássicos (Charles S. Peirce, William James, John Dewey e Ferdinand Schiller) até os contemporâneos (Lewis, Quine, Putnam, Davidson e Richard Rorty, entre outros).
Em sua formulação original, feita por Charles Sanders Peirce (1839-1914) em 1877-78 e reformulada em 1905, o pragmatismo é um método filosófico cuja máxima sustenta que o significado de um conceito (uma palavra, uma frase, um texto ou um discurso) consiste nas consequências práticas concebíveis de sua aplicação.
Conceito e experiência
Isto quer dizer que uma afirmação que não tenha qualquer relação com a experiência é desprovida de sentido. Por conta disso, o pragmatismo presta contas ao filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que dizia (na "Crítica da Razão Pura") que, se por um lado toda experiência sem a forma do conceito é cega, o conceito sem o conteúdo da experiência é vazio.
Por exemplo, se eu digo "Pedro é honesto", isso só terá sentido se for possível, observando o comportamento futuro de Pedro, comprovar a honestidade por meio das atitudes de Pedro. Caso contrário, o máximo que poderíamos dizer é que "Pedro tem sido honesto (até hoje)". Mas o que nos interessa é o futuro, sobre o qual podemos deliberar. Deste modo, a crença que temos a respeito da honestidade de Pedro deve se fundamentar em fatos possíveis de serem observados.
E é por esta razão que só podemos conhecer realmente uma pessoa, amigo, parente ou amante no curso do tempo e por intermédio de suas ações.
Crianças e políticos
As crianças são, de certo modo, pragmatistas. Elas só aprendem investigando atentamente o que os pais fazem no dia-a-dia. Não adianta falar para uma criança que jogar papel na rua é errado se o pai atira o maço de cigarros vazio pela janela do carro. Haverá um desacordo entre teoria e prática que irá deslegitimar o discurso paterno.
Com o tempo, porém, nos tornamos menos atentos a isso e ficamos deslumbrados com programas ideológicos e doutrinas vazias de significado.
Promessas de campanha e compromissos éticos de políticos deveriam passar pelo mesmo crivo. Só terão algum significado quando confrontados com seus efeitos práticos concebíveis, isto é, caso haja dinheiro em caixa que torne possível a concretização das promessas e caso o governo tenha transparência suficiente para pôr à prova sua postura ética.
Assim, o pragmatismo, conforme concebido originalmente por Peirce, tem o propósito de fornecer uma diretriz ao pensamento, evitando que a razão, em seus altos voos rumo ao abstrato, se desvencilhe de seu objeto: a realidade, a vida. O método pragmatista, desta forma, se contrapõe às metafísicas de caráter dogmático e propõe que o raciocínio seja guiado por métodos semelhantes aos da ciência, que incluem a observação dos fenômenos, a formulação de hipóteses, os testes práticos e a revisão de teorias. É por isso que o pragmatismo estranha qualquer ideia de verdade e certeza inatas ou absolutas.
Verdades provisórias
Opondo-se a René Descartes (1596-1650), que concebia o homem como dotado de ideias claras e distintas, para Peirce não temos nenhuma segurança de que nossas representações da realidade estão corretas. O máximo que podemos dizer é que funcionam e que, a longo prazo, nos aproximamos mais da verdade, na medida em que confrontamos a teoria com o objeto.
É o que Peirce chamava de doutrina do falibilismo. É impossível saber se atingimos a verdade última a respeito de algo. Contamos apenas com um conhecimento provisório e falível. Por exemplo, a visão do homem a respeito do universo se modificou ao longo dos séculos, nos quais os instrumentos técnicos foram aperfeiçoados e o gênio matemático, testado. De Copérnico, Galileu, Kepler, Newton e Einstein, sabemos muito mais hoje sobre o universo do que os antigos povos da Grécia, China e Mesopotâmia, mas nada nos garante que tenhamos chegado a uma incompatibilidade insuperável entre a teoria da Relatividade e a mecânica quântica, que descrevem, respectivamente, o macro e o microcosmo.
E também é assim com nossos valores. Afinal, não somos obrigados a reavaliar todos nossos parâmetros culturais em face das mudanças tecnológicas e o fenômeno da globalização?
O falibilismo, portanto, é uma condição de humildade intelectual, que nos obriga a uma aprendizagem constante e evita que nos enclausuremos em crenças e verdades últimas. Como o pragmatismo sugere, é necessário contrapor aos conceitos o objeto real para construir significados, caso contrário, corre-se o risco de naufrágio em um redemoinho de palavras sem qualquer âncora na terra firme da experiência.
Filosofia sem concessões
E qual garantia o pragmatismo nos dá de que aprendemos com os erros, de que iremos atingir a verdade ou, quem sabe, a segurança de uma certeza qualquer? Para Peirce, nenhuma. Só podemos ter esperança de que, com uma boa educação, nossos filhos serão melhores. Do mesmo modo, aprendemos a duras custas que não existem soluções prontas para a democracia no Brasil. Ela se faz de maneira conjunta e cotidiana.
O que valida uma crença, segundo o pragmatismo clássico, não são seus ornamentos argumentativos ou o conforto que nos traz ao tornar aprazível e suportável a realidade. Mas sim, seus efeitos práticos concebíveis e a experiência futura, que irá confirmá-la ou não. Ao nos devolver teimosamente à mesma realidade, por vezes tediosa e angustiante, da qual tentamos escapar por meio de filosofias baratas, dogmas e autoajuda, o pragmatismo só pode oferecer em troca uma existência mais criativa, num oceano de possibilidades.
Pragmatismo: William James e o valor das crenças
Junto com Charles Sanders Peirce (1839-1914), William James (1842-1910) é considerado o fundador do pragmatismo norte-americano, apesar de ambos os pensadores terem desenvolvido duas escolas distintas na tradição. Peirce é reconhecidamente o criador do método pragmatista, mas foi James quem o popularizou e usou pela primeira vez o termo em livros e conferências.
Peirce e James estão de acordo quanto ao fato de o pragmatismo não ser uma filosofia propriamente dita, isto é, não diz nada a respeito do que é o mundo e sobre o conhecimento que temos dele, e muito menos se configura como uma doutrina ou metafísica. Pragmatismo é simplesmente um método pelo qual o significado dos conceitos é depurado pelos fatos, pela experiência.
Quando o pragmatista está diante de um candidato a problema filosófico, ele questiona: o que a decisão a respeito da verdade de A ou de B poderá trazer em termos de efeitos práticos para nossas vidas? Se não provocar nenhuma mudança em nosso comportamento ou entendimento a respeito de algo, então não tem nenhum efeito. Portanto, nenhum significado.
Para dar um exemplo simples - e atual -, qual seria o significado pragmático de chamar o vírus da gripe suína de "nova gripe"? A mudança do nome vai ampliar nosso conhecimento sobre a doença ou trazer alguma mudança real em termos de saúde pública e prevenção? Caso a resposta seja negativa, então não tem nenhum sentido.
Podemos fazer o mesmo perguntando qual o significado pragmático da arte, da religião e dos sistemas filosóficos, para verificar se resiste ao confronto da realidade.
Conforme diz James: "Toda a função da filosofia deve ser a de achar que diferença definitiva fará a mim ou você, em instantes definidos de nossa vida, se esta fórmula do mundo ou aquela outra for a verdadeira" (1979: 19).
E ainda: "Tem-se de extrair de cada palavra o seu valor de compra prático, pô-lo a trabalhar dentro da corrente de nossa experiência" (1979: 20).
O pragmatismo consiste, portanto, em sempre olhar os frutos, ou seja, as consequências práticas que uma teoria veicula. Nisso tanto o "pai" do pragmatismo, Peirce, quanto James estão de acordo. A diferença está:  na interpretação da máxima do pragmatismo; na sua aplicação e no seu escopo, conforme veremos a seguir.
James: o foco no indivíduo
Vamos começar pela interpretação da máxima pragmatista. Para Peirce, o significado de um conceito ou teoria é dado pelas consequências práticas concebíveis que o objeto será capaz de proporcionar e, deste modo, afetar a conduta humana.
No exemplo dado pelo filósofo, "O diamante é duro" é uma expressão significativa porque, caso o diamante fosse submetido a testes, sua superfície não seria arranhada em contato com outros objetos duros. Já a expressão "Deus existe" não tem nenhum sentido, porque não é possível demonstrar a existência de Deus por meio da experiência futura.
Para James, ao contrário, o significado pragmático são os efeitos práticos que provoca na crença do indivíduo. Para uma doente, por exemplo, acreditar que Deus existe e que pode curá-lo pode ter efeitos práticos muito melhores do que o caso de ele ser ateu e achar que vai morrer. Essa crença, por exemplo, poderia estimular seu sistema imunológico e contribuir para o tratamento da doença. Portanto, em James, "Deus" passa no teste pragmático.
Diz James: "Se há qualquer vida que seja realmente melhor do que a que devemos levar, e se há qualquer ideia que, em sendo acreditada, ajudar-nos-ia a levar tal vida, então seria melhor para nós acreditar nessa ideia, a não ser que, na verdade, a crença que se lhe depositasse colidisse incidentalmente com outros benefícios vitais de maior vulto" (1979: 29, grifos do autor).
Isto é, se a crença em Deus não causa nenhum prejuízo material nem coloca em risco nossas próprias vidas - como no caso de tornar o crente um fanático suicida - e, além disso, nos torna melhores em nosso dia-a-dia e com as outras pessoas, então, para James, é pragmaticamente relevante.
Religião tem significado pragmático
Em resumo, para Peirce o foco é o caráter geral e o objeto da crença que devem ser investigados, enquanto para James, o foco está no particular e no indivíduo que acredita. Ao fazer isso, James amplia o pragmatismo para além do método científico, como o queria Peirce, para incluir questões morais e, principalmente, religiosas.
Para James, "[...] o pragmatismo alarga o campo da procura de Deus. [...] Levará em conta as experiências místicas se tiverem consequências práticas. Acolherá um Deus que viva no âmago mesmo do fato privado - se esse lhe parecer um lugar provável de encontrá-lo" (1979: 30).
Se a religião afeta nossas vidas, nos torna melhores, então tem um significado pragmático, segundo James.
Esta interpretação do método pragmatista se aproxima daquilo que James chamou de opção genuína em sua obra "A Vontade de Crer" (1897), pela qual afirma que, em determinadas situações, o indivíduo tem o direito de acreditar em algo mesmo que não tenha condições racionais de estabelecer se sua crença possui um objeto correspondente real.
São decisões que temos que tomar sem que tenhamos elementos suficientes para saber se a escolha é certa ou errada. Por exemplo, se estamos caminhando em uma trilha, à noite, na Mata Atlântica, e escutamos um rugido próximo, é bem provável que acreditemos que esse rugido é sinal que uma onça está por perto e adotemos uma atitude em relação a isso, antes mesmo de ter certeza de que se trata do animal e não um porco-do-mato, por exemplo.
Do mesmo modo, se estamos de carro em uma rua escura e vemos um homem em atitudes suspeitas, provavelmente não iremos parar no semáforo e nos arriscar a sofrer um assalto, mesmo sem saber ao certo as intenções do desconhecido.
É um tipo de escolha prática bem diferente daquela tomada por um cientista que está num laboratório. Ele pode errar e refazer os testes até ter certeza de que está de posse de uma crença verdadeira. Crenças vivas, contudo, atendem a propósitos imediatos.
Pragmatismo como teoria da verdade
Por isso, para James, verdade terá um sentido diferente daquele sustentado por escolas filosóficas anteriores. Para essas correntes da filosofia, verdade consiste numa cópia fiel da realidade, isto é, aquela teoria que corresponde aos fatos, que "espelha" o real. Cumpria, portanto, descobrir a verdade das coisas, pois só existe uma que atenda a tais exigências.
James, por outro lado, diz que a verdade está localizada no meio do caminho entre a teoria e os fatos. É preciso que exista uma coerência entre ambos. Por exemplo, se quero construir uma ponte, preciso respeitar uma série de princípios de engenharia e, além disso, tenho que levar em conta as condições materiais e dificuldades geográficas e físicas que o mundo me impõe. O melhor projeto de ponte, aquele que irá funcionar, será o verdadeiro.
Uma crença verdadeira, portanto, é aquela que atende aos nossos propósitos, que funciona na prática, em nosso cotidiano, e que nos traz benefícios, que nos permite continuar atuando no jogo do viver. Logo, verdade é algo mutável e pluralista: "Verdadeiro é o nome do que quer que prove ser bom no sentido da crença, e bom, também, por razões fundamentadas e definitivas" (1979: 28).
Este é o valor pragmático da verdade - e outro ponto de discordância com Peirce: em James, o pragmatismo também é um método para se alcançar a verdade.
Uma dieta rica em verduras e com baixa taxa de gordura animal e açúcar pode não ser tão agradável ao nosso paladar quanto comer pizzas, sanduíches e churrasco, mas é, num sentido pragmático, a decisão mais correta se tivermos em vista nosso bem-estar e nossa saúde.
Em resumo, o pragmatismo em James, interpreta a máxima pragmática de Pierce em uma esfera individual, amplia sua aplicação para questões religiosas e torna o método também uma teoria da verdade.
Bibliografia
DE WAAL, Cornelis. Sobre Pragmatismo. São Paulo: Edições Loyola, 2007.
HAACK, Susan. (2007). "Pragmatismo". Em: Compêndio de Filosofia. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola.
IBRI, Ivo Assad. (1992). Kósmos: a arquitetura metafísica de Charles S. Peirce. São Paulo: Perspectiva/ Hólon.
JAMES, William. "Pragmatismo", em Os Pensadores. Abril Cultural, 1979.

JAMES, William. A Vontade de Crer. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

segunda-feira, 28 de março de 2016

5ª Aula de História 3º Ano Ensino Médio

História do Brasil 1ª República

Marechal Deodoro da Fonseca: primeiro presidente do Brasil

Introdução

O período que vai de 1889 a 1930 é conhecido como a República Velha. Este período da História do Brasil é marcado pelo domínio político das elites agrárias mineiras, paulistas e cariocas. O Brasil firmou-se como um país exportador de café, e a indústria deu um significativo salto. Na área social, várias revoltas e problemas sociais aconteceram nos quatro cantos do território brasileiro.
A República da Espada (1889 a 1894)
Em 15 de novembro de 1889, aconteceu a Proclamação da República, liderada pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Nos cinco anos iniciais, o Brasil foi governado por militares. Deodoro da Fonseca, tornou-se Chefe do Governo Provisório. Em 1891, renunciou e quem assumiu foi o vice-presidente Floriano Peixoto.
O militar Floriano, em seu governo, intensificou a repressão aos que ainda davam apoio à monarquia.
A Constituição de 1891 (Primeira Constituição Republicana)
Após o início da República havia a necessidade da elaboração de uma nova Constituição, pois a antiga ainda seguia os ideais da monarquia. A constituição de 1891, garantiu alguns avanços políticos, embora apresentasse algumas limitações, pois representava os interesses das elites agrárias do país. A nova constituição implantou o voto universal para os cidadãos (mulheres, analfabetos, militares de baixa patente ficavam de fora). A constituição instituiu o presidencialismo e o voto aberto.
República das Oligarquias
O período que vai de 1894 a 1930 foi marcado pelo governo de presidentes civis, ligados ao setor agrário. Estes políticos saiam dos seguintes partidos: Partido Republicano Paulista (PRP) e Partido Republicano Mineiro (PRM). Estes dois partidos controlavam as eleições, mantendo-se no poder de maneira alternada. Contavam com o apoio da elite agrária do país.

Dominando o poder, estes presidentes implementaram políticas que beneficiaram o setor agrário do país, principalmente, os fazendeiros de café do oeste paulista.
Surgiu neste período o tenentismo, que foi um movimento de caráter político-militar, liderado por tenentes, que faziam oposição ao governo oligárquico. Defendiam a moralidade política e mudanças no sistema eleitoral (implantação do voto secreto) e transformações no ensino público do país. A Coluna Prestes e a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana foram dois exemplos do movimento tenentista.
Política do Café-com-Leite
A maioria dos presidentes desta época eram políticos de Minas Gerais e São Paulo. Estes dois estados eram os mais ricos da nação e, por isso, dominavam o cenário político da república. Saídos das elites mineiras e paulistas, os presidentes acabavam favorecendo sempre o setor agrícola, principalmente do café (paulista) e do leite (mineiro). A política do café-com-leite sofreu duras críticas de empresários ligados à indústria, que estava em expansão neste período.
Se por um lado a política do café-com-leite privilegiou e favoreceu o crescimento da agricultura e da pecuária na região Sudeste, por outro, acabou provocando um abandono das outras regiões do país. As regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste ganharam pouca atenção destes políticos e tiveram seus problemas sociais agravados.
Política dos Governadores
Montada no governo do presidente paulista Campos Salles, esta política visava manter no poder as oligarquias. Em suma, era uma troca de favores políticos entre governadores e presidente. O presidente apoiava os candidatos dos partidos governistas nos estados, enquanto estes políticos davam suporte a candidatura presidencial e também durante a época do governo.
O coronelismo
A figura do "coronel" era muito comum durante os anos iniciais da República, principalmente nas regiões do interior do Brasil. O coronel era um grande fazendeiro que utilizava seu poder econômico para garantir a eleição dos candidatos que apoiava. Era usado o voto de cabresto, em que o coronel (fazendeiro) obrigava e usava até mesmo a violência para que os eleitores de seu "curral eleitoral" votassem nos candidatos apoiados por ele. Como o voto era aberto, os eleitores eram pressionados e fiscalizados por capangas do coronel, para que votasse nos candidatos indicados. O coronel também utilizava outros "recursos" para conseguir seus objetivos políticos, tais como: compra de votos, votos fantasmas, troca de favores, fraudes eleitorais e violência.
O Convênio de Taubaté
Essa foi uma fórmula encontrada pelo governo republicano para beneficiar os cafeicultores em momentos de crise. Quando o preço do café abaixava muito, o governo federal comprava o excedente de café e estocava. Esperava-se a alta do preço do café e então os estoques eram liberados. Esta política mantinha o preço do café, principal produto de exportação, sempre em alta e garantia os lucros dos fazendeiros de café.
A crise da República Velha e o Golpe de 1930
Em 1930 ocorreriam eleições para presidência e, de acordo com a política do café-com-leite, era a vez de assumir um político mineiro do PRM. Porém, o Partido Republicano Paulista do presidente Washington Luís indicou um político paulista, Júlio Prestes, a sucessão, rompendo com o café-com-leite. Descontente, o PRM junta-se com políticos da Paraíba e do Rio Grande do Sul (forma-se a Aliança Liberal) para lançar a presidência o gaúcho Getúlio Vargas.
Júlio Prestes sai vencedor nas eleições de abril de 1930, deixando descontes os políticos da Aliança Liberal, que alegam fraudes eleitorais. Liderados por Getúlio Vargas, políticos da Aliança Liberal e militares descontentes, provocam a Revolução de 1930. É o fim da República Velha e início da Era Vargas.
Galeria dos Presidentes da República Velha:  Marechal Deodoro da Fonseca (15/11/1889 a 23/11/1891), Marechal Floriano Peixoto (23/11/1891 a 15/11/1894), Prudente Moraes (15/11/1894 a 15/11/1898), Campos Salles (15/11/1898 a  15/11/1902) , Rodrigues Alves (15/11/1902 a 15/11/1906), Affonso Penna (15/11/1906 a 14/06/1909), Nilo Peçanha (14/06/1909 a 15/11/1910), Marechal Hermes da Fonseca (15/11/1910 a 15/11/1914), Wenceslau Bráz (15/11/1914 a 15/11/1918), Delfim Moreira da Costa Ribeiro (15/11/1918 a 27/07/1919), Epitácio Pessoa (28/07/1919 a 15/11/1922), Artur Bernardes (15/11/1922 a 15/11/1926), Washington Luiz (15/11/1926 a 24/10/1930).
Você sabia?
- O período da História do Brasil conhecido como Nova República teve início em 1985, com o fim da Ditadura Militar e início do processo de redemocratização. Este período da História do Brasil dura até os dias atuais.
- A palavra República tem origem no latim res publica, cujo significado é "coisa pública".




5ª Aula de História 2º Ano Ensino Médio

A FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO: ABSOLUTISMO E MERCANTILISMO


Imagem do rei da França Luis XIV conhecido como Rei Sol pela grande concentração de poder.

A Idade Moderna iniciou-se em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos e estendeu-se até 1789 com o início da Revolução Francesa. O século XV marcou uma nova fase do processo histórico da Europa Ocidental, onde uma nova ordem socioeconômica teve inicio: o Estado Moderno e o mercantilismo, o alicerce do capitalismo comercial. A nobreza mantinha as “aparências” de poder por causa das terras e títulos sociais. Já a burguesia, mesmo com a prosperidade do comércio, não conseguia ser ascender a condição de classe dominante junto a aristocracia.

COMO SE FORMOU O ESTADO MODERNO?

O Estado Moderno se desenvolveu a partir da noção da soberania, ou seja, o soberano (rei absolutista) tinha o direito de consolidar suas decisões perante seus súditos (ou governados).
Para que o rei obtivesse o controle político, o Estado desenvolveu vários meios para centralizar a política. Alguns desses meios foram: 1) a burocracia: funcionários que cumpriam ordens do rei e desempenhavam as tarefas de administração pública. Estes cargos eram ocupados pela nobreza palaciana e pela alta burguesia; 2) poder militar, que incluía toda as forças armadas, como a marinha, o exército e a polícia civil, para assegurar a ordem pública na sociedade e o poder do governo. 3) centralização política e a legislação nacional, 4) sistema tributário, um sistema de impostos regulares e obrigatórios para manter o governo e a administração pública, 5) idioma oficial, que se referia a um mesmo idioma falado em todo território do Estado, que transmitia as leis, ordens e tradições da nação , além de valorizar seus costumes e cultura, 6) moeda comum, que auxiliou o fortalecimento do comércio interno.

O ABSOLUTISMO:

Conhecido também como Antigo Regime, o Absolutismo foi um sistema político e administrativo que prevaleceu nos países da Europa.. No final da Idade Média, ocorreu uma forte centralização política nas mãos dos reis. A burguesia comercial ajudou muito neste processo, pois interessava a ela um governo forte e capaz de organizar a economia e o comércio através da proteção das mercadorias nacionais e da criação de uma meda comum. A burguesia forneceu apoio político e financeiro aos reis, que em troca, criaram um sistema administrativo eficiente, unificando moedas e impostos e melhorando a segurança dentro de seus reinos. Nesta época, o rei concentrava praticamente todos os poderes. O clero e a nobreza apoiaram o rei no processo de centralização como forma de manter-se no poder diante da crise do sistema feudal. Para tal, o rei passou a adotar poderes quase absolutos, ganhando o título de representante de Deus na Terra através do direito divino concedido pela Igreja.
O rei criava leis sem autorização ou aprovação política da sociedade, além de impostos, taxas e obrigações de acordo com seus interesses econômicos. Agia em assuntos religiosos, chegando, até mesmo, a controlar o clero em algumas regiões. Todos os luxos e gastos da corte eram mantidos pelos impostos e taxas pagos, principalmente, pela população mais pobre, que era submissa diante de uma sociedade composta por hierarquias e sem mobilidade social. Os reis usavam a força e a violência dos exércitos para reprimir qualquer movimento contrário aos interesses ou leis definidas pelos monarcas absolutistas.


O MERCANTILISMO.

O Mercantilismo tem como característica principal a intervenção do Estado na economia para ampliar a riqueza nacional, o que determinava um acumulo de riquezas muito grande ao rei absolutista. Para obter riquezas o Estado implementava algumas medidas, tais como:
1) Metalismo:
 Busca por ouro e prata. O acumulo de metais precisos trazia a riqueza imediata ao Estado.
2) Industrialização:
O rei estimulava o desenvolvimento de indústrias em seus territórios. Como o produto industrializado era mais caro do que matérias-primas ou gêneros agrícolas exportar manufaturas era certeza de bons lucros.
3) Protecionismo Alfandegário:
Os reis criavam impostos e taxas para evitar ao máximo a entrada de produtos vindos do exterior. Era uma forma de estimular a indústria nacional e também evitar a saída de moedas para outros países.
4) Pacto Colonial:
As colônias européias deveriam fazer comércio apenas com suas metrópoles. Era uma garantia de vender caro e comprar barato, obtendo ainda produtos não encontrados na Europa.
5) Balança Comercial Favorável:
O esforço era para exportar mais do que importar, desta forma entraria mais moedas do que sairia, deixando o país em boa situação financeira.
6) Monopólio:
Controle do monarca absolutista sob todas as relações econômicas estabelecidas no Estado.
7) Expansão Marítima:
Busca de novas rotas comerciais pelo oceano Atlântico com o objetivo de chegar à Índia para dominar o comercio de especiarias, além do desejo de dominar novas terras, e achar ouro e prata.

sexta-feira, 25 de março de 2016

4ª Aula de Sociologia 1º Ano Ens. Médio

SOCIOLOGIA 1º ANOS: TRABALHO E SOCIEDADE

Trabalho e sociedade
As primeiras tentativas de explicar a vida social foram baseadas a partir dos estudos sobre o que hoje conhecemos pelo nome de Estado. Os filósofos Platão e Aristóteles preocuparam-se primeiramente com a questão da organização política da polis grega e só secundariamente a sociedade. Foi somente na Europa burguesa da idade moderna que a sociedade passou a ser objeto de estudo e reflexão. A partir de então, a sociedade começou a ser vista como uma totalidade, da qual o Estado é apenas uma parte.
No século XIX, o filósofo Karl Marx ressaltava que as condições materiais de existência são fundamentais na formação e existência de qualquer sociedade. Segundo Marx, a necessidade de alimentar-se e garantir a sobrevivência estão acima de qualquer outra atividade humana, seja ela intelectual, cultural, religiosa, etc. Dessa forma, dizia ele, "o modo de produção da vida material condiciona o processo, em geral, da vida social, política e espiritual'.
Para o sociólogo Max Weber, o protestantismo calvinista mudou radicalmente a visão sobre o trabalho. Com o calvinismo, o trabalho deixa de ser visto como maldição para ser encarado como uma oportunidade de enriquecimento. Essa nova visão foi fundamental para o surgimento e expansão da sociedade burguesa.
Bens e serviços: Quando compramos alguma mercadoria, estamos adquirindo bens. Em contrapartida, quando pagamos a passagem de ônibus ou uma consulta médica, estamos comprando serviços.
Bens são todas as coisas materiais colhidas na natureza ou produzidas para satisfazer necessidades humanas. Serviços são as atividades econômicas voltadas para a satisfação de necessidades e que não estão relacionadas diretamente à produção de bens. Um vendedor de sapatos presta o serviço de fazer chegar ao consumidor o produto do fabricante, ao mesmo tempo em que o par de sapatos que compramos é um bem. Um médico, ao cuidar de um paciente, também está prestando um serviço. Em qualquer atividade econômica, bens e serviços estão interligados. Uns dependem dos outros para que o sistema econômico funcione. Bens e serviços resultam da transformação de recursos da natureza em objetos úteis à vida humana. E isso só ocorre por meio do trabalho nos processos de produção.
Produção, trabalho e consumo: Com nosso trabalho, somos capazes de produzir bens e realizar serviços, entretanto, um indivíduo isolado não é capaz de produzir tudo aquilo de que precisa, ou seja, somos "obrigados" a viver em sociedade, mais por necessidade do que por desejo. Coletivamente, as pessoas participam da vida econômica, tendo como principais atividades a produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços. Enquanto trabalham, os operários estão atuando na produção. Como compradores de bens e serviços, participam da distribuição. Quando consomem bens e serviços, estão participando como consumidores.
Evidentemente, para que algum bem ou serviço seja oferecido no mercado, é necessário primeiro que seja produzido. Exemplo: a fabricação de um móvel: a árvore (matéria bruta) é derrubada e serrada em grandes pranchas (matéria-prima), que é transformada em bens mesas, cadeiras, etc. (bens ou mercadorias), através dos trabalhadores que utilizam ferramentas e equipamentos. Finalmente, esses bens são enviados à loja, que prestará o serviço de vendê-los ao consumidor.
Vamos considerar outro exemplo. Em seu trabalho, a costureira transforma um tecido (obtido de uma matéria prima vegetal ou artificial) em uma roupa, utilizando energia elétrica, máquina, linhas, botões, colchetes, tesouras e agulhas. Além disso, a costureira teve que primeiramente aprender técnicas de costura. Da lavoura do algodão ao último botão pregado na roupa, houve trabalho humano (físico e mental). Podemos dizer, portanto, que o principal fator do processo de produção é o trabalho. O processo de produção é formado por três componentes principais associados: trabalho, matéria-prima e instrumentos de produção.
O trabalho humano: Toda atividade humana que resulte em bens ou serviços é considerada trabalho. É trabalho, tanto a atividade braçal do operário quanto a intelectual do engenheiro que projeta, como a do administrador que gerencia. É trabalho também a atividade do pintor, do cantor, do ator, do músico, etc. Todo trabalho resulta da combinação de dois tipos de atividade: manual e intelectual. O que varia é a proporção com que esses dois aspectos entram no processo de produção. O trabalho de um operário é mais manual do que intelectual; em alguns casos, quase exclusivamente manual. Apesar disso, exige certo esforço mental.
Já o trabalho de um engenheiro é mais intelectual por ser necessário os cálculos para projetar uma ponte, por exemplo. Entretanto, sua atividade tem um aspecto manual, seja no manuseio dos instrumentos de trabalho, seja na passagem da concepção do projeto para o papel. Podemos concluir então que não existe trabalho exclusivamente manual ou exclusivamente intelectual, mas, sim, predominantemente manual ou predominantemente intelectual.
O valor da qualificação: O trabalho pode ser classificado conforme o grau de capacitação exigido do profissional. Um trabalho considerado qualificado exige certo grau de aprendizagem e conhecimento técnico. Exemplos: mecânico, eletricista, engenheiro, médico, etc.; o trabalho não qualificado dispensa praticamente qualquer tipo de aprendizagem. Exemplos: ajudante de pedreiro, faxineiro, etc. Essa diferenciação atinge diretamente a vida das pessoas a partir da maior remuneração a quem possui mais qualificação, responsabilidade ou capacitação.
Meios de produção: Inclui os instrumentos de produção, matéria prima e recursos naturais.
Instrumentos de produção são todos os objetos que direta ou indiretamente nos permitem transformar matéria-prima em um bem final. Exemplos: ferramentas, equipamentos, máquinas, o local de trabalho, a iluminação, a ventilação, as instalações necessárias à atividade produtiva.
-Matéria-prima: São os componentes iniciais do produto que no processo de produção são transformados até adquirirem a forma de produto final. No exemplo da costureira, suas matérias-primas são o tecido, a linha, os botões, os colchetes. Por sua vez, a produção desses componentes iniciais tem como matéria-prima objetos extraídos da natureza: o algodão, a seda, o metal, etc. De fato, antes de serem transformados em matéria-prima, tais componentes encontram-se na natureza sob a forma de recursos naturais.
-Recursos naturais: Para produzir, o ser humano necessita dos recursos naturais (solo, água, minerais, vegetais, etc.).
O uso de recursos naturais muda com tempo. Exemplo: as quedas-d'água, que eram usadas anteriormente para mover moinhos, hoje são usadas também para mover turbinas que produzem eletricidade. Da mesma maneira ocorre com o uso da força dos ventos.
Forças produtivas: É todo processo produtivo que combina o trabalho com os meios de produção. Esses dois componentes estão presentes tanto na produção artesanal de uma bordadeira quanto nas atividades de uma grande indústria moderna. Ao conjunto dos meios de produção somados ao trabalho humano damos o nome de forças produtivas. Assim:
Forças produtivas= meios de produção + trabalho humano
As forças produtivas alteram-se ao longo da História.
Até meados do século XVIII, a produção era feita com o uso de instrumentos simples, acionados pela força humana, tração animal, força da água ou dos ventos.
A partir da revolução industrial, novas máquinas e instrumentos de produção foram desenvolvidos; novas fontes de energia passaram a ser usadas. Exemplos:  carvão mineral, eletricidade, petróleo, gás e energia nuclear. Alteraram-se os meios de produção e também as técnicas de trabalho, gerando mudanças nas forças produtivas.
Relações de produção são as formas pelas quais os indivíduos desenvolvem suas relações de trabalho no processo de produção e reprodução da vida material. Essas relações mudam de acordo com o avanço da tecnologia, da política, economia, etc.

EXERCÍCIOS:
1) As análises históricas de Karl Marx exerceram e exercem grande influência nas ciências humanas e sociais. Sobre a concepção marxista de sociedade e trabalho, assinale a alternativa correta:
a) A concepção da luta de classes como motor da História foi atribuída indevidamente ao marxismo, para o qual as transformações históricas decorrem apenas das ações dos indivíduos.
b) O marxismo defende, teoricamente, uma postura neutra do historiador diante da sociedade e do conhecimento produzido sobre a mesma e, assim, nega validade prática a sua própria concepção.
c) As sociedades, para Marx, não podem ser compreendidas sem um estudo pormenorizado de sua base econômica, e esse entendimento significa a análise da sua organização material para a produção da sobrevivência humana.
d) Os marxistas são ardorosos defensores do fim da história, pois essa tese representa a culminância do desenvolvimento humano, com a glorificação da sociedade de mercado e da democracia liberal.

02) Em relação à visão calvinista a respeito do trabalho, marque (V) para a alternativa verdadeira e (F) para a falsa
(   ) Para os calvinistas, o trabalho deixou de ser considerado uma maldição herdada de Adão.
(    ) A visão calvinista e a visão católica sobre o trabalho eram, de maneira geral, iguais, pois não viam o trabalho como uma oportunidade para melhorar de vida, muito menos como um meio para enriquecimento.
(    ) A expansão da burguesia e do capitalismo foi fruto da nova visão sobre o trabalho, herdade do calvinismo.
( ) A valorização do trabalho contribuiu para uma nova cultura, favorável ao surgimento do capitalismo.
03) Em relação aos bens e serviços, assinale a alternativa correta:
a) Quando compramos alguma mercadoria, estamos prestando um serviço.
b) Quando pagamos a consulta a um médico, estamos comprando um bem ou uma mercadoria.
c) Quando adquirimos um par de sapatos, adquirimos um bem.
d) Bens e serviços são atividades distintas e não estão interligadas.

4) Acerca da dinâmica do processo de produção, trabalho e consumo, asseguramos que:
a) não se tem por meta a produção de bens e serviços.
b) se baseia na negação da vida em sociedade.
c) O trabalho é fundamental para que haja produção, os quais dependem das necessidades e da demanda pelo consumo.
d) os instrumentos de produção e a matéria-prima não são importantes nesse processo.
e) existe a necessidade exclusiva de trabalho qualificado e técnico.

5) Os meios de se produzir algum bem é formado por três componentes principais associados. Quais são esses três componentes?
a) Trabalho, matéria-prima e exploração do patrão.
b) Instrumentos de produção, matéria prima e recursos naturais.
c) Matéria-prima, trabalho e máquinas.
d) Trabalho, recursos naturais e matéria-prima.
e) Máquinas, ferramentas e matéria prima.

6) A soma entre meios de produção mais trabalho humano tem como resultado?
a) Forças produtivas.
b) A força de produção.
c) O sistema capitalista.
d) O modo de produção.
e) O sistema econômico.

7) Os componentes iniciais do produto que no processo de produção são transformados até adquirirem a forma de produto final são chamados de:
a) Máquinas e ferramentas.
b) Forças de produção.
c) Matéria prima.
d) Recursos naturais
e) Bens de produção.

8) O trabalho pode ser dividido em trabalho qualificado e trabalho não qualificado. Qual é a diferença fundamental entre o trabalho qualificado e o trabalho não qualificado? 
a) O trabalho qualificado é exercido por qualquer pessoa, já o trabalho não qualificado exige uma especialização.
b) Não existe diferença entre o trabalho qualificado e o trabalho não qualificado.
c) O trabalho qualificado exige uma especialização e conhecimento técnico e o trabalho não qualificado não exige tal formação.
d) Entre o trabalho qualificado e o trabalho não qualificado só exista a diferença salarial.
e) O trabalho qualificado é sempre um trabalho intelectual e o trabalho não qualificado é sempre manual.

9) O trabalho humano pode ser sociologicamente definido como:
a) o trabalho realizado em qualquer processo independente da finalidade.
b) o trabalho que exprime uma tendência de personalidade.
c) o trabalho pelo qual o homem transforma a natureza, transformando a si próprio e à sociedade em que vive.
d) o fim último das sociedades industriais.
e) qualquer atividade, independentemente de sua finalidade.

10) Podemos dizer que o trabalho sob o aspecto de sua necessidade:
a) gerou o capital financeiro.
b) objetiva a produção de valor de troca, qualquer que seja a sociedade considerada.
c) se revela um gerador de utilidades (valores de uso), bem como de mercadorias.
d) exigiu a introdução das práticas gerenciais na indústria.

e) objetiva a produção de valor de uso, qualquer que seja a sociedade considerada.
4ª Aula de História 2º Ano Ensino Médio

A CONTRIBUIÇÃO DO NEGRO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA - TEXTO E QUESTIONÁRIO

O processo da colonização brasileira traz consigo traços culturais diferentes trazidos pelos europeus, índios e africanos, os quais contribuíram nos aspectos econômicos, sociais e políticos para a formação da identidade nacional. O negro começou a ser introduzido no Brasil no final do século XVI, com o objetivo de substituir a mão-de-obra indígena, passando a fazer parte como o principal construtor da grandeza econômica da colônia e um dos principais formadores da nossa sociedade. Falar sobre a contribuição do negro para a formação da sociedade brasileira é falar daqueles que plantaram cana-de-açúcar, garimparam o ouro, construíram casas, casarões, igrejas, fortes, sobrados, cidades inteiras, num mundo feito para brancos, os quais os viam apenas como animais ou objetos, ferramentas sem nome, sem memória, sem história e sem mérito algum pelo que realizaram na construção do país e da sociedade, que cada vez, mas os influenciava pela cultura, religião e até mesmo pela intensa mestiçagem, tanto com o branco como com o índio. O negro em geral não era tido como gente, e por isso não existia em termos de ter identidade, cultura e história. O negro, que outrora na África era príncipe ou rei de uma grande tribo, agora tinha seu nome, sua crença, sua dignidade e sua história apagada pelo europeu que o levou ao cativeiro.

O NEGRO NA ÁFRICA: O negro não veio de um continente desorganizado, sem cultura, sem tradição e sem passado. Essa visão distorcida da África era do europeu, ignorante de uma realidade diferente da sua. Para o europeu, o negro era um ser inferior e que só servia como escravo. A África tinha impérios e reinos, além de diversas confederações tribais e cidades-pousadas com seus ricos mercados no caminho do ouro, das especiarias e do marfim. Seus mercados eram ricos em variedades de coisas como o sal e até escravos (como os europeus também). Em toda a África havia povos guerreiros, pescadores, caçadores, pastores, comerciantes e agricultores, ou seja, não era um continente desorganizado como afirmava o europeu. A religiosidade africana é diversificada (animismo, islamismo, cristianismo, etc.), assim como os idiomas e etnias. Havia rivalidades entre diversos povos e etnias africanos, assim como havia também entre os europeus.  Quem capturava os negros na África eram em sua maioria os próprios negros, inimigos de reinos e tribos rivais, em troca de mercadorias dos traficantes (armas, pólvora, fumo, cachaça, cavalos, etc.). Isso nem nada difere dos brancos, os quais também escravizaram e comercializaram brancos, na antiga Grécia e Roma).

A VINDA PARA O BRASIL: Geralmente, os negros condenados a serem escravos eram os capturados através de guerras (de etnias inimigas) ou caçadas, os quais eram trocados por aguardente e tabaco. Os maltratos se iniciavam já no navio negreiro ou tumbeiro, onde os escravos vinham aglutinados e presos uns aos outros nos porões. Ali mesmo faziam suas necessidades e quase não se alimentavam. Tais condições precárias de higiene e alimentação geravam doenças e mortes. Em torno de trinta e cinco dias durava a viagem de Angola a Pernambuco, quarenta até a Bahia, e cinquenta até o Rio de Janeiro. A mortalidade era alta a bordo (em torno de 20% dos escravos morriam durante essa longa viagem). A viagem nesses navios era certeza de morte para boa parte dos escravizados, mantidos amontoados como animais ou objetos, acorrentados. Os que adoeciam eram muitas vezes jogados no mar para que não dessem trabalho ou contaminassem os demais.

O NEGRO COMO MERCADORIA: O tráfico negreiro tornou-se um grande negócio, algo extremamente lucrativo, o que fazia com que os comerciantes portugueses não parassem seus navios para os devidos reparos, e tornou-se comum navios com problemas de calafetagem, imundície, mastros desgastados e outros problemas, alguns dos quais poderiam resultar em naufrágio.  Tudo em nome do lucro a qualquer custo. Os navios eram bem equipados para o transporte, mas os traficantes, em busca de mais lucros, chegavam a aumentar a quantidade de escravos em prejuízo da quantidade de alimentos e até de água a bordo, pondo em risco a segurança de todos. Os negros viajavam empilhados sem espaço até mesmo para suas necessidades naturais. Os navios brasileiros eram menores do que os holandeses, mas carregavam mais negros: enquanto um holandês transportava 300 negros em uma caravela, um brasileiro podia chegar a transportar 500. Nessas condições, a taxa de mortalidade era elevada chegando a 57% o número de mortos em uma viagem. Quando os escravos chegavam ao Brasil, passavam pelo período de engorda para melhorar a aparência e obter melhor preço no mercado, já que chegavam magros e debilitados. Existiam duas formas de venda dos escravos: uma era a venda privada e a outra eram leilões públicos. Os leilões que geralmente aconteciam nos portos, eram feitos com escravos recém-chegados, quinze dias após o desembarque. Começava-se com os mais difíceis de vender (doentes, com problemas de dentição, ferimentos, etc.), finalizando com os mais saudáveis.

O NEGRO, MÃO-DE OBRA ESSENCIAL: Para o Brasil a importação de africanos fez-se atendendo-se a diversas necessidades e interesses, incluindo a falta de mulheres brancas, o serviço doméstico e até as necessidades de técnicos em trabalhos de metal, durante o ciclo da mineração. O Nordeste e o Sudeste da colônia fundaram sua riqueza sobre a produção maciça de alguns artigos primários de exportação, dentre as quais a cana-de-açúcar, que foi por muito tempo o produto rei, sobretudo nas áreas litorâneas. O negro foi o responsável pelo desenvolvimento do Brasil colonial. A terra de um engenho não valia grande coisa sem a presença da mão de obra negra necessária para todo o processo produtivo do açúcar. Durante o ciclo da mineração, o escravo também era a peça fundamental para a produção do ouro. No sul do país, a produção das charqueadas também foi baseada na mão de obra escrava. Escravos dos campos, das minas e dos sertões viverão de maneiras diferentes suas relações com a sociedade que os obriga ao trabalho forçado. 

CONSTRUINDO A SOCIEDADE: “... Todo brasileiro, mesmo o alvo de cabelo louro, traz na alma e no corpo - a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, em Minas Gerais, principalmente do negro. A influência direta, ou vaga e remota, do africano. Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo, na música, no andar, na fala, no canto de ninar, em tudo que é expressão sincera de vida. Trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava que embalou, que deu de mamar, de come. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de homem. Do moleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo. Já houve quem insinuasse a possibilidade de se desenvolver das relações íntimas da criança branca com a ama-de-leite negra muito do pendor sexual que se nota pelas mulheres negras nos filhos de pais escravocratas. A importância psíquica do ato de mamar, dos seus efeitos sobre a criança, é na verdade considerada enorme pelos psicólogos modernos; e talvez tenha alguma razão para supor esses efeitos de grande significação no caso de brancos criados por amas negras. É verdade que as condições sociais do desenvolvimento do menino nos antigos engenhos de açúcar do Brasil, como nas plantações da Virgínia e das Carolinas - do menino sempre rodeado de negra ou mulata fácil - talvez expliquem por si sós, aquela predileção. Conhecem-se casos no Brasil não só de predileção, mas de exclusivismo: homens brancos que só gozam com negra. De rapaz de importante família rural de Pernambuco conta a tradição que foi impossível aos pais promoverem-lhe o casamento com primas ou outras moças brancas de famílias igualmente ilustres. Só queria saber de molecas. Outro caso, de um jovem de conhecida família escravocrata do Sul: este para excitar-se diante da noiva branca precisou, nas primeiras noites de casado, de levar para a alcova a camisa úmida de suor impregnada de bodum da escrava negra sua amante. Casos de exclusivismo ou fixação. Mórbidos, portanto; mas através dos quais se sente a sombra do escravo negro sobre a vida sexual e de família do brasileiro...”
“...Longe de terem sido considerados apenas como animais de tração e operários de enxada, os negros desempenharam uma função civilizadora. Foram a mão direita da formação agrária brasileira; os índios, e sob certo ponto de vista, os portugueses foram a mão esquerda. E não somente na formação agrária. A mineração no Brasil foi aprendida dos africanos, ou seja, os negros ensinaram aos brancos as técnicas de garimpagem, trazidas da África. Max Schmidt destaca dois aspectos da colonização africana que deixam entrever superioridade técnica do negro sobre o indígena e até sobre o branco: o trabalho de metais e a criação de gado. Poderia acrescentar-se um terceiro: a culinária, que no Brasil enriqueceu-se e refinou-se com a contribuição africana...” (Freyre, Gilberto. Casa Grande e Senzala).

ORIGENS E RESISTÊNCIA: Como povo escravizado, o negro jamais deixou de lutar tanto para libertar-se da escravidão como para manter sua identidade cultural, que significou uma luta diária pela manutenção de seus valores culturais reelaborando-os para não perder tudo.
Os povos africanos trazidos para o Brasil são originários de diversas regiões da África:
-África Ocidental - Yorubás (Nagô, Ketu, Egbá), Jejes (Ewê, Fon), Fanti-Ashanti (conhecidos como Mina), povos islamizados (Peuhls, Mandingas e Haussás);
-África Central - Bantos: Bakongo, Mbundo, Ovimbundo, Bawoyo, Wili (conhecidos como Angolas, Congos, Benguelas, Cabindas e Loangos);
-Sudeste da África Oriental - Tongas e Changanas entre outros (conhecidos como Moçambiques).
Estes povos trouxeram consigo seus costumes, crenças, línguas (hoje de uso litúrgico como o yorubá, o bakongo e o kimbundo), léxicos incorporados no nosso falar (línguas bantas), danças, ritmos, instrumentos musicais, culinária bem como seus deuses e seus ritos de culto. Mesmo dispersos no território brasileiro e, por vezes misturados para não se rebelarem (fazendo jus ao ditado "dividir para reinar"), retiveram uma parte de sua cultura para conservar sua identidade de grupo dominado. Por vezes, esta identidade constituiu um fator importante para resistir à escravidão. É o exemplo dos quilombos que existiram no Brasil-colônia dos quais o mais célebre foi o Palmares comandado por Zumbi. O Quilombo era uma instituição política dos guerreiros jagas ou yagas da Angola, termo que designava tanto a casa sagrada onde se realizavam as cerimônias de iniciação, como o campo de guerra e mais tarde o acampamento de escravos fugidos.
Nem a submetidos, nem os castigos físicos, eram suficientes para garantir a obediência dos escravos. Com alguma frequência, os castigos considerados excessivos podiam resultar em atos de vingança por parte dos escravos, resultando na morte do feitor, do senhor ou de seus familiares. Os escravos reagiam de diferentes maneiras diante da opressão do sistema escravista. Da mesma forma que promoviam fugas e revoltas, aproveitavam a existência de pequenos espaços para a negociação. Espaços que eles próprios conquistaram ao mostrarem aos senhores a necessidade de terem certa autonomia para o bom funcionamento do sistema escravista.  Um destes espaços foi a criação de irmandades católicas de negros. As irmandades eram espaços permitidos dentro da legalidade nos quais o escravo podia manifestar-se, fora de suas relações de trabalho. Eram, assim, os únicos canais possíveis de organização dos escravos dentro do sistema colonial. Desempenhavam também a função de auxílio, em caso de doença e/ou morte, e proteção aos seus membros. Em certo sentido, era através da religião católica que o escravo encontrava algum lenitivo para sua situação. Tudo indica que a permissão para a criação das irmandades de negros tenha sido dada com o intuito de obter melhores resultados na cristianização dos escravos, já que, para muitos senhores, as manifestações de alegria de fundo religioso serviam para tentar evitar as rebeliões, fugas e violência. Ainda hoje subsiste uma visão bastante equivocada de como era exercido o domínio senhorial. Frequentemente, quando se fala em escravos tem-se em mente a imagem de uma pessoa de cor negra acorrentada a um tronco. Entretanto, as pesquisas têm mostrado que não eram raras as ocorrências de escravos que saíam à noite e aos domingos, voltando ao trabalho no dia seguinte. Era comum que negros desempenhassem funções que necessitavam de uma maior liberdade de ir e vir, como os escravizados que trabalhavam no transporte e venda de alimentos ou que trabalhavam embarcados. Isso sem falar em uma modalidade de exploração do trabalho escravo que consistia no aluguel do escravizado para terceiros, para os quais desempenhavam diversas atividades. Estes escravos eram chamados de “negros de ganho” e eram bastante comuns em ambientes urbanos. Os “negros de ganho” trabalhavam para seus senhores como vendedores, comercializando hortaliças, comidas prontas, peixes, fazendas e outros gêneros. Isso permitiu que muitos escravos conseguissem juntar certa renda para comprar sua carta de alforria.

A CULTURA: A contribuição negra vai além da povoação e da prosperidade econômica através do seu trabalho. Vindos de diversas partes da África, os negros trouxeram suas matrizes culturais e transformaram não apenas sua religião, mas todas as suas raízes em uma cultura de resistência social. A influência na língua portuguesa veio principalmente do iorubá, notada principalmente no vocabulário. (palavras como caçula, cafuné, moleque, maxixe e samba, entre centenas de outros vocábulos). O negro deu seu ritmo à música brasileira. Por isso se diz que a música popular brasileira nasceu na África. A raiz negra está em tudo: no samba, no pagode, no afoxé, no carimbó, maxixe, coco, maracatu, baião, forró, embolada, etc. Além dos ritmos, os africanos trouxeram também instrumentos, como o berimbau, agogô, maracá, alfaia, atabaques, etc. Nos esportes, o negro criou a capoeira, considerada desde 2008 como Patrimônio Cultural do Brasil e um dos poucos esportes genuinamente brasileiros.

A RELIGIOSIDADE: As diversas etnias africanas possuíam crenças diversas que se modificaram no espaço colonial. De forma geral, o contato entre nações africanas diferentes empreendeu a troca e a difusão de um grande número de divindades. A Igreja Católica se colocava em um delicado dilema ao representar a religião oficial do espaço colonial. Em algumas situações, os clérigos e os próprios donos de escravos tentavam reprimir as manifestações religiosas. Em outras situações, preferiam fazer vista grossa aos cantos, batuques, danças e rezas ocorridas nas senzalas. Do ponto de vista da elite colonial, a liberação das crenças religiosas africanas era positiva, pois alimentava antigas rivalidades contra outras etnias também aprisionadas, o que, em tese, dificultaria a ideia e a organização de fugas, revoltas e a formação de quilombos e levantes nas fazendas. Aparentemente, a participação dos negros nos rituais católicos poderia representar o ato de conversão; Contudo, muitos escravos, mesmo se reconhecendo católicos, não abandonaram a fé em sua religiosidade africana. Ao longo do tempo, a coexistência das crendices abriu campo para que novas experiências religiosas – dotadas de elementos africanos, cristãos e indígenas – fossem estruturadas no Brasil. Aos poucos nascem e se desenvolvem estruturas religiosas novas, mesclada de elementos africanos e europeus. Alguns senhores permitiram que os negros dançassem e cantassem aos sábados, domingos ou dias de festas. Já nas cidades, os batuques eram proibidos. Temia-se que os agrupamentos de escravos degenerassem em movimentos subversivos. As únicas festas autorizadas eram as de cunho cristão: a de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos pretos, as congadas e outras do mesmo gênero.


QUESTIONÁRIO:
1 – Por que os portugueses introduziram o trabalho escravo no Brasil?
2 – A África era um continente sem cultura? Analise e comente.
3 – Em termos políticos, como era a África?
4 – Por que, em geral, eram negros que capturavam outros negros?
5 – O tráfico de escravos era economicamente vantajoso? Comente.
6 – Comente a respeito do transporte e do comércio de escravos
7 – Comente a respeito das diversas finalidades da mão de obra escrava.
8 – Comente a respeito do texto de Casa Grande e Senzala (em itálico)
9 – Houve resistência por parte do negro contra a opressão escravista? Comente.
10 – Explique o surgimento das irmandades católicas negras
11 – Explique o que era o negro de ganho.
12 – Comente a respeito da influência da cultura negra
13 – Comente a respeito da influência da religiosidade negra

14 – Comente a respeito da importância do negro na formação da sociedade brasileira.